Caramba! Já são 9h! Esse fuso horário bagunça tudo. Agora é pular da cama, banho, colocar uma roupa leve (lembrando que a temperatura pode chegar perto dos 40 graus lá fora), tomar um café da manhã reforçado porque o almoço vai ser corrido, provavelmente uma saladinha, comida em pé, no estande de um patrocinador.
Enquanto degusto uma fruta, passo os olhos no app do festival para relembrar a programação do dia e fazer as últimas marcações de agenda e lidar com as inevitáveis “escolhas de Sofia”, perante uma programação com 2 ou 3 coisas interessantes sendo realizadas simultaneamente.
E lá estarão grandes atrações do mundo das artes ou do entretenimento, se misturando com os profissionais de maior destaque da economia criativa.
David Droga é um dos keynotes outra vez, assim como o arroz de festa Mark Prichard. Já eu, vou focar mais uma vez nas apresentações menos concorridas, mas carregadas de dicas de profissionais do mundo inteiro. As palestras mais concorridas estarão na edição de amanhã do diário do festival.
E ainda é preciso arrumar tempo para visitar a área das “cabanas”, com estandes enfileirados ao ar livre, entre a Croissete e a praia, e cada um dos espaços “pé na areia” com palestras e debates alternativos e diversão – porque ninguém é de ferro. Ah! E as constantes paradas na área de imprensa para escrever e organizar a coleta de conteúdo e trocar impressões com os colegas jornalistas do Brasil.
OK: o dia está programado, credencial pendurada no pescoço, mochila com o mínimo necessário, e vamos para uma caminhada de 20 minutos do Boulevard Carnot até o Palais.
No caminho, gente apressada, como eu, com credenciais balançando pelas ruas de Cannes. Gente de todo o mundo. Mais de 90 países são representados no festival.
Ao chegar no Palais, a muvuca de sempre, com gente se concentrando no calçadão em frente ao complexo, que é visitado por turistas, muito mais por abrigar o famoso festival de cinema. Dentro do Palais, a aglomeração já não é a mesma de anos atrás, em função do espalhamento do festival pela Croissete, pelos hotéis da Orla e mesmo nas praias e iates, que também são usados por empresas que disputam a atenção dos visitantes.
Foi-se o tempo em que o festival era frequentado apenas por criativos (profissionais de criação). De uns tempos pra cá, cresce a presença de profissionais de marketing e de business do universo de agências, clientes e fornecedores.
A criatividade ainda é rainha na Riviera, mas há mais encontros de negócios aqui e ali. Estando no Palais, ao esbarrar com estrangeiros e nos identificarmos como brasileiros, em vez do habitual sorrisão que recebíamos no passado, vem uma expressão de preocupação e solidariedade pelo momento do nosso país, tão malcuidado nesses momentos difíceis.
Mas vem também uma reverência: o Brasil é estrela de primeira grandeza no Cannes Lions. Afinal, estamos sempre entre os três países mais premiados, perdendo apenas para EUA e Reino Unido.
Bem, depois de um dia cheio, com um monte de conteúdo bom para ser digerido, é a vez de acompanhar as premiações ou ir a alguma das várias recepções paralelas em Cannes, muitas ainda sob a luz do dia, que insiste em permanecer além das 21h nessa época de verão.
Agora é hora de ir para o hotel, colocar as pernas para cima porque amanhã tem mais. Opa! Peralá! Foi um sonho. Não tem Cannes Lions este ano. Ou melhor, ter até tem, mas é virtual.
Então, agora é sair da cama e ir para a frente do notebook ou celular e acompanhar as palestras pelos quadradinhos do Zoom. Mais do mesmo, nesses dias de home office… O conteúdo é bom, mas – sorry – a experiência não se compara.
Assistir ao Cannes Lions por meio de telas é uma sacanagem. A versão online serviu para deixar claro: não dá para reproduzir a mesma experiência do “ao vivo” de um evento como esse. Contando os dias para 2021…
Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) alexis@ampro.com.br