Agora na vice-presidência de mídia, conteúdo e comunicação da Natura para a América Latina, o executivo Carlos Pitchu experimenta pela primeira vez o gostinho de atuar do outro lado do balcão, que conhecia apenas por meio da usual metáfora usada no mercado publicitário.
“Mas agora, com toda essa fragmentação no jeito de comunicar, criar marcas e vender, estou achando que o balcão não é mais o mesmo”, diz Pitchu.
Ele criou a agência Salve, que mais tarde fundiu sua operação com a Tribal, recentemente absorvida pela SunsetDDB após a sua saída da empresa.
Pitchu afirma que as agências DPZ&T e Africa vão permanecer no atendimento à Natura, mas vai buscar um olhar mais estratégico para a comunicação da marca. Ele vai integrar o conselho da empresa de beleza e se reportará diretamente ao presidente João Paulo Ferreira, da região Latam do anunciante. Confira sua entrevista.
Quais as suas atribuições na Natura?
Sou o responsável pela vice-presidência de mídia, conteúdo e comunicação para Natura &Co América Latina. Em resumo, meu papel é planejar e executar estratégias para a distribuição efetiva de nossas narrativas para os públicos de nossas marcas.
Poderia explicar como vai funcionar o hub e sua integração com o marketing?
Os meios de comunicação se tornaram uma malha complexa de pontos de contato e o seu pleno domínio é decisivo para a construção de marcas e geração de negócios. Por esse motivo, a Natura decidiu por criar uma grande área especializada nesse tipo de estratégia, incluindo capacidade de gestão de canais proprietários, relacionamento com imprensa e redes de influenciadores e geração de leads.
É uma internalização? De mídia e produção de conteúdo?
Trata-se de um processo de domínio estratégico e de expertises que são fatores-chave de sucesso do nosso negócio. Mas isso não anula o papel das agências e demais parceiros.
Como será a relação com a Africa e DPZ&T?
A princípio tudo se mantém. Para o médio e longo prazo, imagino as agências sendo mais estratégicas e contribuindo criativamente de forma ainda mais ampla.
Como pretende posicionar a Natura? Que já é uma marca engajada em pontos como inclusão e gênero? Onde precisa avançar?
A Natura já tem um posicionamento e reconhecimento extraordinários. Nosso primeiro movimento será na direção de unidade entre os pontos de contato e regiões geográficas. O filme na TV, o CRM, a comunicação com as consultoras, deverão pulsar juntos, proporcionando camadas estruturadas de compreensão, gerando muito mais eficiência.
A Natura é benchmark?
Sem dúvida alguma. A Natura é uma referência em equilibrar interesses comerciais com propósito em escala. É um exemplo para o mundo de que é possível conciliar resultados financeiros com geração de impacto positivo na sociedade.
Quais os planos para a América Latina?
É uma região que segue crescendo e ganhará atenção especial da nova área que passo a liderar. Por conta de nossa origem brasileira, nosso ponto de partida sempre foi o Brasil, mas para nos tornarmos realmente globais, nosso ponto de partida passa a ser o mundo, respeitando os diferentes níveis de reconhecimento e maturidade de nossas marcas em cada um dos países.
Como a pandemia interfere no ambiente estratégico da Natura?
Não há dúvidas que traz um efeito transitório negativo para os negócios e para as nossas comunidades. Porém, vale observar que nossa multicanalidade e capacidade de adaptação a essa nova realidade têm mitigado esse efeito. Nossas plataformas digitais, unidas ao canal de venda direta, se provaram muito dinâmicas para esse momento específico que estamos atravessando. Imagino que quem dependa prioritariamente de lojas físicas esteja sentindo muito mais nesse tempo de isolamento. Desse modo, podemos focar mais no cuidado das pessoas. Boa parte da nossa produção já está dedicada à produção de itens essenciais de higiene pessoal e álcool em gel e liquido, cujos primeiros lotes foram destinados para doação a órgãos de saúde e comunidades mais vulneráveis na América Latina.
Como ficam as revendedoras?
Em 50 anos de existência a Natura já atravessou outras crises, gerando renda para sua rede de relações. Dessa vez não será diferente. Sabemos do papel social que nossa rede tem para cada uma das pessoas envolvidas e faremos de tudo para que ela crie mais oportunidades e ainda mais esperança a todos até que a normalidade, ou a nova normalidade, finalmente chegue.
Como define esse seu novo momento, do outro lado do balcão?
Como publicitário, sempre ouvi a metáfora do balcão. Mas agora, com toda essa fragmentação no jeito de comunicar, criar marcas e vender, estou achando que o balcão não é mais o mesmo. Nem sei se seria correto me colocar como um anunciante, na concepção tradicional da palavra. Sigo um agente estratégico de conexão de marcas com corações humanos. E seguirei valorizando muito o trabalho fundamental que as agências têm nesse processo. Na Natura, acho que esse balcão sempre foi uma grande roda de cocriação, que quero cultivar, respeitando, valorizando e reconhecendo todos os nossos parceiros.