As perdas globais causadas pelos hackers podem chegar a US$ 6 trilhões este ano, aponta estudo da Roland Berger/Foto: Freepik

Os cibercrimes causam prejuízos cada vez maiores às empresas no mundo todo. Este ano, as perdas globais podem chegar a US$ 6 trilhões, de acordo com estudo da consultoria alemã Roland Berger. E esse crime continua a crescer, apontam especialistas, com as companhias tendo de gastar cada vez mais para se proteger de ataques com pedidos de resgate.

O Brasil tem sido um dos principais alvos globais dos cibercrimes. No dia 19 de agosto passado, o e-commerce das Lojas Renner saiu do ar, após o sistema da companhia ser alvo de um ataque cibernético. Além da página da Renner, as da Camicado (loja de itens para o lar) e Ashua (marca de moda plus size), que pertencem ao grupo, também saíram do ar.

Num comunicado de fato relevante, a companhia garantiu que seus principais bancos de dados permaneceram preservados e, diante do ataque em seu ambiente de tecnologia da informação, “prontamente acionou os seus protocolos de controle e segurança”.

O levantamento da Roland Berger aponta que o país já ultrapassou o volume de ataques de todo o ano passado apenas no primeiro semestre, com um total de 9,1 milhões de ocorrências, considerando apenas os de ransomware, que restringem o acesso ao sistema infectado e cobram resgate em criptomoedas para que o acesso possa ser restabelecido. Esse número coloca o Brasil na quinta posição mundial de ciberataques, atrás apenas de EUA, Reino Unido, Alemanha e África do Sul.

Neste ano, para citar outros exemplos de alvos brasileiros atacados por hackers, a rede de laboratórios de análises clínicas Fleury ficou alguns dias sem conseguir efetuar exames e o frigorífico JBS pagou US$ 11 milhões de resgate em sua operação nos Estados Unidos, Austrália e no Canadá. Em fevereiro, a Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas nucleares de Angra, sofreu um ataque nos servidores da rede administrativa da companhia.

Além de empresas, os hackers agora também miram órgãos do governo. Na mesma semana em que o e-commerce da Renner ficou fora do ar, o Ministério da Economia informou que a rede interna da Secretaria do Tesouro Nacional foi infectada pelo ransomware. Em nota, a pasta disse que “as medidas de contenção foram imediatamente aplicadas e a Polícia Federal, acionada”, mas não detalhou o grau de dano provocado ao sistema.

Marcus Ayres, da Roland Berger: “Tema tem relação com cadeias de valor”/Foto: Divulgação

“Os sistemas de cibersegurança vem evoluindo no Brasil e no mundo, mas eu vejo com bastante preocupação a falta de foco das empresas na abordagem holística. Hoje, o tema não tem apenas relação com a segurança dos dados, mas com toda a cadeia de valor”, diz o sócio-diretor e especialista em inovação da Roland Berger, Marcus Ayres. Segundo ele, o calcanhar de aquiles da cibersegurança está relacionado à complexidade do mundo cada vez mais interligado. “Por exemplo, se a sua empresa depende muito de gás natural e o gasoduto do fornecedor sofrer um ciberataque, você deixará de operar e o seu prejuízo será gigante”.

Para o especialista em inovação da Roland Berger, a preocupação das empresas brasileiras cresceu diante dos mais recentes ataques. No entanto, ele ressalta que as companhias precisam entender que é fundamental que o tema seja contínuo e envolva toda a cadeia de valor do sistema. “A segurança digital vai muito além da TI. As empresas precisam entender que gestão de risco integrada tem de ser uma discussão cada vez mais estratégica”.