Estudos realizados no Brasil e nos Estados Unidos mostram que o e-commerce de roupas e acessórios pessoais usados, o chamado brechó online, é um novo nicho de mercado com grande potencial de crescimento. Nos EUA, o mercado de roupas de segunda mão está avaliado hoje em cerca de US$ 28 bilhões e deve chegar a US$ 64 bilhões em cinco anos, de acordo com relatório do site de vendas de roupas usadas norte-americano ThredUp, feito em parceria com a empresa de pesquisa Global Data Retail. “A revenda veio para ficar”, disse o cofundador e CEO do ThredUp, James Reinhart.
Ele afirmou que o mercado de revenda cresceu 25 vezes mais rápido do que o varejo geral no ano passado, com cerca de 64 milhões a mais de pessoas comprando produtos de segunda mão do que em 2019. A explicação, segundo o estudo, está no comportamento dos mais jovens. “Eles estão ficando mais espertos do que nunca sobre o desperdício no fast fashion,” disse Reinhart, apontando que o crescimento desse mercado se deve à cada vez maior conscientização sobre tendências ESG – sigla em inglês para meio ambiente, sociedade e governança.
Brasil
A crise econômica gerada pela pandemia tem sido um fator determinante para o crescimento da revenda online no Brasil. Levantamento feito pela plataforma de e-commerce OLX aponta que 39% dos internautas brasileiros já compraram itens usados – metade deles após o início da pandemia. A pesquisa Brasil Digital: itens parados em casa, realizada com internautas em todo o país, mostra que o brasileiro não apenas vem adquirindo mais produtos de segunda mão, como também usando as plataformas digitais para gerar renda extra ao se desfazer de itens sem uso em casa. Entre os produtos mais vendidos, roupas, calçados e material esportivo empatam com aparelhos celulares em primeiro lugar, com 26% das menções na pesquisa.
“Com a pandemia, o brasileiro precisou se reinventar e encontou no mercado de seminovos e usados essa possibilidade, seja para comprar produtos com uma melhor relação custo/benefício, ou para gerar renda extra com a venda de itens que estavam parados em casa”, explica Andries Oudshoorn, CEO da OLX Brasil.
Contudo, assim como acontece nos EUA, a identificação das gerações mais jovens com princípios ESG também impulsiona a revenda online. É o que garantiu numa recente palestra virtual do banco BTG Pactual, Tiê Lima, CEO do brechó online Enjoei.com. Ele aponta que, à medida que as novas gerações forem subindo nos degraus de poder de compra, a abordagem na hora de adquirir roupas, acessórios e outros produtos levará cada vez mais em conta a sigla ESG. “Consumir produtos que já foram utilizados e seriam descartados tem um apelo forte nessas gerações”, afirma.
Lima citou uma pesquisa da consultoria Ernst&Young que mostra que 49% dos consumidores querem priorizar o meio ambiente e as mudanças climáticas na maneira como vivem e nos produtos que consomem. Para 26% dos entrevistados da pesquisa, sustentabilidade será o critério mais importante daqui para frente na hora de consumir.