CCO da Ogilvy afirma que Digital Craft é uma das categorias mais interessantes do Cannes Lions

Sergio Mugnaini, CCO da Ogilvy, é o representante brasileiro no júri de Digital Craft Lions, que celebra a arte tecnológica e premia trabalhos que demonstrem forma e função excepcionais em um contexto digital.  

“Arrisco dizer que poderá ser uma das categorias mais interessantes em Cannes este ano pelo momento em que estamos, com a chegada de novas possibilidades tecnológicas”, diz.

Expectativas
As expectativas para o júri de Digital Craft este ano estão altas, principalmente pelo fato de que, recentemente, o mundo se transformou tecnologicamente em uma velocidade muito acelerada. Inteligência artificial passou a ser um assunto frequente na mídia, ChatGPT passou a ser questionado em alguns países, e novas profissões surgiram rapidamente devido à automação da IAs. Todas essas mudanças de atitude das pessoas influenciaram o jeito com que elas se relacionam com marcas no campo da comunicação. Espero ver o novo para poder entender o amanhã, não deixando de julgar como nós já chegamos até aqui.

Perspectivas
Sempre que entro em um júri, imagino que estou entrando em uma exposição, um museu de arte. Lá, caminho pelas obras, quer dizer, pelos trabalhos, e vou tentando encontrar padrões, algo que identifico que são trabalhos diferenciados, na maior parte, interligados. Ao final da exposição, crio uma espécie de um repertório temporal, onde eu consiga traduzir para mim mesmo o que eu acredito que seja uma tendência, algo visionário. Eu espero ver algo mais do que o novo, algo que me ajude a transformar o que eu faço para as marcas em algo tecnologicamente surpreendente, atemporal. Não quero olhar só para uma solução NFT, alguma solução automatizada por alguma IA ou trabalho lindo produzido pelo Dall-e Midjouney. Quero encontrar algo que não dependa só da tecnologia, mas parta de uma premissa que por trás de algo tecnologicamente superbem feito, tem uma grande ideia.

Destaques
Nos últimos anos, algumas marcas e serviços endereçaram muito propósito aos trabalhos. Mais do que produtos, pessoas se relacionam com marcas que se identificam e faz muito sentido que as empresas abracem temas diversos para manter uma conversa plural e não singular. Nesta categoria, é provável que as questões ambientais continuem a ser uma temática importante.

Sergio Mugnaini: 'conquistar um troféu em Cannes é realmente algo difícil, mas isso não deve desestimular ninguém' (Divulgação)

A mudança climática, a poluição e a perda de biodiversidade são questões críticas que afetam o mundo inteiro e muitas pessoas estão buscando soluções e maneiras de fazer a diferença. Algumas marcas vão continuar endereçando este propósito em suas ações. Agora, para mim, nesta categoria poderá existir uma temática sobre o que é de direito de uma pessoa, quem pode utilizar a sua voz, sua imagem depois da chegada da IA. Atualmente, artistas passaram a ter as suas vozes reproduzidas, pessoas passaram a ter vídeos espalhados nas redes socias utilizando deepfake. Qual será o debate ético sobre esse tema?

Digital Craft Lions
A Categoria Digital Craft une os pilares com o qual eu mais me identifico. Estamos falando de criatividade, tecnologia e tudo isso executado com perfeição. O craft, vem daí, da capacidade de concatenar uma ideia com tecnologia, de uma forma brilhante. Arrisco dizer que poderá ser uma das categorias mais interessantes em Cannes este ano pelo momento em que estamos, com a chegada de novas possibilidades tecnológicas.

Preparação
O processo do júri este ano está muito interessante. Tivemos uma reunião logo quando ele foi formado para nos conhecermos e estamos em contato o tempo todo, dividindo opiniões, sugestões e comentários sobre os trabalhos que já começaram a chegar.

Inspirações
No ano passado, um dos trabalhos que mais me marcaram foi “Backup Ukraine”, para Unesco, Gran Prix em Digital Craft, a categoria que julgo este ano. O projeto juntou um lado tecnológico inovador com um propósito claro: recriar e refazer um país destruído pela guerra. Isso só foi possível através da tecnologia e criatividade, dois pilares de Digital Craft.

GP de 2023
Conquistar um troféu em Cannes é realmente algo difícil, mas isso não deve desestimular ninguém. O prêmio é a única forma de elevar a barra de qualidade da indústria publicitária. Quanto mais difícil a conquista, mais alto é o valor. As estatísticas provam que ser premiado com um troféu no maior festival de criatividade do mundo é, de fato, uma conquista para poucos: apenas 0,07% do total de peças inscritas consegue o feito de ganhar um Grand Prix. E não é apenas o Grand Prix que está distante dos sonhos da maioria dos que se inscrevem no festival. As estatísticas dos Leões de Ouro, Prata e Bronze também mostram que a seletividade do júri segue alta, em relação à quantidade total de inscrições em Cannes, o percentual de trabalhos que serão contemplados com Leões é sempre pouco superior a 1%. Não há uma fórmula para ganhar Leões, mas uma boa indicação é não criar peças pensando nesta premiação, mas, sim, pensar em um conteúdo que tenha proposta para a marca, para a agência e para sociedade que consome aquele conteúdo no final.

Desafios
Acredito que o maior desafio serão as discussões no júri sobre o papel das novas tecnologias. O mundo está passando novamente por uma grande transformação, assim como já passou com a chegada da internet nos anos 1990. À medida que a tecnologia evolui e se integra em mais áreas da sociedade, novos desafios certamente surgirão. Como as marcas podem utilizá-las sem ultrapassar as fronteiras éticas?