De vez em quando me pesquiso no Google. Nem sempre, até porque tenho medo de descobrir o que acham de mim. Pois semana passada, para preparar uma apresentação para um cliente, temendo que ao colocar meu nome na ferramenta de pesquisa aparecesse algo de muito escabroso, fui me pesquisar. Pois não é que apareceu? De tudo que eu fiz na vida (que não foi tanto assim) uma história acontecida há mais de 15 anos é um dos itens que aparecem logo no começo. E o que é pior: uma reprodução de um texto meu aqui no PROPMARK, o que me impede de desmentir como está na moda para todo mundo que faz besteira. Já que tá, deixa ficar, como diz um dos gritos da torcida do XV de Novembro de Piracicaba. Mas, para que o registro seja mais próximo possível da verdade, vou procurar fazer um depoimento bastante rigoroso, retirando do texto original alguns exageros.

Trata-se de um artigo que recebeu o título de Busto de Napoleão e, na verdade, pode servir também como um alerta aos mais jovens quanto aos riscos da falta de moderação. É necessário lembrar sempre que a bebida pode ser uma fonte de prazer e alegria, mas pode também ser uma desgraça. Vamos à história. Uma vez um cliente importantíssimo me chamou para jantar na sua casa. Como a história se passa no exterior e é muito velha, não tenho medo que seja lida pelo próprio. Por isso contá-la-ei na íntegra. Contá-la-ei é uma expressão que passei a vida sonhando em escrever um dia.

Era realmente um senhor cliente, presidente de uma multinacional importantíssima, verba de milhões de dólares. E o panaca aqui, convidado para um jantar tipo íntimo, mais ou menos dez casais, se sentiu honradíssimo com a oportunidade de estar mais próximo do cara cuja opinião poderia ser a diferença entre a aprovação entusiástica de uma campanha ou a execração pública do publicitário de merda que a criou. Claro que antes de sair para o jantar a primeira recomendação de minha mulher foi exatamente a frase do Conar: “Vai com calma na bebida, meu amor”.

A casa do cara era uma versão melhorada de cenário de musical da Metro. Como estávamos no verão, o jantar seria servido à beira da piscina, onde arranjos florais boiavam à luz de velas. Um desperdício de beleza e sofisticação. Os garçons estavam infinitamente mais bem vestidos que eu. Fui cuidadosíssimo com a bebida. A mulher do cliente era uma senhora elegantíssima. Tinha até um conjunto clássico com uma harpista. A noite começou assim, discreta e elegante. Na hora não reparei, mas a mulher do cliente mamava direitinho. Entornou alguns uísques, misturou com champanhe e coquetel de frutas. E eu me controlando. Já é uma merda festa em inglês. Com executivo de multinacional, sem álcool é quase uma tortura.

Fiquei no champanhe. Até que chegou a hora da janta, como se diz na minha terra. Eram pequenas mesas. Eu me sentei com um embaixador de um país africano, um professor de Havard, uma pesquisadora francesa e a mulher do cliente. Estávamos degustando as ostras de entrada quando a senhora me pediu para que eu repetisse para as pessoas a piada do Busto de Napoleão, que o marido havia lhe contado. Quase morri. A piada do Busto de Napoleão é a mais imunda, imbecil, grossa e estúpida criada no mundo. Em puteiro ela é considerada pesada. Busto de Napoleão é uma piada que necessita da agressão para ter um mínimo de graça. Tentei me fazer de desentendido, mas ela me incentivou explicando o começo, que já é um festival de estupidez. Não tive outro jeito. Daí o embaixador africano retrucou com a história do elefante brocha. Resultado: mandei o garçom deixar o uísque na mesa, mandei ver e até as quatro da manhã desfiamos a maior coleção de histórias impublicáveis, capazes de envergonhar as moças da zona de baixo meretrício da periferia. Foi uma noite inesquecível. Quase caímos na piscina de tanto rir.

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira@grupomesa.com.br)

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