A CP+B Brasil celebrou cinco anos de atividade na última semana. A agência, que atende clientes como Ambev, Diageo, Pandurata, Grupo Boticário, Picpay, Red Balloon e American Airlines, entre outros, reuniu seus colaboradores em um cinema de São Paulo para falar sobre passado, presente e futuro. Além dos 150 funcionários e dos sócios André Kassu, Marcos Medeiros e Vinicius Reis, outro nome participou da festa: Chuck Porter.
Chairman e um dos sócios da Crispin Porter Bogusky, o executivo bateu um papo com o PROPMARK e falou sobre diversos assuntos, incluindo a unidade brasileira. “Eu nunca tive fé neles [nos sócios]. Mas eu tive fé no trabalho deles. Acho que eles são profundamente falhos, mas o trabalho deles é ótimo”, diz Porter com a sinceridade e o bom humor característicos.
O momento econômico do Brasil não preocupa. A Crispin, diz Porter, sempre cresceu em momentos adversos, como no estouro da bolha das ponto.com, em 1999. “Trabalho bom importa mais em tempos ruins. Quando está tudo correndo bem, você pode fazer qualquer merda que vai funcionar, quando tudo está mal, você precisa ser bom”, analisa.
Para Chuck, outro ponto de destaque para o êxito no Brasil é o tamanho da agência por aqui. “Esses caras não são grandes o suficiente para ter um grande interesse no status quo, eles estão prontos para a revolução”, afirma. Questionado se a agência seguirá com este espírito mesmo se crescer no futuro, o chairman é sincero: “quanto maior você fica é mais difícil reter o tipo de paixão e aquela sensação de ser o azarão”, confessa.
Indagado se Bolsonaro é bom para os negócios, Porter disse que não conhece o “suficiente sobre ele ou suas políticas para ter uma resposta”. “Eis o que acho: no geral, o Brasil tem tanto talento e tantas pessoas capazes que tem de dar certo. As coisas podem estar ruins por agora, mas, no fim das contas, o Brasil será novamente uma das principais economias do mundo, porque há muitas coisas boas aqui para isso não acontecer”, analisa.
Sobre a publicidade atual, Porter é um desses nomes que, aparentemente, se divertem trabalhando. Para ele, o mercado se leva muito a sério. “Isso aqui era pra ser divertido”, afirma. Citando Bill Bernbach como “herói”, o executivo afirma que um dos méritos do fundador da DDB foi entender que o que as pessoas querem é entretenimento. “Se você não vai dar a informação que elas precisam ou entretê-las, você está arruinado. Elas não vão se importar”, esclarece.
Já quando o assunto é o crescimento de consultorias como Accenture, Porter é curto e incisivo: “não me sinto ameaçado pelas consultorias. Eu me sinto ameaçado pelo aquecimento global, pela guerra no Oriente Médio, mas não pelas consultorias”.
O papel da publicidade neste mundo de mudanças é, na opinião de Porter, tornar as marcas relevantes. Mas ele alerta: “em vez de apenas dizer coisas, elas precisam fazer coisas. Muitos dos jovens prestam mais atenção no que uma determinada marca apoia, quais são seus valores, coisas desse tipo”.
Neste cenário, segue Porter, mais importante que um grande budget, é uma grande ideia. “A maioria do dinheiro gasto com publicidade é desperdiçada, porque a maioria dela é ignorada. Todos os dados apoiam isso. Mas se você tem grandes ideias, você não precisa de muito dinheiro. […] Não posso prever quando uma boa ideia vai viralizar, o que posso prever é que uma ideia ruim ou média não vai. Você tem de começar com uma grande ideia”, ensina.
Mesmo fazendo parte do Hall of Fame da American Advertising Federation, Porter não se considera uma “lenda da publicidade”, como já foi chamado. “Meu palpite é que a maioria das pessoas neste mercado com menos de 30 anos nunca ouviu falar de mim. Nenhum dos meus filhos me considera uma lenda. Minha mulher então, nem se fala”, diz.
Quando o assunto é a expectativa com a CP+B Brasil, Porter fala que não pode prever o que virá, mas acredita que Kassu, Medeiros e Reis terão um ótimo futuro. “Contanto que eles sigam interessados. Talvez eles decidam ir à praia, neste caso, as coisas vão mudar”, finaliza.