Alê Oliveira

Falta pouco menos de um ano para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mas as marcas estão se movimentando com mais velocidade. O Bradesco é um exemplo. O banco, que é patrocinador das Olimpíadas e das Paralimpíadas 2016, também vai apoiar o revezamento da tocha, que ocorre a partir de maio do ano que vem. Ao todo, serão 12 mil condutores do símbolo olímpico. Jorge Nasser, diretor de marketing do Bradesco, diz nesta entrevista que o evento será um dos mais emblemáticos para o esporte nacional. “Para nós, a tocha é uma forma de você resgatar o que existe de melhor no brasileiro, esse espírito de fé, de crença, de dias melhores, de histórias que a gente sabe que representam verdadeiramente o Brasil”, disse.

O Bradesco dará chance a todos os brasileiros de indicar pessoas para conduzir a tocha. Como surgiu essa ideia e como será feita a escolha?
É uma ação que ainda está em andamento, mas o mais legal dessa história é que a gente tem uma grande oportunidade. Quando eu falo em projeto olímpico, na realidade, é um projeto do esporte, uma plataforma muito maior que os Jogos Olímpicos. Eu acho que a palavra ‘patrocínio’ é bem o que a gente está fazendo, existe uma diferença básica entre o marketing do esporte, que é o patrocínio, e o branding, entre outras. E tem o marketing esportivo, no qual você consegue gerar um legado para as instituições, os atletas. Por meio disso, nós conseguimos, por exemplo, acompanhar resultados, acompanhar algumas gestões. Mas, dentro dessas propriedades, falando especificamente da Rio-2016, nós temos duas grandes propriedades: a utilização da marca Rio-2016 e o maior evento de fato dentro do Brasil, que é o revezamento da tocha por todo o Brasil. Vai ser um trabalho diferencial para todos os patrocinadores envolvidos. Ao todo, para esse evento especificamente, serão três patrocinadores apenas: o Bradesco, a Coca-Cola e a Nissan. E, dentro dessa realidade de Bradesco, nós temos uma visão muito clara, que é a oportunidade de mostrar exatamente o que o banco tem de ligação com o Brasil. Então, a tocha vai passar por 300 cidades no Brasil, por todas as capitais. Serão mais de 20 mil quilômetros, 12 mil condutores e o Bradesco vai ter o privilégio de fazer parte dessa história sabendo que, em cada cidade, terá uma agência Bradesco, um ponto de referência do banco. Isso é uma propriedade, uma valia muito grande para esta nossa jornada.

Mas o que esse revezamento representará de fato para essas pessoas que vão participar dele?
Quando a gente fala em revazamento da tocha ou em Jogos Olímpicos, é muito importante mostrar o que isso significa. É uma chama acendida na Grécia, que vai rodar o Brasil a partir de maio do ano que vem. Vai começar por Brasília. Essa chama tem uma representatividade de quase três mil anos, de quando começou essa história do fogo olímpico. Depois disso, você tem o revezamento, que começou em Berlim, em 1936. Para nós, a tocha é uma forma de você resgatar o que existe de melhor no brasileiro, esse espírito de fé, de crença, de dias melhores, de histórias que a gente sabe que representam verdadeiramente o Brasil. Eu acho que essa é a grande propriedade que você tem e, conforme o dia vai se aproximando, você vai entendendo que essa representatividade é maior ainda e vai além de qualquer coisa racional que você tente dizer. E, ao longo dessa jornada, o que a gente fez dentro desse revezamento é diferente. Ao contrário do que muitas empresas fazem, de a pessoa se inscrever, nós estamos convidando as pessoas para que elas possam indicar outras pessoas. Ou seja: começa por um gesto de generosidade de você enxergar nos outros valores que são importantes para você, para a comunidade, para o país. Então isso eu acho que é o mais poderoso nessa jornada de revezamento da tocha. E, dentro disso, você tem histórias maravilhosas, que são transformadoras. Nós já recebemos 5.200 histórias até agora. Você tem um manancial riquíssimo para coletar essas histórias. Infelizmente, não vamos conseguir eleger todas as histórias.

E como vai ser o processo de escolha das histórias?
Nós participamos do primeiro processo, que é selecionar histórias e o que para gente faz sentido, que representa os valores que falamos há pouco. Depois, nós vamos enviar para a Rio-2016, que será a responsável por fazer a seleção final, de acordo com o olhar deles. Então, o que é muito bacana nessa história é que você vai ver muitas trajetórias fantásticas. Temos a história, por exemplo, da Tatiana Solonca, que precisou emagrecer 30 quilos para ajudar uma criança que estava com um problema sério no fígado. E essa pessoa não tinha praticamente ligação com a criança. Isso é um gesto de amor, de dedicação, de solidariedade, de olhar pelo outro. É uma história que tem tudo a ver com o espírito do revezamento da tocha olímpica. Tem também a história de uma pessoa que monta um museu-barco para conseguir chegar às comunidades ribeirinhas para levar cultura. E você tem outras histórias interessantíssimas. Então, o que nos motiva com isso é que você vai ver é essa chama olímpica motivando as pessoas a mostrar o que têm de melhor. Nós tivemos, recentemente, um exemplo com a Copa do Mundo. Antes, o ‘não vai ter Copa’ trazia falas como ‘os estádios não vão ficar prontos’, ‘a infraestrutura urbana não vai ficar pronta’ e o ‘Brasil será campeão do mundo’. E o que aconteceu? O episódio da Alemanha, os estádios foram entregues, a infraestrutura ficou pronta. Mas se revelou outro aspecto: o calor, o carinho e a receptividade do brasileiro. Eu ouvi uma frase que resumiu bem isso: os brasileiros estão indo embora sem pressa. Isso é maravilhoso, é o que revela o espírito do brasileiro. São as pessoas que continuam acreditando num Brasil melhor, num amanhã melhor. E esse resgate é o que importa nessa trajetória.

