Detalhe da apresentação de Mauro Perez no Hall da Fama

 

Presidente do CCSP (Clube de Criação de São Paulo) e diretor de criação da F/Nazca S&S, Eduardo Lima assina o “memorando” do 36º Anuário de Criação – obra que reúne os trabalhos mais criativos da comunicação brasileira – dizendo, entre inúmeros assuntos, que “do jeito que a coisa vai, daqui a pouco uma ideia terá que ser apresentada em três vias, com autenticação mecânica, selo de garantia ‘não vai dar merda’ ao lado de certidão de nascimento e RG”. Já João Linneu, criativo da mesma agência e que assina a direção de arte dessa edição do Anuário, diz em sua carta que a obra vem “para afirmar que o CCSP é onde celebramos os heróis que rompem com a mesmice”.

São alguns dos elementos que marcam essa inusitada edição do principal livro que retrata a criatividade do país, e que tem como tema a burocracia. Tema levado a sério até na hora de registrar a entrada de Mauro Perez, vice-presidente de criação da Peralta, no Hall da Fama do CCSP, formado agora por 34 profissionais. Ele foi nomeado por meio de um “Requerimento para Hall da Fama”, um “protocolo oficial”.

O Anuário, porém, tem como principal objetivo passar seu recado a profissionais de propaganda e anunciantes, alertando sobre o “engessamento” da criatividade brasileira. “A crítica serve para vários pontos. Desde aos trabalhos criados para um anunciante obscuro e que são veiculados de madrugada, feito às vésperas das inscrições dos festivais, até a formalidade do regulamento de pesquisas. Não existe uma crítica específica, mas sim ao processo em geral, em uma ampla esfera do universo publicitário”, afirma Lima, dizendo que esse engessamento também existe fora do país, mas que a missão do Clube é alertar a respeito do que está acontecendo “na nossa casa”. “É focado para todos nós, criativos, profissionais de agências, clientes. Se queremos ficar assim e partir sempre para a ideia mais fácil ou se voltamos a ousar. Essa é questão que fica no ar”.

Linneu diz que cabe a todos sair do automático e brigar pelas melhores ideias, exemplificando com algo que ocorre no dia a dia das agências. “Você recebe um briefing, tenta fazer sua melhor campanha, com uma ideia bem ousada. Daí o cliente acha que ultrapassou um pouco os limites de sua marca, e pede para refazer. O que ocorre muitas vezes? Simplesmente o criativo sugere uma celebridade segurando o produto e cantando um jingle marcante, e finalmente o problema está resolvido”, observa, completando que antes de fazer esse Anuário, ele e Lima conversaram bastante sobre o que está ocorrendo no mercado. “Não está fácil para ninguém. Também pelos fatores econômicos externos, claro, mas muito em conta devido à  burocracia que tomou conta do universo criativo”.