Uma vez mais, e isso vem se repetindo nos últimos anos, o Cannes Lions, considerado pelos empresários e profissionais do setor como o mais importante festival de exposição e avaliação publicitária do planeta, coloca o Brasil no topo dos vencedores.

Se antes éramos campeões em tudo, quando o assunto era futebol internacional, hoje a publicidade ocupa esse lugar, tornando o nosso país cada vez mais conhecido e reconhecido, não somente entre a comunidade publicitária mundial, como também nos diversos setores que fazem parte dos pilares da economia mundial.

A ideia, seguida por um grande esforço de iniciativa própria do alemão-argentino Victor Petersen (já falecido), da CP Cinema e Publicidade do Brasil, de concorrermos com os nossos melhores comerciais em Cannes (na época era um ano em Cannes, outro em Veneza), porque sendo esse festival uma preciosa vitrine para o mundo dos negócios publicitários, teve no início as suas dificuldades.

Muitas agências e mesmo anunciantes não acreditavam que o festival iria valorizar a nossa publicidade, outros achavam que a nossa publicidade ainda pertencia a uma espécie de segunda divisão, em comparação com o que concorria em Cannes-Veneza, o que poderia nos depreciar na apreciação dos empresários que anualmente compareciam ao hoje famoso festival.

Mas, um grupo de jornalistas do setor, que mantinha colunas especializadas sobre propaganda em importantes periódicos do nosso país, principalmente dos centros mais importantes como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte, passou a apoiar a ideia de Victor Petersen, que teve acima de tudo a genialidade de levá-los por conta da CP Cinema e Publicidade do Brasil a assistir aos festivais, que no início só se realizavam em Cannes, em um pequeno palácio na Croisette, vindo a seguir a migração bienal para Veneza.

A ideia de Victor Petersen, apoiada pelos sócios da CP e pelos empresários da rede de cinemas que operavam em nosso país (naquela época eles podiam passar comerciais a pagamento antes dos longas), logo se espalhou e foi imediatamente adotada pela comunidade publicitária brasileira, que passou a contar com um importante referencial para melhorar a qualidade criativa e de produção dos comerciais que produziam.

Dos anos 1980 para cá, quando a ideia e sua execução já estavam consolidadas pelo mercado publicitário brasileiro, passamos a ser realmente respeitados como um país de grandes ideias criativas, publicitariamente falando.

Faltava-nos ainda a técnica, pois muitas das máquinas profissionais de projeção nos cinemas eram oriundas de países europeus que tiveram a Segunda Guerra Mundial em seus territórios, expondo e entregando esse maquinário a quem possuía pouco conhecimento do mesmo, principalmente quando o assunto era manutenção e aqui atrapalhava também a falta de peças para as necessárias trocas.

O principal, porém, era mudar o conceito de criação de um bom comercial para as telas dos cinemas, até porque estava ganhando força a televisão, que logo se tornou a maior concorrente dos cinemas, em termos de público e de qualidade, além de custar apenas o preço do televisor e na época nada mais. Nesse avanço todo que então valorizou o cinema publicitário, o Brasil passou a acreditar – e com razão – que possuía mais um importante meio para a divulgação da sua propaganda.

E, mais importante ainda, resolveu fazer parte do ainda pequeno grupo de produtores e agências do cinema publicitário, valorizando com isso o seu produto final da espécie, que passou a ser admirado pelos seus concorrentes mundiais e a ganhar prêmios em festivais destinados ao julgamento dos mesmos. Sendo o mais importante deles, até hoje (e afirmamos com convicção, apesar de surgirem outros concorrentes fazendo o mesmo em outras parte do mundo), o Festival de Cannes recém-terminado, que, uma vez mais, como tem acontecido de uns anos para cá, valorizando a nossa propaganda e os seus profissionais, muitos dos quais acabam sendo transferidos para o exterior, já que pertencentes a conglomerados de agências que formam uma rede que podemos chamar de imbatíveis, na disputa de mercado por importantes contas publicitárias espalhadas pelos continentes.

Observe o leitor as agências brasileiras, ainda que algumas pertencentes a grandes grupos mundiais, como elas serão beneficiadas pelos valiosos prêmios que eventualmente ganharam em Cannes este ano.

Como este editorial, por motivos técnicos, foi redigido antes do encerramento do festival, deixamos propositalmente de apontar as agências brasileiras que mais se destacaram nessa versão 2021 do Cannes Lions, o que todavia as páginas de fechamento desta edição contêm. De forma atípica este ano, a premiação do Cannes Lions pela primeira vez não se realizou presencialmente, mas através dos diversos recursos fornecidos pelo universo online, uma experiência da qual muitos duvidaram quando anunciada, chegando a admitir que não haveria festival este ano, e agora já até admitem que daqui em diante o Cannes Lions possa repetir esse feito.

Para nós, julgamos ser importante, quando a pandemia da Covid-19 for definitivamente abolida da face da Terra, que o Cannes Lions passe a adotar tanto a presença física das centenas e até milhares de delegados de todas as partes do mundo, porque Cannes e redondezas são imperdíveis para o casamento trabalho/férias e isso é bom para quem milita no setor e para quem aguarda com ansiedade esse tipo de turista trabalhador (empregado ou empresário), sem se abrir mão da transmissão online do festival, que possibilita a muitos profissionais de comunicação impossibilitados de comparecer presencialmente assisti-lo como se em Cannes estivesse, com a vantagem de poder ver tudo e não apenas uma parte dos trabalhos inscritos, por impossibilidade física.

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Destaque na edição para matéria sobre ranking da BrandZ das marcas mais valiosas do mundo. Segundo a Kantar, as marcas registraram um crescimento recorde, com o valor total atingindo US$ 7,1 trilhões – “o equivalente aos PIBs de alguns países combinados, como da França”.

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Outro destaque é a reportagem sobre marketing de recomendação, que ressurge como boca a boca na internet. Marcas e startups criam cada vez mais recompensas para os clientes que recomendarem produtos e serviços na internet, ‘forçando’ um elo. Vivemos a era do marketing de recomendação – ou referência. E, diferentemente do marketing de influência, as indicações são feitas por anônimos, gente como a gente.