Em novembro de 2019 o coreógrafo e bailarino Rubens Oliveira performou na Avenida Paulista, em São Paulo, solo capturado pelo diretor Rafael Kent, da produtora Cave.
O resultado é o filme Aseptic, lançado na semana passada após a prorrogação da quarentena por mais duas semanas no estado.
A ideia é mostrar que o isolamento é uma perda temporária de liberdade. Mas é vital.
“Os movimentos intensos e catárticos convidam a se libertar das amarras e valorizar a vida plenamente, apesar da perda de liberdade e insegurança atual”, contemporiza o diretor
O roteiro faz referência ao discurso do ativista norte-americano Larry Kramer, que definiu o HIV como uma praga.
“Assim como naquela época, sobram informações truncadas e faltam políticas públicas para lidar com a pandemia. A responsabilidade individual, e ao mesmo tempo social, é essencial para evitar o contágio e a disseminação ainda maior de pandemias”, justificou Kent, que no epílogo cita a obra “A peste”, de Albert Camus.
O audiovisual é ambientado com a música “Atlântico”, do produtor e DJ baiano Ubunto, responsável pela trilha sonora de Aseptic. Kent finaliza:
“Isolamento e esterilização são as únicas alternativas possíveis para evitar o contágio.”
Confira a entrevista de Kernt:
De onde surgiu a ideia de realizar Aseptic?
Foi um erro de percurso. Aqueles erros que acabam criando acertos. Quando digo erro de percurso, quero dizer que ele tinha uma concepção e acabou tomando outro rumo. Mas, desde o início, era uma experimentação autoral. Ainda nesse sentido, acredito que mudanças vêm com erros, nas artes especialmente. O medo de errar nunca trouxe o novo. Precisa de muita coragem pra mudar, faz parte, dói, mas é lindo.
Qual a motivação?
. Eu estava entre um hiato de produções, entre o clipe do BaianaSystem e o filme de Waze que fizemos. Eu queria filmar algo. Como eu moro perto da Paulista, vou ali às vezes no domingão (na verdade, ia, rs) e sempre me chamou a atenção aquele vão ali embaixo, especialmente nos dias de sol e no contraste que a luz criava ali dentro. Já tava a fim de filmar ali fazia muito tempo, mas aí bate aquele lance de “ah, não dá pra fazer um filme sozinho”, essas paradas que o processo te faz acreditar, saca? Só que eu tava naquele hiato, eu precisava realizar algo. A música já estava na minha cabeça. No dia que conheci o Ubunto e ouvi “Atlântico”, já sabia que ela seria a trilha de alguma coisa autoral minha. Mas eu ainda precisava de uns parceiros, na verdade, precisava de um artista, rs. O Rubens, esse ser iluminado que está no filme, tinha feito todo o corpo de balé do clipe do Baiana e não tinha outra pessoa pra pensar. Perguntei se ele topava colar lá na Paulista num domingão com o Luiz, o fotógrafo, que também estava no clipe do Baiana, e eles toparam.
Uma equipe de três pessoas?
Sim. Estava então montada a minha equipe, a minha equipe imensa de três pessoas.
Parece que teve um drone na captação das imagens?
Sem dúvida! Levei o drone também. O pensamento era: “vai que”. Não levamos nem a música, o Rubens tem esse dom da expressão corporal. Isso é muito latente nele e eu já sabia o que poderia vir. Ficamos lá algumas horas. E nos divertimos.
O projeto tomou forma com o novo coronavírus?
Esse material ficou no meu HD durante um bom tempo; tentei editar algumas vezes, mas precisava de um pouco de sofrimento, aquele desapego de editor e muito foco pra terminar, e sem a quarentena acho que nem teríamos o “Aseptic”. Por isso que eu acho que o filme, como ele é hoje, é o meu maior erro/acerto de todos. Tudo fez mais sentido, até a minha vontade de terminar a edição. Edito desde sempre, sabe? Gosto muito, mas sofro muito. Bem, todas as peças se encaixaram como tinham que se encaixar. Trouxe mais parceiros, como o Pedro Reis, que fez toda a parte de direção de arte e types.
E outros projetos?
Já fizemos grandes projetos, todos muito bons e, melhor, divertidos, “Take a Spin”, para a Audi, e “Only in Bahia”, para a Doritos, e um terceiro que deve sair em breve, mas ainda não podemos divulgar.