Trabalhos de Vic Parizzotto/Fotos: Divulgação

Vim a Nova York pela primeira vez em março de 2019 com a intenção de turistar, mas acabei conhecendo outros publicitários, diretores de criação, que compartilharam um pouco de suas histórias comigo e me incentivaram a estender minha carreira como diretora de arte nos Estados Unidos após meu trabalho. Em menos de uma semana eu já havia recebido uma proposta de emprego na cidade em uma grande agência e, apesar de não poder aceitar (devido ao visto de turista), quando voltei ao Brasil, não conseguia parar de pensar em como minha carreira criativa poderia ser melhor num mercado como o dos Estados Unidos.

O Brasil é um dos países com campanhas publicitárias mais criativas do mundo. Temos uma expertise fenomenal nesse assunto, ganhamos milhares de prêmios todo ano e somos respeitados globalmente por outros grandes players da indústria criativa. Porém fatores levaram a deixar meu país; o ritmo exaustivo de criação, a falta de perfis diversificados (principalmente mulheres em cargos altos de criação) e os salários não condizentes com o tempo que gastávamos no trabalho –– comecei a pesquisar países que valorizassem a criatividade de forma justa, principalmente de imigrantes e acabei me identificando na cultura de Nova York. Eu já trabalhava com publicidade há anos no Brasil.

Desde muito cedo, sempre gostei de trabalhar com criação, design e ilustração. Meu primeiro emprego foi na JWT (Agência CASA) onde trabalhava com os clientes; Magazine Luiza e Warner Bros. Depois, trabalhei em outras agências como HAVAS, criando para contas como Tim, Starbucks e Adidas Digital. Além disso, tive a oportunidade incrível de trabalhar na Diletto Gelato Italiano em um momento muito bacana de rebranding da marca.

Antes de sair do Brasil, trabalhei na Z515 onde atendi clientes como Benjamin, Casa Suiça e Vult Cosméticos –– foram grandes marcas na minha carreira, pois tive liberdade criativa para coordenar jobs juntos com os diretores de criação da agência e isso me trouxe mais notoriedade e liberdade criativa para crescer junto com as marcas, definindo meu estilo único para direção de arte. Para se tornar uma diretora de arte em outro país, extremamente competitivo, em meio a uma pandemia, foi necessário mais do que talento. Foi necessário um enorme investimento energético, mental e financeiro. Troquei horas em agências, por horas de trabalhos criativos pessoais, horas de documentações de visto, horas de resiliência, fuso e dedicação.

Fiquei 100% na minha missão de fazer acontecer com o que tinha à minha disposição –– Não tenho o conforto material que tinha no Brasil, mas vir para cá foi uma decisão estratégica, pensando na minha carreira a longo prazo e os frutos positivos que ela me traria. Nova York tem sido generosa comigo. A liberdade artística nos deixa mais soltos para expressarmos diferentes ideias criativas, pois diariamente somos expostos a uma tonelada de marcas, culturas e pessoas e acabamos criando insights mais originais para campanhas. Por outro lado, a competição é acirrada, vence aquele que tiver experiência, persistência e designs excelentes.

Nova York te sacode e levanta no mesmo dia, sem determinação, é difícil sobreviver aqui. A cidade é inspiradora, andar pelas ruas da Madison Avenue, visitar o MoMa e ver artistas de rua enquanto pessoas falam diferentes línguas ao seu redor é um privilégio. Com a pandemia, muito disso foi perdido. A Times Square perdeu sua luz mais importante; a que vinha das pessoas. Enquanto milhares de pessoas perderam seus negócios, outras perderam suas vidas.

Vivemos dias sombrios na humanidade e tivemos que aprender e comunicar novos problemas e soluções para conscientizar a sociedade. Por conta disso, me envolvi em campanhas e projetos sociais de NY visando a conscientização do uso de máscaras através do design. Se manter criativo em plena pandemia, não é fácil; apesar de comunicação e design serem representações fortes na cultura e formação de uma sociedade, senti uma grande responsabilidade no conteúdo que estava criando ao mesmo tempo que o enxergava como uma gota em um mar de caos. Era necessário empatia e seriedade.

Através da direção de arte, pude criar campanhas para públicos de diferentes idades, abordando a conscientização e respeito pelo próximo com approaches distintos; para o nicho com idade mais avançada, o conceito de fragilidade (física) foi explorado visualmente através de um casting maduro e diverso posando como “objetos” de manuseio delicado –– as máscaras usadas pelas pessoas traziam frases como “cuidado, frágil” “manuseie com cuidado” e “mantenha distância”, algumas das recomendações comuns feitas por médicos que batalhavam contra a disseminação da doença na cidade.

Para gerações mais novas, minha estratégia foi fragmentar informações através de ilustrações com mensagens mais ácidas sobre o COVID-19 nas redes sociais, pois Millennials e Gen Z ‘s preferem consumir conteúdos rápidos em redes sociais do que mídias tradicionais –– principalmente animações. Acredito que a combinação de criativos brasileiros com americanos seja um pareamento de extremo sucesso devido aos fatores culturais de ambos os países; no Brasil focamos muito em campanhas 360 e desdobramento de conceito enquanto nos EUA se promove bastante a indústria entretenimento para a publicidade.

O resultado são campanhas com conceitos fortes e visuais cinematográficos que geram muito mais engajamento e UGC (user-generated content). Como diretora de arte, vejo uma interseção positiva para a publicidade atender aos dois nichos de uma vez (Millennials e Gen Z) através de conteúdo personalizado, verdadeiro e rápido. É interessante ver a força que minhas criações de design e publicidade tem ganhado aqui em NY, já participei e ganhei concursos nacionais e globais e sinto que todo dia em NY refino meu estilo de criação, com estética e valores focados em experiências ao invés de “venda”. Estou trilhando um caminho interessante para marcas que acreditam nos mesmos propósitos e convido todos para virem comigo.

Victoria Parizzotto é diretora de arte e ilustradora em NYC (vicparizzotto@gmail.com).