A palavra inovação é demasiadamente usada para se referir a novas tecnologias dentro das empresas ou novos produtos do mercado, mas fora seu significado tão amplo para os negócios, como podemos conceituar a inovação dentro do ecossistema cultural brasileiro?
Não é difícil responder a essa questão quando olhamos para dentro de casa. Na prática, é possível enxergar os sinais de inovação tecnológica no país desde os anos 50, quando o Brasil começou a se industrializar. Mas foi há cerca de oito anos que começamos a perceber uma corrida mais ávida e competitiva pela inovação como um novo pensamento estratégico que começou a ser inserido dentro da cultura das empresas, o que foi transformando a maneira como as marcas lidam com o consumidor e um olhar mais crítico em todos os processos internos dentro de uma operação, tornando a lente da inovação muito ampla e necessária.
O brasileiro é tipicamente conhecido pelo seu otimismo, um povo muito criativo e flexível em várias circunstâncias e essas são características favoráveis à inovação.
Quando comparamos com outros países da América Latina, vemos que o Brasil é um país industrializado, sofisticado e com desenvolvimento tecnológico, e mesmo com a dificuldade socioeconômica, o brasileiro tem a habilidade de trabalhar em um ambiente de escassez e ainda há muito potencial de inovação de norte a sul do país. A diversidade cultural também é um ponto favorável, que estimula referenciais criativos e, somada às características comportamentais, gera um ambiente propício para inovar.
A geração de hoje está em vantagem com relação à dos anos 50. Apesar da formação universitária do brasileiro ainda ser mais conservadora, essa geração já nasce conectada ao que está acontecendo no mundo de forma instantânea, sem precisar, por exemplo, viajar para o exterior para experienciar e aprender coisas novas, característica que permite às pessoas terem perspectivas mais visionárias para uma infinidade de possibilidades. Outro fator determinante para esse cenário é que estamos em um país em desenvolvimento e com menos oportunidades se comparado com os países desenvolvidos, isso faz com que as pessoas abracem com todo engajamento as oportunidades que lhe são oferecidas.
O fato é que a inovação na prática dói porque demanda um alto risco, habilidade e aprendizado, chega a ser uma linha tênue entre o fracasso e o sucesso e depende muito da estrutura organizacional das empresas. Mesmo assim, vale o risco e percebe-se pelo movimento, sobretudo das empresas globais, muito puxadas pela tecnologia, que tem valido a pena abrir espaço para errar de vez em quando para sair à frente dos outros. É aí que está a graça de correr o risco e engajar pessoas a exercitar a visão inovadora e criativa, algo que tem que estar na cultura das empresas. Para auxiliar nestas questões, especialistas têm atuado muito nessa missão, ajudando as organizações a identificar problemas que muitas vezes elas nem sabem que existem e, a partir dos insights, mudarem seu comportamento para atuar de maneira mais inovadora.
O ideal é estarmos sempre repensando, reinventando, pensando em coisas não previstas e não pensadas, que acabam dando certo. Isso é a veia da inovação no nosso dia a dia. Faz parte do nosso DNA não ter tudo sempre à mão, o que faz com que as soluções sejam mais versáteis e estejamos receptivos para ideias não previstas, diferente de culturas mais tradicionais e conservadoras.
Apesar de não existir ainda uma visão consolidada de fora para dentro do Brasil como um país inovador, existem aqui empresas muito inovadoras e relevantes, com atuação global, que estimulam e disseminam as mentes brilhantes nacionais, fazendo com que empresas no ramo de design, negócios e tecnologia se destaquem competitivamente a nível internacional. Isso é um ponto para o brasileiro se apropriar de um comportamento mais global e menos regional, em linhas gerais, e já temos ferramentas que possibilitam isso hoje, como acesso amplo à informação, digitalização, trabalho remoto, etc. Dessa maneira esse ecossistema vai se retroalimentando positivamente.
Levi Girardi é CEO da Questtonó Manyone