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Mesmo com 10% de inscrições abaixo de 2015 e com o júri internacional do Cannes Predictions, realizado pela Leo Burnett Internacional, não tendo escolhido nenhum trabalho brasileiro entre os 25 melhores colocados nesse ranking, parte do mercado acredita que o nosso país terá um bom desempenho no Cannes Lions 2016 já em andamento.
Há, porém, outra parte mais cética que prefere aguardar a avaliação dos júris, esperando um resultado inferior de premiações em relação a 2015.
Profissionais dessa corrente ouvidos pelo PROPMARK atribuem à crise econômica que assola o país a preferência pelo simples por parte de agências e anunciantes, contrariando o pensamento da corrente otimista, que vê na crise uma grande oportunidade para a inovação se destacar, compensando a diminuição das verbas e até mesmo atribuindo à comunicação publicitária uma discutível obrigação de compensar o público atingido pela crise, com melhores trabalhos que possam entretê-lo acima da média e produzir bons resultados nas vendas.
Ocorre que as ideias acima da média requerem hoje, com algumas exceções, custos maiores na produção e é aí que o dinheiro curto entra em ação.
O rebaixamento geral da qualidade de vida no Brasil nestes últimos tempos de mensalão, petrolão e outras excrescências, que jamais imaginávamos ver em tão larga escala em nosso país, atinge todos os setores da atividade humana.
Difícil a produção de obras notáveis com o país escandalizado, revoltado e de tão baixo-astral como provavelmente jamais antes ocorrera.
Então, o resultado mediano do produto final publicitário reflete este estado de coisas, acompanhando o ânimo geral do povo.
Não deveria ser assim, mas na prática é assim mesmo que ocorre.
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O mercado foi surpreendido entre quinta e sexta-feira com a notícia da saída de Paulo Giovanni do cargo de chairman da Publicis Comunicações em nosso país, que ocupava desde outubro de 2014.
As explicações tradicionais repetem palavras prontas para uma situação como essa: a decisão de saída do cargo de chairman estaria ligada a um “processo natural” de conclusão de projetos que incluíram fusão de negócios, como o havido entre a Talent e a Marcel, e o havido entre a DPZ e a Taterka.
Pode ser. Mas também pode ser resultado da grande dificuldade que, repetimos, o mercado brasileiro da comunicação do marketing atravessou (preferimos assim no pretérito, por acreditar que há sinais de melhora no ar), provocando mudanças de posições em busca de melhores resultados e desempenhos.
Esse tipo de iniciativa é bastante comum em momentos de dificuldades, tanto para apenas um grupo empresarial, como para todo um mercado, como o que agora vem ocorrendo no Brasil.
Paulo Giovanni, segundo nossas fontes, passa a ocupar exclusivamente o cargo de chairman na Leo Burnett Tailor Made, ao qual se dedicará full time deste momento em diante.
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Como a moda é de consulta popular, os chamados plebiscitos, prática que as emissoras de rádio têm executado com frequência, como a de sexta-feira passada, quando a Jovem Pan AM pediu aos seus ouvintes para se manifestarem se Dilma Rousseff deveria voltar ou não à Presidência da República (no início da amanhã mais de 80% dos ouvintes responderam que não), por que não se promover um outro grande plebiscito, sobre se o programa radiofônico A Voz do Brasil, que vem desde os tempos da ditadura Vargas, deve prosseguir ou não?
E o pior é que ocupa uma faixa nobre das emissoras, das 19 às 20 horas, quando a população das principais cidades brasileiras está se locomovendo para casa e desejando ouvir as últimas notícias (sérias) do dia e não a baboseira que vem de A Voz do Brasil.
Temos por nós que já é mais do que a hora de encerrar esse programa medíocre, que dá bem uma mostra do que seria o país se dominado por um desses regimes políticos bolivarianos.
O povo deve ter o direito de saber o que se passa na sua cidade, no seu estado, no Brasil e no mundo através também das emissoras de rádio (e não apenas pelos aplicativos dos seus smartphones), que para isso são destinadas.
Falamos muito em democracia, mas vemos muito pouco da sua essência em certas situações oficiais que inclusive são produtos de governos anteriores nada democráticos.
No lugar d’A Voz do Brasil, preferimos a voz dos brasileiros.
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É para comemorar o fato de a revista Veja ter batido nas suas quatro últimas edições (com exclusão da que circula neste fim de semana, por não termos seus dados no fechamento desta edição do PROPMARK), a meta publicitária para elas imposta por sua direção comercial.
Veículos como Veja precisam do prestígio do mercado anunciante não apenas porque produzem resultados, como também pela importância que têm em defesa da democracia e do jogo limpo nas relações de Estado.
Pode-se mesmo dizer que se mede a seriedade de um país pela importância, isenção e qualidade de informação que leva ao seu público.
Tente o leitor fazer o seguinte exercício: localize no Face algum nome de habitante de países de exceção e tente se comunicar falando de política ou mesmo economia. A resposta, se vier, será diversa da pergunta. O interlocutor responderá que sua família vai bem, que seu filho foi à escola no dia anterior como vai sempre etc.
Não há nenhuma entrada em assuntos que podem ser censurados. Porque realmente o são, como em nossas experiências diárias com amigos desses países nada democráticos, que se obrigam a uma comunicação absolutamente limpa de qualquer crítica a seja lá o que for.
Verdadeiros paraísos terrestres.
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O Instituto Fernando Henrique Cardoso acaba de se transformar em Fundação Fernando Henrique Cardoso, mudando a sua logomarca e o seu site, ambos com nova identidade visual.
Segundo FHC ao PROPMARK, a mudança traduz a sua intenção de assegurar perenidade à instituição, já que o patrimônio de uma fundação está legalmente vinculado ao cumprimento da missão para a qual foi criada.
Sobre a mudança na logo e no site, FHC assegurou que se trata de uma indicação da capacidade da entidade de se renovar, sem perder sua essência.
Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda