Maio de 1965. A TV Globo acaba de ser inaugurada, o país vive um período promissor após anos de turbulências. O golpe resultante da conjugação de forças civis e militares derruba o presidente Goulart (que havia substituído o renunciante Jânio Quadros), fazendo questão de não se declarar, ainda, um regime de força.

Tanto que o primeiro presidente desse novo ciclo é referendado – pois já fora antes escolhido pelas mesmas forças da deposição de Goulart – pelo Congresso Nacional.

Há uma mudança no cenário econômico, alinhando o Brasil à nova cultura capitalista mundial, fermentada a partir do pós-guerra (39-45).

O país sonhado anos antes por JK em plena democracia, curiosamente – como costuma ocorrer entre nós – tem início em um cenário político nada promissor.

Mas, há um clima de esperança como pouco se viu desde a proclamação da República, alimentando o ideal do desenvolvimento e abrindo o leque da tese do país essencialmente agrícola, como meninas e meninos aprendiam nos bancos escolares dos anos 50 e 60.

A pátria, fechando aos poucos o regime político (que culminaria na ditadura de fato com o AI-5 em 13 de dezembro de 1968), abria-se, entretanto, para a primeira divisão do planeta, buscando seu espaço entre os emergentes ao valorizar o capital e o trabalho em prol da industrialização e de uma maior profissionalização do setor de serviços.

A nova pátria que surgia aos olhos do mundo e dos seus próprios habitantes, prometia um futuro melhor a todos.

Havia a questão política a ser resolvida, a volta das diretas, o povo querendo votar, mas um voto de confiança era dado ao país, que se submetia – pensavam seus cidadãos – a um curto período de governo forte em troca do bem-estar geral ou a promessa disso.

A casa estava sendo arrumada para dias melhores e, de fato, um pouco deles sinalizava no horizonte.

Nesse cenário promissor, onde fervilham em todo o país novos projetos, um jovem jornalista de apenas 22 anos inaugura uma coluna sobre publicidade em um tradicional órgão da imprensa paulista, vislumbrando pelo menos duas grandes possibilidades: o crescimento da publicidade obrigatoriamente acompanharia o desenvolvimento do país e, a partir daí, o consequente interesse dos empresários e profissionais desse valioso e fascinante segmento econômico em busca de informações fartas e de fácil leitura para o seu aprimoramento funcional.

Sem falar dos estudantes, que passariam a ter semanalmente noticiário antes escasso sobre o mundo em que pleiteavam ingressar.

Aquele jovem jornalista beneficiava-se nesse seu novo métier do fato de ter sido publicitário de agência, ingressando ainda muito jovem em uma das agências mais criativas e jovens daquele momento (estamos em 1958 e a agência era a Multi Propaganda), dela pulando para uma das três grandes escolas da época, como eram chamadas a J. Walter Thompson e a McCann-Erickson. A terceira era escola mesmo, a querida ESPM, ainda fortalecendo a sua atual musculatura.

Foi na Thompson que o jovem jornalista aprendeu o que não sabia sobre a atividade publicitária, com a sua aguçada curiosidade de menino, embora já homem feito.

Daí para um grande jornal diário não demorou muito, tendo antes passado por outras duas agências médias.

Por que o jornal? Por ser, em parte, uma tradição familiar, por querer saber mais sobre comunicação além do que já aprendera nas agências e pelo seu espírito inquieto, inconformista, imaginando naquela altura da vida, como todo jovem desse período de ouro que o país prometia, poder mudar o mundo ou ao menos parte dele.

Esse foi o começo do propmark, que na quarta-feira, 21, comemora 49 anos. E que começou, como se disse, com uma coluna, que logo virou página, para logo depois virar dupla e, um pouco adiante, caderno.

Saiu de um jornal portador então quase centenário para outro mais jovem e dinâmico (Folha da Tarde), não sem antes tornar-se um suplemento especial d’A Gazeta Esportiva, embora por pouco tempo.

Transformou-se em seguida em um jornal especializado com vida empresarial própria, redação independente (o que sempre foi) e uma crescente equipe de colaboradores internos e externos, proporcionando ao leitor – principal objetivo de qualquer jornal que se respeite – um produto cada vez melhor.

A história do país continuou, bem ou mal, pulando de 80 milhões de habitantes em 1965 para 201 milhões neste 2014, que aguardávamos ser melhor do que está sendo.

A ditadura acabou faz tempo, vieram governos democráticos, dirigidos por alguns bons políticos e cidadãos e outros nem tanto.

Nascemos com a TV ainda em P&B e hoje atravessamos a terceira geração do mundo digital, sem sabermos onde irá parar todo esse avanço. Na verdade, não irá parar, nunca.

A propósito, fomos o primeiro jornal especializado a instalar e manter 24 horas por dia no ar um site com as notícias do mercado. Como fomos os primeiros da imprensa brasileira a “descobrir” o antigo Festival do Filme Publicitário da SAWA, em Cannes (e, na época, também em Veneza), enxergando nele e divulgando para os nossos leitores uma grande oportunidade de atualização profissional. As primeiras delegações brasileiras tinham dez ou 12 pessoas. No ano passado o Brasil esteve lá com 951 profissionais. E dando as cartas, fazendo muitos outros se atualizarem.

A coleção do nosso impresso propmark é a própria história do marketing e suas principais disciplinas nestas últimas cinco décadas, tanto do Brasil como do exterior.

Interpretando a imprensa como de serviços, além do farto noticiário, sempre inovamos com eventos, premiações, Semana da Criação, Young Lions, Seminário de Marketing Empresarial (com o Grupo Doria) etc.

Por hoje, chega. Agora é com você, leitor. Daqui até o final destas 128 páginas, você dirá se toda essa história valeu a pena. Atento, porém: isso tudo é passado. O futuro é nossa meta.

(Referência do título: “Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros”, Stephen Hawking, 1988)

Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2498 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 19 de maio de 2014