Nada é mais paralisante do que a incerteza. E o momento que estamos vivendo está carregado de nuvens de incerteza. Como seria bom ter uma bola de cristal agora… Oh! Bola mágica de cristal, o Brasil conseguirá vacinar todos seus habitantes ainda no primeiro semestre? E as vacinas serão eficazes para domar a pandemia e seus vírus mutantes?
Diga-me, bola de cristal, a economia brasileira vai se recuperar e gerar confiança em empresários e ampliar o consumo das famílias? Dias atrás um diretor de uma grande empresa dirigiu a seguinte pergunta – oficialmente – à Ampro: “Temos nossa convenção de vendas agendada para setembro próximo. Prevemos um evento presencial. Devemos manter?”
O que eu respondo a esse diretor? Só poderá ser uma resposta cheia de “ses”. Se o Brasil conseguir finalmente garantir vacinas suficientes, seja via importação de produto acabado, seja de insumos para produção local; Se a vacinação não tiver detratores ou não for atrapalhada por políticas equivocadas;
Se as vacinas tiverem a eficácia prevista; Se, como consequência do programa de imunização, tivermos queda consistente do número de infectados e mortos; Se todos esses “ses” forem respondidos afirmativamente, pode manter o seu evento, sim.
A resposta certamente não será satisfatória. Poderá até ser entendida como uma indelicadeza, mas há alguém em sã consciência que possa responder outra coisa senão isso? Se você conhece esse alguém, por favor, me apresente. Quero conhecer sua superbola de cristal. Outra dúvida no ar é o tal do home office.
Hoje, está todo mundo em regime de teletrabalho, mas e quando o programa de imunização terminar? Todos voltarão à condição anterior? Obrigaremos nossos funcionários a apresentar comprovante de vacina? Devemos alterar drasticamente a estrutura física dos nossos escritórios para comportar menos gente?
Ou talvez nem sequer ter mais escritórios físicos e permanecer para sempre em regime de home office? Oh! Bola de cristal, como é difícil planejar nesse mar de incertezas… Quem planeja, sabe que há variáveis controláveis e as incontroláveis. Estas últimas são sempre o maior problema. Se bem que já estamos vacinados por surpresas desagradáveis, planos econômicos furados, políticas públicas equivocadas…
Quem é mais “rodado”, como eu, já terá superado o Plano Cruzado, quando a nossa moeda mudou de cruzeiro para cruzado e houve congelamento de preços, na época de Sarney na Presidência (1986); terá convivido também com o desastrado Plano Collor, na década seguinte, com confisco de poupança e outras barbaridades.
Mas até que teve um refresco com o Plano Real, que estabeleceu um novo nome para nossa moeda – real – e conseguiu estabilizar a economia e domar a hiperinflação (a inflação de um único dia chegava a superar a de um ano de hoje).
Mas houve ainda a maxidesvalorização do real frente ao dólar… Ou seja: perrengue não faltou a quem está no mercado há mais de três décadas. Mas fomos criando o tal jeitinho brasileiro, refletido numa resiliência à prova dos múltiplos planos malsucedidos.
Executivos brasileiros até ganharam a fama internacional de flexíveis e eficientes em momentos de instabilidade. Mas agora é diferente. Primeiro, porque a superação da pandemia não depende necessariamente da gente.
Estamos à mercê de políticas públicas, que, convenhamos, foram pautadas por uma bateção de cabeça absurda. Sem falar no negacionismo e na condução errática dos programas de prevenção e, agora, de vacinação.
Mas, voltando ao nosso tema, no fim de 2020, ainda sob um clima de total insegurança, fomos obrigados a traçar planos para 2021.
E agora, entrando no segundo mês do ano, em vez de as nuvens se dissiparem, o horizonte fica ainda mais carregado de incerteza, exigindo dotes mágicos pra enxergar minimamente o que pode estar à frente. Só mesmo com bola de cristal…