Profissionais como Laura Esteves, Rafael Pitanguy e Marco Giannelli, o Pernil, falam sobre suas expectativas para o festival, que retorna à riviera francesa após dois anos

A edição deste ano do Cannes Lions terá um significado ainda maior para o mercado de comunicação: marcará o reencontro, após dois anos, dos maiores nomes da criatividade internacional na riviera francesa.

Quando acabada a premiação de 2019, ninguém poderia imaginar que a edição de 2020 seria cancelada por causa de uma pandemia e que a de 2021 seria totalmente online.

Agora, no momento de retomada, a expectativa é de que o festival reflita os aprendizados dos últimos dois anos e ainda o impacto de uma guerra em território europeu, com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Além do potencial inovador e a qualidade criativa, acredito que os olhares serão direcionados aos cases de impacto. A pandemia e a guerra na Ucrânia fizeram as marcas colocarem em prática seus discursos sobre propósito e metas ESG e se transformarem em agentes sociais super ativos", afirma Matias Menendez, ECD da AKQA.

Na edição do ano passado, a temática social e inclusiva dominou a premiação do festival, que reconheceu trabalhos como 'Salla 2032', da Africa, 'Eu Sou', da VMLY&R.

Programação
Ontem (27), a organização divulgou os palestrantes que estarão no Cannes Lions 2022. A programação foi construída em cima de áreas classificadas pela organização como 'prioritárias', identificadas por meio do Estudo da Criatividade do Cannes Lions – diversidade e inclusão, sustentabilidade, dados, transformação de negócios e eficácia criativa são algumas delas.

Entre os nomes estão David Droga, fundador da Droga5 e CEO da Accenture Song, Wendy Clark, CEO da Dentsu International, Mark Read, CEO do WPP, o CEO do LinkedIn, Ryan Roslansky.

