Gregos e troianos, aproveitem os dois últimos meses do ano, que prometem manter a curva ascendente pelo menos até o Natal.
A partir daí, os pessimistas de plantão, hoje maioria entre os que sabem pensar e julgar em nosso país, preveem a inversão dessa curva, com grandes dificuldades para uma nova retomada de crescimento.
Os motivos são diversos, segundo eles, sendo o mais preocupante as manifestações populares, com ou sem black blocs (repetimos: a quem pertence o seu comando superior? Quem os manipula?), que engrossarão suas fileiras com a proximidade da Copa do Mundo.
Contribuições para isso não faltam das nossas autoridades. É só ver o caso do prefeito de São Paulo e a sua avalanche tributária, querendo nos impor um IPTU padrão Fifa para uma contrapartida de segunda divisão (como palmeirenses, sabemos o que é isso).
Os homens em seus gabinetes refrigerados, ainda que fazendo teatro com o uso de ônibus para ir trabalhar, não têm ideia de como é difícil ganhar a vida em São Paulo sendo honesto e com salário aviltante.
Para reforçar essa zona de conforto da qual desfrutam, há ainda a influência ideológica determinando a luta de classes, mais à direita de Maquiavel, que na sua obra-prima cedo concluiu que governar é dividir – partindo das condições nas quais se vive e não das condições segundo as quais se deve viver –, e menos à esquerda de Marx e outros pensadores do socialismo, que até mesmo com boa dose de generosidade literária, defendiam uma igualdade que a própria natureza não concebeu.
Ao eleger os desprotegidos como público-alvo das suas atenções e relegando as demais camadas da população ao castigo pela eficiência, eles sabem que não praticam justiça, mas apenas e tão somente o marketing político – no que este tem de pior – com o objetivo de aumentar os seus contingentes eleitorais.
Como os desassistidos são ainda maioria no Brasil, graças à própria história da nossa classe política, os representantes desta sabem que basta conquistá-los, ainda que sob falsas promessas, para permanecer no topo.
Alguns mais espertos inclusive já perceberam que prevalece, entre os desfavorecidos, o simples querer ouvir, o que provoca o dizer o que querem ouvir (e não o que necessitam ouvir).
Esse jogo de más intenções leva a situações reprováveis como a que constantemente vemos em uma metrópole desenvolvida como a capital paulista, onde basta ter todos os dentes, como dizia o jornalista e escritor Carlos Acuio, para ser considerado rico pelas autoridades.
Nessa divisão proposital de forças da população, quem sai ganhando são os que passam a vida no comando político da cidade, do Estado e do país, já que dificilmente a terminam como começaram.
Por tudo isso, pode mesmo se concretizar a previsão dos pessimistas de que 2014, ano da tão esperada Copa (pelo menos por alguns), seja um período igual ou até mesmo mais difícil do que este emblemático 2013, com o qual o mercado muito contava.
Grandes anunciantes estão receosos de aumentarem suas verbas e não poucos comentam até reduzi-las, para evitar uma exposição indesejada contrastando com os movimentos de rua que prometem uma apoteose a partir do primeiro apito da Copa do Mundo.
Nossa esperança é no sentido de que esse cenário não ocorra como aqui relatado e tudo não passe de uma grande apreensão a todavia não se confirmar.
O Brasil não pode perder esta já inevitável oportunidade de se mostrar ao mundo como o país que fez a melhor Copa desde 1930.
Para o bem de todos é melhor que assim seja, mas alguns búzios estão jogando contra.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2472 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 28 de outubro de 2013