Ricardo “Brad” Correia é um bom amigo que está vivendo uma rica experiência de vida. Ele foi um dos profissionais brasileiros que optaram por viver fora do Brasil. Não para uma aventura de trabalho informal, do tipo “tentar a vida lá fora”, como tantas que conhecemos, mas uma experiência de entrada num país estrangeiro pela porta da frente, se aplicando para uma boa posição profissional numa boa empresa.
O resultado desse seu interesse resultou na conquista de uma posição de liderança na agência Cheil, em Toronto, Canadá. Desde janeiro deste ano, Ricardo assumiu a função de Associate Creative Director da Cheil Canadá e para lá se mudou com mulher e duas filhas, em pleno inverno canadense. Satisfeito com a sua opção de vida, Brad me estimulou a escrever sobre essa oportunidade de brasileiros trabalharem fora do país. Na verdade, este texto está sendo feito a quatro mãos, já que é dele a maior parte das informações – e a ideia do tema.
Ele considera o tema mais do que oportuno, já que estamos vivendo um momento complicado no Brasil e um consequente interesse de muitos criativos sobre como se recolocar no exterior. Mas, segundo ele, não é só a tal crise econômica que deve estimular profissionais brasileiros a saírem do país. É também uma opção por uma busca de qualidade de vida – transporte público, saúde, educação e expediente justo, sem horas extras. É por uma carreira internacional – ter a chance de criar campanhas globais. É a oportunidade de se tornar fluente numa segunda língua, um benefício não só dele, mas também de toda a família.
Mas o que mais motivou Ricardo foi a busca de viver bem o presente. “Não quero pensar que um dia irei me aposentar e ver que vivi para o trabalho. Ser criativo no Brasil é isso. É não ter vida. Vejo muitos jovens criativos começarem a buscar outros meios de se realizarem profissionalmente fora das agências. Mas, se amam o ofício, estudam a possibilidade de realizá-lo fora do país”, diz ele. E completa fazendo um comparativo entre o seu trabalho atual e a sua experiência no Brasil:
“As agências no Brasil ainda não encontraram um formato onde se trabalha o suficiente e se ganha Leões ao mesmo tempo. Aqui no exterior as agências conseguem equalizar muito bem isso. Pude observar que a forma como os americanos, canadenses e europeus apresentam seus projetos aos clientes é bem diferente da que os brasileiros fazem. Não há a necessidade de apresentar uma campanha inteira numa primeira apresentação, quando o cliente está vendo o conceito pela primeira vez. Eles focam na ideia por um bom tempo e muitas vezes apresentam a ideia em rough. A dupla criativa foca seu tempo totalmente em lapidar ideias. Chamo isso de fator cultural. É raro ver isso acontecer no Brasil. Os clientes querem e exigem ver tudo na primeira apresentação e, infelizmente, ensinam aqueles que estão começando a fazer o mesmo.”
Outro aspecto que ele salienta é o respeito ao profissional mais experiente, mais vivido. Ele diz estar convivendo com quarentões e cinquentões numa boa, sem observar um mínimo de preconceito. Não se delega decisões importantes a juniores por lá. “Isso é inconcebível aqui. Experiência é o que vale”, diz ele. Aqui mesmo, nesta coluna, tenho enfatizado a timidez de brasileiros quanto a uma experiência internacional. Não só de emprego, como estamos focando neste texto, mas de negócios, de uma maneira geral. Há uma resistência em “se aventurar” fora do Brasil. Talvez por bloqueios de língua ou por considerar nosso país uma opção mais amigável ou ainda por comodismo. O fato é que estamos observando uma queda vertiginosa nos níveis de confiança e otimismo no Brasil. Há muito, nós permanecíamos no topo do ranking de otimistas e confiantes com o futuro. O Brasil de hoje vem corroendo a esperança de muitos e a opção de viver fora ganha força.
E a atitude bacana do Ricardo em compartilhar sua experiência pode ajudar. Aí vão nossas dicas para quem pensa em trabalhar fora:
1 – Domine mais um idioma (inglês, principalmente); 2 – Acredite nas ferramentas de busca por posições online (LinkedIn funciona bem!); 3 – Dê visibilidade a seu trabalho (faça posts em inglês no LinkedIn, por exemplo); 4 – Mantenha atualizado seu portfólio também em inglês; 5 – Faça contatos com headhunters/recruiters; 6 – Busque outros mercados fora de NY e Londres; e 7 – Procure indicações de quem já está fora. É isso aí! Que tal uma boa experiência internacional? O mundo está pronto para talentos “made in Brazil”.
*Presidente MPI e VP da Ampro