Alê Oliveira

Há um certo desânimo em algumas pessoas que foram às ruas no dia 13 de março, vestidas de verde e amarelo, diante do que – segundo suas observações – entendem como aumentadas as possibilidades de a presidente afastada Dilma Rousseff voltar ao Palácio do Planalto.

 A grande maioria da população brasileira, que pretende o seu afastamento para sempre, não pode entregar suas esperanças a fundo perdido, percebendo equivocadamente que a batalha se extraviou.

 Sabia-se de antemão que uma vez afastada temporariamente pelo Parlamento, obedecidos todos os ritos ditados pela Constituição e referendados pelo colegiado do STF, a presidente Dilma Rousseff e seu grupo político tudo fariam para reverter a situação.

É ao que agora estamos assistindo, dando a impressão a muita gente que o impeachment enfraqueceu. Tem contribuído para fomentar esse pensamento, a notícia do envolvimento na Lava Jato de políticos nomeados por Michel Temer para cargos no novo governo, inclusive no seu Ministério.

Além disso, a queda de dois desses ministros, em tão pouco tempo a partir da posse, reforça a desconfiança da população pró-impeachment.

Mas tem havido movimentos da classe política que reforçam a possibilidade do impeachment, como a antecipação do julgamento final ainda para julho, evitando-se com isso maior sangria na economia, devido ao longo tempo de espera originalmente previsto para o desfecho.

A direção deste jornal assume declaradamente a postura a favor do impeachment, porque entende que a partir do afastamento temporário e não se acrescentando nada de novo em defesa da presidente Dilma Rousseff, a não ser a repetição dos chavões de que se tratou de um golpe, tese que não encontra respaldo na realidade, seu retorno ao cargo para o qual foi eleita junto com Michel Temer (este como vice), convulsionaria ainda mais o país.

A História anda para a frente e só retrocede para contar fatos passados. Qualquer pessoa desprovida de exacerbada paixão política pode imaginar o que ocorrerá com o Brasil se Dilma Rousseff retornar ao Planalto por não terem sido alcançados os 2/3 dos votos dos senadores a favor do impeachment.

Os incendiários dos movimentos mais extremados que a apoiam, transformarão o país em um teatro de guerra, porque o seu comportamento belicoso assim o exige.

Não se espera pacifismo dessa gente que mesmo sob um novo governo, ainda que provisório, bloqueia ruas, avenidas e estradas simplesmente para mostrar que existe.

Não tenham dúvida os leitores: a volta de Dilma Rousseff à Presidência da República decretará uma nova Venezuela na América Latina. E, a partir daí, uma nova História será escrita, sem fim previsível a não ser o da baderna e da convulsão social.

Quem viver, verá.

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As causas e consequências da crise que vem paralisando o país são conhecidas e reconhecidas: as primeiras em decorrência dos desmandos dos dois períodos de governo de Dilma Rousseff, o primeiro completado,  mas deixando antever que a reeleição apresentaria sua fatura no devido tempo. E esse tempo não se fez esperar: tão logo iniciou seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff viu-se às voltas com uma nova situação econômica no país, depauperada pelos desmandos no afã de se ganhar as eleições e pela turbulência daí decorrente, alimentando uma queda sem fim no precipício do caos.

Não foram suficientes os atributos de Joaquim Levy para estancar a sangria nas contas públicas. O mal já estava feito e muito “bem” feito. A saída do ministro Levy do governo só agravou o quadro, não por sua culpa, mas pela sua ausência, gerando o total descontrole dos gastos públicos, além do que já havia sido feito em obediência aos fins eleitorais.

As consequências estão à vista de todos, em uma narrativa que se autoalimenta: desemprego de aproximadamente 12 milhões de trabalhadores, pessoas jurídicas encerrando suas atividades e muitas deixando dívidas impagáveis atrás de si, serviços públicos básicos, como saúde e educação, em lastimável estado e o crime aumentando consideravelmente, pois é uma espécie de porta de entrada para os mais desesperados.

Os senadores, que vão decidir se a presidente Dilma Rousseff retorna ou deixa o cargo de vez, devem refletir sobre esse quadro nada animador em que nos encontramos e na inevitável possibilidade de piorar de forma até imprevisível se os 2/3 não forem atingidos.

Devem pensar pela grande maioria da população brasileira e também por si, pelas suas famílias, pelos funcionários das suas empresas, aqueles que além de políticos são também empresários.

Devem evitar a tentação de grandes vantagens momentâneas e refletir sobre a maior de todas as vantagens que está em suas mãos, que se traduz na recuperação do país, ainda quem sabe para as gerações atuais, mas com certeza para aquelas que vão nos suceder e para as quais temos aquele saudável compromisso de entregar melhor do que quando recebemos.

Não será difícil se saírem mais às ruas nestes dias que antecedem a votação final, ouvirem mais pessoas, lerem mais jornais e revistas, prestarem melhor atenção aos índices econômicos que não param de cair e cairão ainda mais se o seu julgamento não obedecer à lógica e à razão dos fatos.

Está em suas mãos a oportunidade única de redirecionar o país para aquele futuro brilhante que ouvíamos dos nossos mestres na escola, quando ainda crianças.

Perdemos o rumo por pessoas extremadas e sem visão de mundo, despreparadas para a gestão do futuro, que chegou muito diferente dos nossos sonhos.

Nas suas mãos, senadores, não só a grande, mas talvez a última, oportunidade de reconduzir o país ao destino que todos merecemos, com algumas poucas exceções.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda