Hoje vou contar pra vocês como Alicia Osborne, diretora de arte da Contemporânea, teve seu primeiro contato com o brioco. Calma! Jamais um rapaz razoavelmente bem-educado como eu, quase tão ético como – digamos – o Stalimir Vieira, iria botar no papel qualquer fato que pudesse trazer algum constrangimento a quem quer que seja. Muito menos a essa gracinha de pessoa e de profissional que é a Alicia. Mas meu impulso de contar a história é muito forte, ainda mais porque soube dela através de dois reconhecidos maus-caracteres, que não me pediram segredo: José Guilherme Vereza e João Bosco. Posso começar? Lá vai.
Alicia Osborne trabalhava há pouco tempo na agência, recém-saída da faculdade, e não estava totalmente familiarizada com o vasto vocabulário fescenino utilizado por certos ambientes, como agências de propaganda, redação de jornais e – parlamentos. Se bem que nossos parlamentares falam obscenidades e fazem mais ainda, o que é um pouco pior. Exatamente ao contrário dos publicitários, especialistas em sexo oral, ou seja, mais teóricos do que práticos. Digressiono? Perdão. Retorno ao caso.
Alicia estava criando marcas para um cliente e as fez aos borbotões, tão boas e adequadas que a agência achou melhor mostrá-las todas ao cliente, para que ele ajudasse a escolher. O Felipe Rodrigues, dupla da Alicia, batizou cada uma delas como se fossem obras de arte (e de certa forma eram): Moderna, Clássica, Figurativa, Abstrata e assim por diante. No dia da apresentação, sala de reunião lotada, Alicia ia mostrando cada marca e dando algumas explicações sobre seu partido gráfico, sem se esquecer de mencionar o nome fantasia, para melhor identificação. Ela ia pegando as cartelas, uma a uma, falava, lia o nome escrito no verso e colocava na estante, ao longo da parede. Uma galeria de belas criações. Até que chegou a vez de uma marca cujo grafismo dominante era um círculo vermelho, cercado por uma espécie de halo. Um belo trabalho, bastante adequado para o que se tratava. E atrás da cartela o nome fantasia criado pelo Felipe para aquela marca: Brioco. Alicia, inocente, falou das qualidades do desenho, explicou sua personalidade e adequação, leu alto o nome, que lhe soou como uma espécie de pão (talvez por lembrar brioche), e ainda ressaltou que aquela era a forma gráfica de maior atração para o olho. Fazia o maior sentido para Alicia, pensando em círculos abstratos, e para a plateia, pensando em brioco mesmo.
O que os clientes não estavam entendendo era a fixação de uma moça tão distinta naquela parte da anatomia. Nem a Alicia entendia as risadas da galera. Após demoradas confabulações, os clientes decidiram-se por aprovar exatamente o brioco. Uma decisão profissional e séria, mas tomada entre sorrisos e ironias. Alicia, na maior inocência, achava que todo mundo era meio bobo, mas ao menos a marca estava aprovada. Custou algum tempo e algumas explicações para ela descobrir – morta de vergonha – que, enquanto falava de marcas e símbolos, sua audiência pensava em besteira. Faltou muito pouco para ela, já dominando o significado da palavra, não mandar o Felipe utilizar-se de forma inortodoxa o brioco lá dele.
PS. No bar aqui embaixo de meu escritório, o Amarelinho, reúnem-se alguns velhos sindicalistas, meio aposentados, para beber e conversar. As histórias que eles contam são fascinantes e jamais as li em jornais ou blogs com algumas das conclusões que chegam a respeito do mundo da política. Ontem um deles garantiu que a greve dos bancários, que durou quase um mês, foi inteiramente criada, financiada e organizada pelos banqueiros. Segundo ele, com as agências bancárias fechadas, eles obrigaram, sem traumas, que milhões de pessoas, principalmente os mais velhos, aprendessem a lidar com suas contas pelos meios digitais. Acabada a greve, começaram a fechar agências. Parece meio teoria da conspiração, papo de botequim. Mas não é que tem lá sua lógica? Semana que vem conto a teoria do Uber, também tema de uma conversa dessas. Como eu digo, às vezes bar é melhor que a academia.
Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor