A cerimônia de abertura da Paralimpíada mostrou um Brasil maior do que pensamos. Olhando atentamente aqueles atletas (que não deveriam ser chamados de paratletas), percebemos a nossa burrice e atraso em dividir o país em correntes ideológicas.
Falta-nos neste momento de discórdia nacional uma séria reflexão sobre o oportunismo da classe política e o quanto ela se beneficia desta nossa divisão por eles estimulada.
É tão desagradável e injusta essa condição de vida que nos foi matreiramente imposta, que não nos damos conta do nivelamento por baixo ao qual estamos submetidos.
A paixão política que propositalmente nos despertam tolhe nosso raciocínio a respeito dos nossos limites. E, em vez de nos mirarmos no exemplo dos atletas da Paralimpíada, que dão mostras exuberantes de autossuperação, preferimos aceitar o jogo sujo das promessas que não são cumpridas, das metas propostas que não são atingidas e da ilusão contida na frase que algum humorista inventou, mas acabou sendo sequestrada por uma parcela malandra da brasilidade: “Fiado só amanhã”.
Dístico ainda em muitos pequenos comércios Brasil afora, a frase diz tudo sobre a vida pública nacional, em que o vencimento do compromisso ocorre sempre no amanhã que nunca chega. Porque quando chega vira hoje e o que prometeu cumprir vence amanhã.
O verdadeiro objetivo da malandragem política nacional é se apossar do Estado e não do povo. Eles buscam governar para dividir, ao contrário de Maquiavel, porque sabem que os limites da nossa tolerância não têm fim.
Se fizermos uma análise racional do que vem ocorrendo com o país nos últimos tempos, chegaremos a lugar nenhum com relação a nossa classe política. Como em toda regra geral, há raras exceções, mas até essas ficam cada dia mais esparsas, distantes da obra verdadeira que deveria ser a arte política, principalmente em um país como o nosso, onde o grande exemplo costuma vir de baixo.
Saímos às ruas, de um lado e do outro, para evitar o pior e não em busca do melhor, como deveria ser. Por isso, pagamos um caro tributo que não se detém dos nossos protestos. Até os que parecem os mais inconformados dentre nós são atores pagos por moedas de troca, sempre dispostos a recompensas maiores.
Então, não há esperanças? Há, desde que comecemos a mudança por nós, deixando de acreditar em divisões engendradas por profissionais-empresários que se dizem de marketing e nem isso são, conspurcando o anglicismo.
Precisamos, portanto, de voluntários na política, com mandatos curtos e sem direito a reeleição. Voto distrital urgente, pois temos o direito de conhecer de perto em quem vamos confiar. Diminuição dos cargos públicos, enxugando a máquina mortífera do cabide infinito de “empregos”, e mais várias dezenas e talvez centenas de princípios que não custam caro e podem mudar definitivamente o rumo do país.
De um país que não merecia ter perdido a noção do certo e do errado, mas acabou se deixando levar pela esperteza de uma minoria que também acaba, na maioria das vezes, sendo vítima da própria infâmia.
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Provavelmente sem querer, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, faz na sua campanha à reeleição, no horário eleitoral gratuito, uma grande apologia da propaganda.
Ele seguidamente afirma que fez muito mais do que os paulistanos pensam que fez, mas como diminui (subentende-se drasticamente) a verba publicitária do município, muito do que ele fez não se tornou conhecido.
Parece uma charada, mas inegável a ilação subjacente do valor inestimável da propaganda, cuja verba foi por ele confessadamente cortada por não saber, como agora, como é importante esse instrumental.
O que se lamenta não é o reconhecimento de agora, mas o erro lá atrás, tirando o mérito de uma atividade que todo bom anunciante sabe que funciona.
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Empresários do segmento da publicidade exterior, prejudicados na gestão do ex-prefeito de São Paulo Kassab, ao promulgar a Lei Cidade Limpa, reúnem-se para lançar o Idéo (Instituto de Desenvolvimento Orientado da Publicidade na Paisagem Urbana), com vistas à retomada, em outras circunstâncias, da propaganda ao ar livre. Há também novos investidores para apoiar o setor.
Em busca desse objetivo final, serão promovidos fóruns com diversos setores da população paulistana, para que possa ser elaborada uma proposta diferenciada e até mesmo superior em termos de utilidade pública, ao atual mobiliário urbano surgido com a Lei Cidade Limpa.
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Imperdível nesta edição do PROPMARK, a cobertura completa do 7º Fórum de Marketing Empresarial, realizado no Sofitel Guarujá no início do mês, sob a parceria do Lide e da Editora Referência.
Além das palestras de empresários e executivos do mercado, sobressaíram-se as homenagens especiais a grandes nomes da comunicação do marketing: Boni, Sergio Amado, Paulo Giovanni e Marcos Quintela.
Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda