Fernando Musa, Anselmo Ramos e Sergio Amado: fome de Leão

 

A Ogilvy Brasil, do WPP, terminou o Cannes Lions 2012 como a melhor agência brasileira e a terceira do mundo no ranking do festival, atrás da campeã Wieden+Kennedy de Portland e da BBH London. O resultado significa muito para a agência, que ganhou 16 Leões, sendo quatro de ouro para os clientes Hellmann’s, Coca-Cola, Claro e Revista Forbes. Mas a Ogilvy quer mais e está com fome de Leões, como descreve o chairman e presidente do Grupo Ogilvy Brasil, Sérgio Amado. O objetivo, naturalmente, é ser a Agência do Ano em Cannes.

“A fome continua existindo aqui dentro, nós ainda estamos passando fome. Nós queremos mais [Leões]. Queremos tudo. E vamos conseguir. Porque nós estamos com fome, continuamos com muita fome”, disse Amado. Segundo o executivo, o planejamento estratégico para transformar a Ogilvy em “uma agência extremamente criativa” foi construído nos últimos cinco anos. Por isso, não é à toa que em 2010 a agência conquistou 10 Leões, em 2011 foram 11 e na edição de 2012 do Cannes Lions, chegou a 16. “Ninguém conquista 16 Leões sem ter realizado a consolidação de um processo criativo. É um momento especial e muito significativo”, reforçou.

Segundo o executivo, a demanda pela procura da agência já aumentou na semana pós-Cannes. “Já tínhamos fama de ser uma agência extremamente forte em planejamento, do ponto de vista financeiro nem preciso dizer, e agora, com essa posição criativa, a demanda aumenta bastante. Dentro dos nossos clientes a gente sabe que adquire mais musculatura. O telefone tocou bastante com marcas querendo conversar”, contou.

Amado ressalta que a Ogilvy Brasil vem crescendo 18,5% em receita nos últimos dez anos — no ano passado, fechou na terceira posição no ranking do Ibope, totalizando R$ 2,6 bilhões de investimento em mídia. “É um crescimento muito expressivo”. O executivo destaca também que a performance do escritório brasileiro ajudou a Ogilvy & Mather Worldwide a ganhar em Cannes o título inédito de Network of the Year. A rede conquistou 83 Leões e um Grand Prix, sendo que a operação brasileira foi a mais premiada.

Porém, Amado relata que Cannes 2012 acabou no dia em que receberam o prêmio e agora a estratégia é partir para cima, de novo. No plano de ação, uma das prioridades é a aquisição de pelo menos três agências até o final do ano. “Estamos pensando em várias coisas, incluindo novas aquisições de agências, que devemos anunciar nos próximos meses”, falou. Para o executivo, Cannes deixa um legado para todas as agências que se destacam no festival. “Todas as agências brasileiras que ganharam Leões em Cannes nos últimos anos, com uma presença muito forte, como a DM9DDB, a F/Nazca S&S e a AlmapBBDO,  foram premiadas com novos clientes, crescimento e com uma autoestima bastante elevada”, descreveu.

Amado reforça que a Ogilvy é uma agência que inventa e cria coisas. “Quando criamos a 9ine, ninguém acreditava que ela seria capaz do que é hoje, um absoluto sucesso. Assim como foi com a criação da David no começo do ano, que está arrebentando de trabalho”. Do lado dos clientes, o executivo confirma que eles ficam encantados quando ganham Leões em Cannes. “E ganhamos Leões com campanhas que foram para o ar. Cannes é um exercício de criatividade. É uma grande Copa do Mundo e que vença aquela que tem a melhor performance. Acho muito bom que mais agências concorram e elevem o nível criativo do Brasil”, pontuou.

A equipe criativa, liderada pelo vice-presidente de criação Anselmo Ramos, segue uma cartilha baseada nos ensinamentos de David Ogilvy, fundador da primeira agência que deu origem à rede global. Não só os criativos, mas todos os funcionários da agência buscam no dia a dia aplicar as ideias do fundador, agora com o posicionamento “Divine discontent” (“Divinamente descontente”). “Basicamente, David Ogilvy falava que tudo pode ser melhor, que a pessoa pode estar divinamente descontente sempre. A gente aplica isso na nossa performance criativa, nos briefings, em todos os aspectos. Os fundamentos dele são atemporais”, frisou Ramos.

Ele define o momento como muito especial, como um ano de consagração. Isso porque a escalada da Ogilvy em Cannes começou em 2010.  “Fomos bem em Cannes em 2010, quando ganhamos 10 Leões. Em 2011 conquistamos 11. Achamos até que poderia ser uma combinação de fatores com sorte. Mas daí, veio o terceiro ano, com 16 Leões, sendo quatro de ouro  para clientes importantes, como Unilever, Claro, Coca-Cola e Forbes. Neste caso,  é difícil ser sorte. Inegavelmente, é a consolidação, consequência de um trabalho que estamos fazendo há cinco anos”, definiu.

O vp atribui a boa performance criativa também ao momento da Ogilvy Worldwide, que lançou o desafio de ser a rede do ano, como foi. “Nós, aqui no Brasil, aproveitamos muito isso. O desejo era ser a network of the year, e fomos. É a melhor performance da Ogilvy na história em Cannes”, emendou. Outro aspecto da performance da Ogilvy no Cannes Lions 2012 que chamou a atenção foi a conquista de Leões em competições  diferentes. No total, foram sete áreas: Promo & Activation, Direct, Press, Outdoor, Film e nas duas estreantes, Mobile e Branded Content & Entertainment, sendo quatro Leões de ouro, cinco de prata e sete de bronze.

Fernando Musa, ceo da Ogilvy, afirma que ter visibilidade criativa traz novos negócios e destaca a importância de ganhar prêmios. “O mercado publicitário trabalha com prêmios, por isso os festivais existem. Virar as costas para isso é um pouco confortável para algumas agências, que falam que não se importam com isso. Acho que temos que ter consistência no dia a dia e ter um trabalho que permita visibilidade criativa. Ela traz negócios na network. Hoje tive dois telefonemas da rede de projetos globais que querem fazer com o Brasil”, contou.

Outra estratégia foi vencer com um mesmo case em várias divisões, como foi o caso de “Chuveiro de Sprite” (um chuveiro que imita a máquina de refrigerante, montado na praia de Búzios para refrescar os banhistas), que ganhou ouro e bronze em Promo, além de prata em Outdoor; assim como a campanha “Recibo com Receita” para Hellmman’s, que levou ouro em Promo, prata em Direct e Outdoor, e bronze em Branded Content. “É o que a gente gosta de fazer. São ideias difíceis de produzir, com grande impacto e que, depois, acabam vencendo em mais de uma categoria”, revelou Ramos.

Musa confirma que o projeto rumo à conquista de Leões continua. “O objetivo é ser a Agência do Ano em Cannes, e a gente chegou muito perto disso. Dá para continuar nesse círculo virtuoso”. O ceo da Ogilvy comenta que a concorrência entre as agências brasileiras é “infernal”. “A gente não esperava ser a agência brasileira mais premiada, mas trabalhou para isso, porque a concorrência brasileira é infernal, não existe nenhum mercado publicitário no mundo mais competitivo que o nosso”, ressaltou.