"Acho que vai ser ótimo poder participar do festival presencialmente, reencontrar as pessoas e relembrar ou conhecer a altura delas (depois de 2 anos por zoom, teams, etc., essa é uma das maiores surpresas dos encontros ao vivo). Quanto ao festival, acho que temas como diversidade e sustentabilidade continuarão cada vez mais fortes. Afinal, Cannes Lions é um reflexo das preocupações e ambições das empresas no mundo todo – não à toa, ESG é a sigla mais falada do momento, né?" Marco Giannelli (Pernil), CCO da AlmapBBDO 
"Vai ser interessante ver o contexto pós-pandemia e da guerra na Ucrânia refletido na comunicação e na própria organização do Festival. Depois de dois anos remotos existe o hedonismo de querer se conectar e relacionar depois de tanto tempo. Mas os impactos da guerra tão próxima e sem prazo para acabar devem dar um choque de realidade. Tudo isso somado a um cenário econômico desafiador que acendeu um lado funcional e racional nas marcas. O Festival de 2021 consolidou dois anos da indústria em apenas um. O que resultou em um corpo de material muito rico. Neste ano, refletindo a produção de 12 meses e menor investimento de muitas marcas, é provável que o júri esteja com o olhar atento a boas soluções de baixo orçamento. O que é sempre especialidade da criatividade brasileira. Em relação ao que deve pesar nas avaliações, é difícil não ceder ao hábito de comparar o material inscrito com os vencedores dos anos anteriores. Mas, se quisermos ser realmente justos, um bom exercício poderia ser considerar também o contexto: como o que estamos vivendo influencia o que estamos produzindo.” Laura Esteves, diretora-executiva de criação da Galeria
“O que eu espero de Cannes nesse ano é uma ampliação das pautas dominantes. Ideias que tragam temas como raça, etnia, gênero, diversidade, inclusão social, sustentabilidade devem continuar atraindo os olhares. Somadas a elas, acredito que devem chegar com força ideias que abordem saúde mental e tentativas de recuperação da economia. A guerra da Ucrânia certamente levanta discussões sobre liberdade e democracia dentro do festival, mas penso que ainda não veremos um reflexo importante disso nos projetos inscritos. Na minha opinião, o que vai pesar nas avaliações continua sendo a relevância das ideias para as grandes pautas mundiais, independentemente da categoria. Boas ideias no metaverso também devem atrair os holofotes.” Fabio Ludwig, diretor de criação da WMcCann
"Além do potencial inovador e a qualidade criativa, acredito que os olhares serão direcionados aos cases de impacto. A pandemia e a guerra na Ucrânia fizeram as marcas colocarem em prática seus discursos sobre propósito e metas ESG e se transformarem em agentes sociais super ativos. Muitas empresas compartilharam responsabilidades em situações de crise junto com governos e imprensa, se transformando em protagonistas da resolução de problemas, seja utilizando o alcance dos seus canais para combater a desinformação, com doações e até reestruturando suas operações. E também devem aparecer muitas ideias do lado do entretenimento, a entrada das marcas no universo de games, no metaverso e NFTs." Matias Menendez, ECD da AKQA
"Por incrível que pareça, ir para Cannes significa encontrar dezenas de brasileiros e brasileiras que lideram nossa indústria. Desejo muito rever colegas do nosso mercado e ter tempo de qualidade para comparar impressões e aprender com as diferenças. Em relação ao conteúdo, tenho especial interesse em B2B, pois, há 5 anos, criamos uma unidade b2biz na Fbiz, 100% dedicada ao tema. Por último, no contexto atual de imensa instabilidade no mundo e, particularmente, no Brasil, busco inspiração para desenvolver iniciativas de cunho social junto com nossos clientes, parceiros e trade. Afinal, vivemos em uma época em que a comunicação exige cada vez mais conexão com nosso tempo. Em outras palavras, a criatividade permanecerá no topo das avaliações do júri, mas os trabalhos mais relevantes estarão ligados às pessoas e à realidade do dia a dia do consumidor, bem como aos seus anseios e comportamentos, valorizando um diálogo próximo e diverso." Paulo Loeb, CEO da Fbiz 
“Essa primeira edição do Festival pós-pandemia deve estar gerando sentimentos muito conflitantes em todos. Por um lado é ótimo qualquer volta a normalidade, mas por outro lado, reunir gente de 4 cantos do planeta num lugar me deixa um pouco apreensivo. Pretendo tomar todos os cuidados e seguir usando máscara nos ambientes fechados. Quanto ao conflito na Ucrânia, ao que tudo indica será uma guerra demorada e que veio num momento muito delicado para a economia mundial. No entanto, se esse dois anos nos mostraram algo é que fazer previsões com mais de 15 dias é futurologia. Eu só posso torcer para que as coisas se resolvam o mais rápido possível. Voltando para o festival, eu espero que ele sirva pra resgatar e ajudar o nível criativo. Como tudo nesses últimos dois anos, a criatividade também sofreu com a pandemia. Festivais como Cannes sempre indicaram um norte. Espero que os jurados olhem muito para o storytelling das ideias. Acho que esse sempre foi e sempre deveria ser o foco principal dos profissionais criativos” Pedro Utzeri, VP de Criação da Leo Burnett Tailor Made 
"Durante o período de isolamento e do home office obrigatório, foi incrível perceber que sim, a gente pode criar e produzir remotamente. Projetos incríveis. Mas agora, com a volta gradual, é possível perceber que tem algumas coisas que só temos mesmo no presencial: a expressão corporal, o olho no olho, as reações espontâneas. Os critérios de sempre, como criatividade e simplicidade, seguem vivos. Acredito que o bom uso da tecnologia também é um diferencial. Mas, considerando os tempos que passamos, acredito que a relevância para as pessoas deva ser algo imprescindível para uma ideia vitoriosa. A pandemia transformou ou reforçou algumas percepções da nossa indústria. Entre elas, a noção de que as marcas podem transformar a nossa realidade. Depois de tudo que passamos, não dá mais para uma marca não ser relevante. Com esse legado ainda fresco, acredito que o propósito e o compromisso das marcas com o mundo e com a sociedade vão ter maior peso nas decisões" Angerson Vieira, diretor executivo de criação da Africa
"Certamente, podermos nos reencontrar será o grande diferencial desta edição do Festival de Cannes. Nada substitui as trocas com os jurados e com os colegas de profissão que o evento presencial propicia. Os júris também acabam possibilitando discussões mais profundas e isso sempre impacta no resultado final. Já a Guerra tem o impacto direto de tirar as agências russas da competição, e de incentivar a participação de profissionais ucranianos, como a organização do festival já anunciou. Mas teremos de ver até que ponto isso ocorrerá na prática. Com a tendência de as marcas assumirem cada vez papeis sociais, é possível que alguns trabalhos, especialmente da Europa e dos Estados Unidos abordem essa questão." Rafael Pitanguy, CCO da VMLY&R 
"Atualmente, eu vejo um movimento das marcas de tentarem criar conversas, momentos e ocasiões mais leves para confrontar a realidade do mundo atual. E os recentes acontecimentos fizeram com que o contexto de criar se tornasse diferente, ele ficou mais humano, e mais conectado com os propósitos das pessoas. E um resultado desse comportamento é uma tendência que vem aparecendo fortemente nos últimos festivais, que é o questionamento entre propósito de uma marca versus o quão verdadeiro é a mensagem em questão. Creio que as empresas com propósitos verdadeiros serão reconhecidas entre as pessoas" Sergio Mugnaini, CCO da Ogilvy
“Cannes sempre é épico. A gente sempre aprende, se inspira, se diverte e sai melhor de lá. Talvez esse ano seja o maior da história. Porque tem muita saudade acumulada. Respirar criatividade, inovação e tendências lá, in loco, é diferente. Será bonito de ver. E pra quem não estiver lá, será muito importante ouvir. Porque as discussões desse ano também serão as mais relevantes dos últimos tempos. Pandemia e impactos, guerras e injustiças, realidade e ressignificações. Além de presencial, será um festival mais humano. O que deve pautar a valorização de ideias transformadoras, representativas, inclusivas e que façam uma real diferença na vida das pessoas.” Otavio Schiavon, diretor executivo de criação da Talent Marcel 
"Além da celebração do melhor trabalho criativo produzido pela indústria, a volta presencial do julgamento dos trabalhos, auxilia na qualidade da discussão para que as grandes ideias ganhem ainda mais destaque e continuem nos inspirando no dia a dia" André Gola, CCO da Lew'Lara\ TBWA
"Há décadas, publicitários de todos os continentes buscam ideias com esse poder de mudar o mundo. A verdade é que alguns o fazem com o intuito de ganhar um leão em Cannes e outros o fazem por de fato acreditar que temos um poder enorme nas mãos. Eu pessoalmente acredito que temos o poder de transformar negócios e a sociedade com as nossas ideias. É isso que buscamos aqui na DPZ&T. É isso que me faz levantar da cama apaixonado pelo que faço todos os dias. Sendo assim, acredito que esse ano os olhares dos jurados vão estar direcionados para onde sempre estiveram nas últimas décadas. Só que com mais intensidade. Afinal, é a primeira edição presencial de Cannes após pandemia e temos uma guerra inconcebível rolando na Ucrânia. Como criadores e propagadores de grandes ideias, a gente não pode perder a chance de ajudar a transformar o mundo em que vivemos” Benjamin Yung, CEO da DPZ&T