O que o Bradesco espera, então, com esse revezamento?
Se o Bradesco puder emprestar a sua marca para revelar essas histórias, essa será a grande vitória com o revezamento da tocha olímpica. Dentro dessa jornada, o que a gente espera é poder transformar esse evento, que não é apenas do Rio de Janeiro, é um evento de todo o Brasil, de todo o brasileiro e é isso que está por trás do nosso “BRA”, que vai no peito de todo o atleta da delegação brasileira.

Como surgiu o conceito “BRA”?
Um pouco depois das Olimpíadas de Londres, em 2012, nós abrimos uma concorrência para a escolha de uma nova agência. E o Washington Olivetto (chairman da WMcCann) disse: ‘Olha, você já tem um símbolo do Brasil no nome do banco’. A partir disso, nós abraçamos a ideia e começamos a mostrar o que existe de fato por trás desse banco, que nasceu em 1943, num período do meio da Segunda Guerra Mundial. E o nosso banco, por meio de seu fundador, Amador Aguiar, abriu as suas portas nesse período para italianos, japoneses e outros imigrantes. Isso já foi uma ruptura naquela oportunidade. A partir daí, o banco realmente assume uma postura de ter as portas sempre abertas e passa a fazer parte da história da vida de todos os brasileiros. E o que estamos fazendo é resgatar tudo isso, é dizer que nós temos o mundo aqui dentro do Brasil, de pessoas que chegaram aqui para realizar os seus sonhos e são tão brasileiras como quem nasceu aqui. E o que estamos fazendo é unir esse “BRA” dos brasileiros, esse “BRA” de Brasil a essa história do Bradesco na vida das pessoas.

Quais são outras ações que o Bradesco ainda fará no que diz respeito aos Jogos Olímpicos?
Nós temos os desafios “BRA” para serem feitos. O próximo será o do judô, que vai ser realizado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Esse programa de Super Desafio BRA começou há bastante tempo, já realizamos em outras oportunidades e com outros esportes. Então, nós temos uma série de ações que serão realizadas. Elas visam dar uma visibilidade, ainda maior, a outras modalidades esportivas, com o intuito de preparar para os Jogos Olímpicos. Um país continental, como o Brasil, não pode ficar apenas como futebol. Claro que o futebol continuará sendo a paixão nacional, mas nós temos outros exemplos que, quando você envolve outras competições, acaba inspirando uma infinidade de pessoas. Quando Gustavo Kuerten, por exemplo, ia disputar um campeonato, enchia as escolinhas de tênis. Quando você coloca uma camisa verde e amarela, o brasileiro adora torcer, seja para qualquer tipo de campeonato. Então, isso é uma forma também de você estimular, de dar visibilidade a outras modalidades. O rugby, por exemplo, foi um divisor de águas. E tem uma infinidade de oportunidades para você fazer com que o esporte cresça ainda mais no Brasil.

As Olimpíadas são uma oportunidade de estimular outros esportes?
Sim, as Olimpíadas são uma oportunidade de você estimular outras modalidades. O novo sistema nacional do esporte, que está sendo analisado por alguns atletas, em conjunto com o Ministério do Esporte, traz um pouco essa luz de voltar a ter os esportes nas escolas. Primeiro, você começa no ensino básico, onde a criança tem o estímulo. A partir daí, você começa a caminhar para o profissionalizante e até chegar na alta performance. Ou seja, é uma oportunidade fantástica para o país recuperar isso. Eu sou de uma geração em que existiam esportes olímpicos dentro da escola, eu tinha corrida, arremesso de dardos, salto a distância e revezamento. Eu joguei handebol na escola. Agora, você olha a tabela de basquete e está podre. Então, existe essa carência, essa necessidade de se mostrar isso. E é nisso que estamos investindo neste momento: de dar mais visibilidade ao esporte.

Quais são os principais legados que os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro poderão trazer para o país?
Eu acho que o legado principal de uma Olimpíada é quando você começa a olhar a formação do indivíduo por meio do esporte. Invariavelmente você encontra histórias dessas pessoas que estão inscritas no revezamento que falam da relação com o esporte. Tem um gari, por exemplo, que deixou a bebida, começou a correr e, hoje, inspira pessoas a participarem de competições. O esporte pode trazer esse novo momento para o país, de o indivíduo investir em alguma modalidade. Então, esse é o grande legado, que é quando você consegue, por meio dos Jogos Olímpicos, trazer para a pauta a importância do esporte para a formação de uma pessoa. Outro legado é estimular as confederações que a gente patrocina (basquetebol, desportos aquáticos, judô, remo, rugby e vela) a melhorar a sua gestão. Muitas vezes, quando a gente fala que algo não está sendo bem gerido, automaticamente, você vincula isso à corrupção. Não é uma relação direta. Você tem, às vezes, confederações ou entidades que têm uma carência de profissionais capacitados para fazer aquela gestão. E, quando você patrocina, isso também é um legado importante. Você tem confederações que são um exemplo de gestão, porque se especializaram.