Por Suzi Cavalari
A frase do químico francês Antoine Laurent de Lavoisier, de que na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma, nunca foi tão atual, em tempos de busca incessante por inovação. Pode ser uma empresa de transporte que não tem um único carro, como o Uber ou de hospedagem sem sequer um quarto, o caso do Airbnb. É nessa direção que as agências de publicidade têm investido em núcleos para estimular o surgimento de grandes ideias. “Não inventamos a roda. Apenas queremos descobrir como pode funcionar melhor”, diz Marcelo Reis, copresidente da Leo Burnett TailorMade, sobre a parceria inédita da agência com a Miami/ESPM para criação do Innovation Lab. Já a Y&R anuncia um núcleo de startups, que a partir de maio passará a atuar como incubadora para selecionar empresas iniciantes, oferecendo coaching, espaço – no formato coworking – e promovendo conexões com os clientes. A Repense também anuncia uma unidade de negócios que posiciona a agência como integradora no mundo das startups, a operação chama-se Open Innovation, estratégia parecida àadotada pela Agência3, em outubro do ano passado, uma divisão de projetos de inovação.
“No atual contexto do Brasil, inovação nunca foi tão importante. Quando a verba é abundante, fica tudo mais fácil, os recursos financeiros geram o impacto que esconde o “mais do mesmo”com diferentes embalagens. A verba mais enxuta, ou mesmo a falta de verba, impõe aos profissionais tremendos desafios. Costumo dizer que a necessidade é a mãe da inovação, sendo assim, em um contexto de verbas pequenas mais crise, é fundamental que as agências de publicidade se desafiem a pensar em novos modelos, novos jeitos de fazer, e acima de tudo, encontrarem novos caminhos para fazerem diferença para seus clientes e suas marcas”, explica Fernando Góes, sócio da Ockam, consultoria de modelos de liderança, gestão organizacional, estratégia e governança corporativa.
Justamente para encontrar novos caminhos para clientes como Fiat, Chrysler, Samsung, Brasil Kirin e Camil, é que a Leo Burnett dá início àparceria colaborativa com a Miami Ad School.Localizado dentro da escola, o InnovationLabda Leo contará com a participação de alunos, que trabalharão em cases reais da agência, no Brasil e no mundo, acompanhados por tutores da agência, com desafios de negócios.“Vamos beber na fonte”, diz Reis. De acordo com Paulo Sérgio Quartiermeister, diretor da Miami Ad School/ESPM, a parceria está alinhada com os propósitos da escola, que é de sempre inovar. “O InnovationLab é um projeto que todo mundo ganha: escola, aluno, parceiro”, diz. Para participar, os alunos se inscreverão em uma matéria optativa,a partir do quatro trimestre, nos cursos de Criação, Design e Redação. Os portfólios serão avaliados pelo time de criação da LBTM e os selecionados trabalham em briefs reais. No trimestre, entre três e cincobriefs diferentes serão compartilhados, com a presença e participação dos respectivos responsáveis pela conta na agência.
Já o projeto de inovação da Y&R, conta com novo núcleo liderado por Pedro Gravena, headof digital andinnovation da agência, profissional que chegou à Y&R no final do ano passado, com a missão de dar maior escala às ações inovadoras criadas pela agência. Seu papel é atuar integrado com todas as áreas, reportando-se ao VP de criação, Rui Branquinho.De acordo com David Laloum, presidente da Y&R, será adotado um sistema “ganha-ganha”, tanto para o lado das startups que serão apoiadas pela Y&R, quanto para as marcas dos clientes, que ganham em inovação e novos negócios. “A ‘hospedagem’ de startups é um formato Beta, que será testado e modificado todas as vezes que for necessário. O tempo de permanência delas na agência será randômico, de três a seis meses”, diz.
Outra agência a testar o mesmo modelo é a Repense, que lançou em novembro do ano passado, oOpen Innovation, unidade de negócios que a posiciona também como integradora no mundo das startups. “Depois de uma grande avaliação e pesquisa, quando mapeamos as diversas aceleradoras, incubadoras e fundos de investimento já existentes, dentro e fora do Brasil, concluímos que a Repense deve assumir o papel de “conectadora” nesse universo, fazendo a ponte entre os novos modelos de negócios e os desafios de grandes empresas e marcas. Este será o marco comemorativo dos nove anos da agência”, afirma Otavio Dias, sócio-fundador da Repense.
A unidade Open InnovationRepense, firmou três parcerias estratégicas iniciais: Aceleratech, considerada melhor aceleradora da América Latina pelo grupo Latamfounders; Fiap, um dos maiores centros de excelência em ensino de tecnologia, inovação e negócios do país e a Yunus Negócios Sociais, referência em empreendedorismo social em economias emergentes. Estratégia similar àRepense adotou a Agência3, que já firmou parceria com 15 startups para gerar novos negócios. “É uma divisão de projetos de inovação da agência com espaço para novas metodologias e pensamentos”, explica Eduardo Barbato, VP de estratégia da Agência3.
Os contratos com as startups formaram um laboratório híbrido dentro da agência para desenvolver muito mais soluções de negócios por meio de ideias disruptivas do que somente projetos de comunicação, com foco em rentabilidade, segundo Barbato. “O mundo da comunicação vem mudando, a essência tem a ver com ideias. Eu me capacitei fora do país, durante dois anos, para montar um lab de inovação. Durante este período me envolvi com algumas startups e identifiquei um gap, haviam grandes ideias, mas os que estavam a frente destas startups eram engenheiros, a minha ideia foi de contribuir como agência de comunicação para pensar em projetos inovadores não apenas em comunicação”, conclui.
