San Carlos de Bariloche, principal cidade da Província de Rio Negro, Argentina. Um local onde 80% a 90% dos turistas lotam suas ruas no inverno, correto? Não, errado. O turismo naquela que talvez seja, ao lado de Mendoza, a segunda mais importante cidade da Argentina – atrás apenas da capital Buenos Aires –, é bem distribuído durante as estações do ano. Exceto para… os brasileiros! Aí sim, a sazonalidade é gritante. Primeiro porque o maior país da América do Sul não tem neve. Segundo porque muitos buscam a cidade argentina nem só pelas estações de esqui, mas também pela badalação e boa gastronomia (e vinhos, claro) que Belas paisagens como o anfiteatro, passeios de Maria Fumaça, pesca esportiva e vela fazem parte da estratégia de Bariloche e cidades vizinhas para atrair turistas brasileiros também no verão ela oferece. Ao contrário de americanos e europeus que, com belas estações de inverno, chegam aqui no mês de janeiro, onde as temperaturas ficam em torno dos 30 graus, para a prática de pesca esportiva das dezenas opções de esportes de aventura – de cavalgadas pelas montanhas andinas à rafting em rios cujos percursos podem iniciar na Patagônia argentina e se encerrar na chilena. E nesse caso não estamos falando apenas de Bariloche, mas também de uma região que engloba duas províncias – além de Rio Negro, tem a de Neuquén – e três parques – o Parque Nacional Nahuel Huapi (Bariloche fica dentro dele), Parque Nacional Lanín e Parque Lago Puelo.
E é com toda essa exuberância natural e uma rede hoteleira ampla, que a região pretende atrair os turistas brasileiros também para o verão. “Existe uma campanha incluindo diversas cidades da região onde mostramos o que podemos oferecer principalmente aos turistas brasileiros, chilenos e uruguaios. E sempre primando pelo contato com a natureza e a prática de esportes onde ela está presente”, afirmou Jaime Rios, coordenador de Pesca Esportiva e Turismo de Aventura do Inprotur – Instituto Nacional de Promoção Turística, um braço da Secretaria de Turismo da Argentina, voltado para o exterior.
Segundo Rios, a história de Bariloche sempre teve o verão como o ponto alto do turismo. “Isso vem desde os anos 30, 40. Porém, tempos depois, empresários da cidade acharam que era importante trabalhar também o inverno, e fizeram grandes promoções voltadas para os brasileiros, que não contam com a neve. Agora queremos que eles também venham para cá no verão”, disse, citando alguns diferenciais da cidade. “Bariloche fica dentro do primeiro parque nacional da América Latina, com inúmeras opções de esportes de aventuras. Algo que é muito interessante para vocês, porque, ao contrário do Brasil, a Argentina tem essa característica de ter concessões privadas dentro de áreas públicas – o que faz com que os empresários sejam obrigados a cuidar da região e não mexer em nada sem autorização oficial”, completa. Por isso, Rios acredita que o fato da cidade ser tema da 14ª Adventure Sports Fair implicará no início de uma mudança no comportamento do turista brasileiro.
“Tanto Salta como Mendoza, quando foram temas e sediaram a produção da campanha da feira, aumentaram bastante a presença dos turistas do Brasil em busca de esportes de aventura. Mendoza, por exemplo, antes era procurada apenas por suas vinícolas. E aqui em Bariloche, basta sair 10 minutos do centro da cidade que você estará em contato com a natureza, em meio a rios, lagos e cachoeiras. E esportes, claro. E contamos ainda com o aval da própria Adventure Fair, que há muitos anos trabalha para que os brasileiros saiam do centro urbano e fiquem em contato com a natureza – o primeiro passo dos ‘aventureiros’”, disse.
Adventure Sports lança campanha
Bariloche foi o local escolhido pela Adventure Sports Fair para a produção da campanha da 14ª edição da maior feira do setor da América Latina que, este ano, ao contrário dos anteriores, ocorre no primeiro semestre – mais precisamente entre os dias 18 e 21 de abril, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A campanha, sob o título “Aventura. Meu estilo de vida”, produzida pela FilmArte, segue com o mesmo conceito e assinatura desde que foi criada, em 1999: “O mundo da aventura se encontra aqui”.
“O nosso conceito foi adotado após um forte trabalho de pesquisa, no qual detectamos que aventura, na cabeça das pessoas, significa estar em lugares amplos e exclusivos, algo inacessível. Na época usamos a imagem de uma floresta e de um deserto para ver o que o consumidor definia como aventura. Para nossa surpresa, o deserto foi apontado como o local ideal. O Pantanal, por exemplo, não representava aventura, mas sim um local de paz, de sossego. Já o deserto era um destino no meio do nada, mas onde a pessoa iria dirigir um moderno carro off road, cheio de tecnologia, e ao final do dia iria descansar em um belo hotel”, afirmou Sergio Franco, sócio da feira ao lado de Sergio Bernardi e presidente da BAS (Brazilian Adventure Society). “Eles não querem exatamente luxo. Querem um lugar despojado, mas que tenha conforto e boa gastronomia. O homem aventureiro, na ideia deles, é uma espécie de James Bond, que pilota o próprio helicóptero e encara diversos obstáculos”.
