Os mais jovens não se lembram, mas, até o fim dos anos 1960, tudo o que se tinha, em termos de suco eram os de caju ou maracujá. E a marca, a de sempre, Maguary. Ah, ia me esquecendo, se você se dispusesse a esperar, era ligar para a Superbom, que fabricava suco de uvas no porão de uma casa velha do Colégio Adventista Brasileiro, desde 1925… Entregava depois de alguns dias em sua casa. Não fazia sentido falar-se em marketing.
Se você quisesse um sabor diferente tinha de comprar a fruta na feira, bater no liquidificador e se deliciar. Quando os mais jovens que agora me leem entraram pela primeira vez em um supermercado encontraram gôndolas e mais gôndolas abarrotadas de sabores de sucos de todos os tipos, procedências, frutas, mais outra infinidades de mashups: laranja, laranja caseira, laranja caipira, pêssego, manga, morango, tangerina, pera, mirtillo, framboesa, frutas vermelhas, limão… E, além da marca Maguary, Do Bem, Jasmine, Frutts, Ceres, Fazenda, Jandaia, Sufresh, Dafruta, Del Valle, Cranberry, Minute Maid, Frisco… O marketing passou a ser uma questão de vida ou morte.
Quando me perguntam por que hoje o marketing é essencial e há 40 anos não era, refiro-me ao que aconteceu com os sucos de frutas, automóveis, queijos, sabonetes, xampus, vinhos, pães, doces, carnes, arroz… tudo. O marketing só brota, viceja e prospera em mercados de concorrência intensa, em que as pessoas têm o direito e a possibilidade de escolha. Os dias em que vivemos.
Há dois anos, a Procter decidiu eliminar a palavra marketing de seu dia a dia. Concluiu que era tão redundante quanto pessoas comentarem sobre o oxigênio, que ou as empresas se pensam, planejam, posicionam e agem a partir e sob a ótica do mercado ou a probabilidade de serem bem-sucedidas depende de um golpe de sorte. E que todas as demais áreas precisavam também aprender a pensarem e planejarem o que pretendem fazer sempre de fora para dentro, sob a ótica do cliente e do mercado.
Tudo isso me vem à cabeça pela notícia que acabo de ler. A pioneira, Maguary, acaba de anunciar mais um capítulo na história dos sucos. Sucos com pedaços de frutas. Nas declarações do diretor da Ebba, a nova detentora da marca, Fabio Levalessi, “o consumidor sente uma textura diferente e agradável a cada gole. O sabor se intensifica a cada mordida em um pedaço de fruta”. Além dos 966 tipos de suco que já existiam, brevemente multiplicados por dois: com ou sem pedaços de frutas.
Foi apenas isso que aconteceu com os sucos – e por isso a adesão e prática do marketing tornou-se questão de vida ou morte – e todos os demais produtos. Ou sua empresa, marca, produtos fazem-se conhecer, serem queridos e confiáveis, ou, sinto muito, não existem. Mas, se você insiste em ficar no caju e maracujá, não se esqueça de encomendar as exéquias.
*Consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing