E agora? O comercial “Cachorro-Peixe”, da AlmapBBDO para o Volkswagen Fox,  é o Brasil ou da Argentina? No Cannes Lions do ano passado, ele foi comemorado e reverenciado como o único ouro do Brasil na categoria de Film. Para dar lógica à sua própria história de inúmeros prêmios, ele tem de continuar sendo brasileiro. Há, porém, um significativo detalhe em sua trajetória: ele foi criado por brasileiros, aprovado por brasileiros, visto na mídia por brasileiros, mas a produção é totalmente argentina.

Na semana passada, nos dias 2 e 3, durante a primeira edição do Festival Cíclope, competição dedicada às produtoras, a questão da paternidade ou maternidade de filmes ficou ainda mais complexa. Os troféus conquistados pelo “Cachorro-Peixe” expõem um drama mercadológico que por um lado não faz o mínimo sentido, mas por outro, dão pertinência ao fator procedência, principalmente pelo fato de o festival ser focado em produtoras.  Nesse caso, os prêmios do “Cachorro-Peixe” seriam prioritariamente da Rebolucion, produtora de Buenos Aires, e ponto, não se fala mais nisso. Mas, também há outros casos de filmes produzidos por brasileiros e veiculados em Portugal e de outros filmes produzidos no Brasil e veiculados na Argentina.

Assim, esse drama do “Cachorro-peixe”, usado aqui para sintetizar todos os casos de filmes criados e veiculados em um determinado país, mas produzidos em outro, ficou ainda mais acentuado durante o Cíclope em função da polêmica em torno da nova lei de mídia da Argentina. Em vigor há quase dois meses, desde 10 de outubro, entre várias determinações protecionistas, ela regulamenta que um comercial só pode ser veiculado na mídia argentina se o mesmo tiver pelo menos 60% de participação de profissionais argentinos. A lei está preocupando as associações de classe – produtoras de audiovisual e agências de publicidade – do Brasil e de outros países. O Brasil, por exemplo, estuda medidas para restringir a veiculação na mídia brasileira de comerciais como o “Cachorro-peixe”.

Prêmios

Considerando produção, criação e veiculação, juntas ou separadas, o Brasil conquistou 12 prêmios do Cíclope – o troféu é um personagem estilizado do ser mitológico que tem apenas um olho no meio da testa. São três de ouro, um deles para o famoso “Cachorro-peixe” (veja lista abaixo), dois de prata e sete de bronze.

Em geral, o Cíclope foi interessante. Ele foi realizado dentro de um barco ancorado na área de Puerto Madero.  A proposta de dar espaço a um festival essencialmente voltado às áreas de produção era uma reivindicação antiga de várias associações internacionais de produtoras, inclusive a brasileira Apro. Elas tiveram a primeira conquista com a estreia da competição Craft Lions no Festival de Cannes deste ano e, agora, um festival internacional realizado na América Latina, consolida esse foco na valorização das qualidades técnicas dos filmes publicitários e não apenas no seu lado conceitual e criativo.

A nova lei argentina, com as restrições ao Brasil e a outros países, ameaçou o Cíclope. A Apro, que está associada à realização do festival, chegou a considerar um boicote, mas decidiu manter apoio e parceria após avaliar que a iniciativa da competição não tem nada a ver com o caráter político da nova lei. Mas, o diretor de cena João Daniel Tikhomiroff, da produtora Mixer, um dos brasileiros convidados para integrar o júri, decidiu cancelar sua participação, em protesto à nova legislação.

Além dos prêmios concedidos pelo júri, dividido em quatro grupos – Live Action, Áreas Especiais, Animação e Som -, o festival contou com um encontro organizado por associações internacionais de produtoras, o World Production Summit (leia mais aqui), com workshops sobre produção e direção e com apresentações especiais de rolos de filmes. Ou seja, foi um prato cheio para quem gosta de cenas selecionadas. Um dos destaques foi a apresentação do case da Philips, feito por Eva Barret, profissional de marketing da empresa de eletroeletrônicos, que falou sobre o projeto “Linhas Paralelas”  e o filme “The Gift” (leia texto nesta página), uma super, mega, hiper, blaster produção que ganhou o Grand Prix do Craft Lions em Cannes e também o Grand Prix do Cíclope.

 

por Marcello Queiroz – de Buenos Aires

Confira abaixo os trabalhos brasileiros vencedores:

Ouro

“Anistia”, da Leo Burnett Lisboa para a Anistia Internacional, produção da Lobo
“Cachorro-Peixe”, da AlmapBBDO para a Volkswagen Fox, produção da Rebolucion
“Lagarta”, da AlmapBBDO para a GOL Linhas Aéreas, produção da Vetor Lobo

Prata

“Cachorro-Peixe”, da AlmapBBDO para a Volkswagen Fox, produção da Rebolucion
“Go Miniman”, para Lego, produção da Vetor Lobo

Bronze

“Ain’t right”, da Dínamo Digital para a Comodoro, produção da Dínamo Filmes
“Cachorro-Peixe”, da AlmapBBDO para a Volkswagen Fox, produção da Rebolucion
“Capitu”, para Rede Globo, produção da Lobo
“Chuva de roupas”, da AlmapBBDO para O Boticário, produção da Paranoid
“Journey”, da JWT para a Nokia, produção da Bossanova Films
“Novos tempos”, da Leo Burnett para Fiat 500, produção da Lobo
“Piano”, da BorghiErh/Lowe para Skip/Unilever, produção da Argentinacine