O Brasil tem uma história de vice-presidentes da República que, ao assumirem o cargo maior por impedimento do titular, deram-se melhor do que o anterior andava apresentando.
Assim, não será por temor histórico que prosseguiremos tendo o senhor Jair Bolsonaro na Presidência, sem nenhum temor quanto ao futuro e, principalmente, sem a necessidade de se rasgar a Constituição.
Já em nossa edição de 30 de março deste ano, portanto há menos de um mês, alertávamos os nossos leitores no Editorial de então (Tormentas) sobre a necessidade cada vez mais premente de Bolsonaro ser destituído do mais alto cargo da nação, votando-se um impeachment dentro dos parâmetros legais (já naqueles dias havia motivos para tanto) e entregando-se em consequência a Presidência ao vice Mourão.
Pelo que já demonstrou até aqui, Mourão tem todas as qualidades para cumprir o restante do período de Bolsonaro, com a possibilidade, acreditamos nós, de exercê-lo com a categoria necessária ao desempenho do mais alto cargo da República.
Destarte, não haverá golpe como também tivemos (e lamentamos) no passado e o país caminhará a passos largos, ao que tudo indica, para o reencontro com o desenvolvimento e a necessária paz e competência para que isso ocorra.
Há pelo menos duas grandes verdades nesse jogo de xadrez: Bolsonaro não pode mais continuar após o episódio da saída de Moro e Mourão, repetimos, reúne todas as qualidades para ser o presidente da República de que o país tanto necessita para se reerguer, principalmente após o cessar-fogo da Covid-19, que nos obrigou a um confinamento que protegeu milhares de vidas, mas que apresentará uma conta a ser paga pela maioria dos brasileiros que ainda não sabemos o seu tamanho.
Que nesta hora sem dúvida decisiva para todos não se apresentem os aproveitadores de plantão, apregoando a necessidade de novas eleições.
Não precisaremos disso, embora temos um STF que tudo pode, pois o vice existe exatamente para substituir o titular nos seus impedimentos, desde que esteja completamente afastado dos motivos que levaram o titular a sofrer o impeachment. É assim, quer nos parecer, que se apresenta o quadro aqui abordado neste momento.
Não temos dúvidas que não faltarão as cassandras, a propagar que deverão ser realizadas novas eleições. O Brasil é rico em produzir oportunistas de plantão.
Basta, porém, verificarmos na Constituição o que ela determina no caso do afastamento do presidente, com o que já nos deparamos em vezes anteriores, ainda que sob outras Constituições.
Por tudo o que conhecemos de Mourão neste ainda pouco tempo de vice, temos a certeza de que vai brilhar como outros grandes presidentes brilharam no passado, sem arroubos de valentia desnecessária para quem, aceitando ser vice do ainda atual presidente da República e galgando o primeiro lugar com o afastamento legal deste, demonstra implicitamente uma valentia interior – a boa valentia – para todas as tempestades que terá de enfrentar, devido às exigências do cargo.
Mas acreditamos que Mourão se sairá muito bem delas, consolidando um governo que tinha tudo para acertar com o seu primeiro titular, faltando-lhe, porém, a necessária serenidade para atingir esse objetivo.
Vamos todos torcer aqui em São Paulo para que o governador João Doria consiga realmente suspender a quarentena a partir do dia 11 de maio, ainda que de forma paulatina.
Ex-publicitário, João Doria bem sabe que de toda essa grave pandemia que se abateu sobre a humanidade, em nosso país e mais particularmente em São Paulo, várias categorias empresariais e profissionais sofreram mais, dentre elas as atividades publicitárias, cujas agências, além de cerrarem suas portas como a grande maioria das atividades, desenvolveram com imensa dificuldade o home-office.
O público pode sentir isso facilmente, ao deixar de se deparar com comerciais e anúncios na mídia, não só porque os anunciantes também estavam paralisados, como também porque a aprovação de peças e campanhas publicitárias depende de muitas apresentações aos responsáveis pelas marcas.
Se a reabertura se der mesmo no dia 11 de maio e sendo reescalonada por setores de atividades, que a publicidade seja incluída entre as primeiras, pelo pouco risco de contágio que oferece aos seus empreendedores e profissionais, como também porque, além dos espaços de trabalho de pelo menos metade das agências serem amplos, possibilitando o talvez ainda necessário distanciamento entre as pessoas, está se tratando de empresários e trabalhadores com esclarecimento acima da média.
Muitos dos quais lidaram nestas últimas semanas com as particularidades da pandemia na criação e produção de campanhas e peças isoladas, representando portanto um contingente extremamente esclarecido sobre as necessidades de se lidar (bem) com o vírus.
Além do mais, há que se considerar a dependência da mídia em relação à publicidade. Quem sustenta aquela é esta e não podendo aquela paralisar suas atividades como esta procedeu, supõe-se que a grande maioria dos meios está trabalhando no vermelho, com grandes dificuldades para se manter.
O balanço final dessa tragédia poderá vir a nos surpreender, com grandes mudanças no setor.
Nosso colaborador e por vezes inclusive orientador, Francisco Madia de Souza, completará este ano meio século com a sua coluna no PROPMARK, atualmente batizada We Love Marketing. A ele agradecemos pelas luzes trazidas para as nossas páginas durante todo esse longo tempo.
Armando Ferrentini é diretor-presidente e publisher do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br)