Com verba de comunicação em torno de R$ 1 milhão, o trabalho contempla televisão, mídia impressa, rádio, web e mala direta. A campanha, com fotografia de Daniel Rosa, é da Sauer Comunicação, cujo sócio e diretor de criação, Sandro Abreu, também está à
frente da imagem da feira desde sua primeira edição, antes mesmo de ter sua própria agência. “Na época, eu, os sócios e outros profissionais formávamos uma consultoria cujo objetivo não era criar apenas uma feira, mas sim uma marca – e mais do que isso, fazer a gestão dessa marca. Nossos investimentos, desde então, são feitos com esse propósito, algo incomum nesse mercado. Mas o desafio maior era mostrar o que queríamos com o conceito de aventura. Posso dizer que o setor cresceu e ganhou visibilidade após a criação da Adventure Sports Fair”, disse.
Franco lembrou que a primeira edição já contou com a adesão dos fornecedores, desde fabricantes de aparelhos para escalada até revendedores de helicópteros, passando pelas ONGs, os principais fabricantes de bicicleta e montadoras de automóveis como a Suzuki, que na época produzia um dos poucos “off roads urbanos” do mercado, o Vitara. “Ter usado a imagem correta do que realmente representa o espírito de aventura foi vital para o sucesso da feira. Na primeira edição tivemos 42 mil visitantes nos cinco dias em que foi realizada. E foi a primeira do mundo Caiaque, downhill (mountain bike), trekking e rafting são alguns dos esportes retratados no making of da campanha da 14ª edição da Adventure Sports Fair, que começa a ser veiculada este mês. Ambientes e situações que remetem a conforto e bem-estar também fazem parte do trabalho, como ocorre desde a primeira edição da feira, que este ano acontece entre os dias 18 e 21 de abril, em São Paulo
Valores
Franco contou que a ideia da criação da Adventure Sports Fair se deu pelo próprio comportamento da sociedade no final do século 20. “Tudo indicava que valores como usar o tempo livre de forma criativa, saudável e ativa, bem como o contato com a natureza e o respeito ao meio ambiente, seriam os grandes anúncios do início dos anos 2000”, explicou. Foi daí que surgiu o insight de encontrar uma palavra que resumisse esse estilo de vida. E aventura, ou melhor adventure, foi o termo escolhido. “Não existia turismo de aventura no Brasil. O potencial era enorme”. O retorno de mídia espontânea também supera o investido na campanha. No ano passado, ultrapassou a casa dos R$ 2 milhões. Para este ano, a Fiat manteve o patrocínio máster, em um evento que também congrega workshops, sempre ministrados por ícones de cada área.
Sustentabilidade
Como não poderia deixar de ter em um evento com o mote da Adventure Sports Fair, sustentabilidade é um capítulo à parte. Paula Arantes, coordenadora de turismo sustentável e meio ambiente da feira, é a responsável pelo Fits (Fórum Interamericano de Turismo Sustentável), criado por um grupo de ambientalistas que no início deste século já discutia a sustentabilidade no turismo, como SOS Mata Atlântica, WWF e Greenpeace. O objetivo é definir os critérios de sustentabilidade para o turismo e minimizar os impactos na atividade. “Quando entrei na feira para organizar esse lado, procurei as ONGs para que elas fossem além dos estandes e apresentassem programas e iniciativas que realmente pudessem servir de referência para o meio. E criamos o fórum para discutir e ampliar o debate com outros países, para ver como estava a sustentabilidade no turismo em seus principais destinos, a reação do mercado, quais os principais ganhos. Tínhamos que mostrar na prática o que era dito na teoria”, explicou Paula.
Com isso, foi criado o Programa Integrado de Sensibilização e Gestão Ambiental, que se divide em duas partes – fazer a própria gestão ambiental da feira, montando inclusive um centro de triagem para mostrar coleta seletiva e reciclagem; e a realização da campanha Adventure Atitude, de caráter educativo, a fim de orientar sobre as boas práticas em cada uma das atividades de aventura. Nas palestras e mesas-redondas do Fits são tratados temas que vão além da sustentabilidade no turismo, passando também por certificação no meio e turismo em áreas protegidas. “Devemos fazer este ano uma mostra de sustentabilidade para meios de hospedagem, onde será instalada uma estrutura que demonstre o uso de painéis solares, tratamento de esgotos, captação de água da chuva, utilização de madeira certificada, entre outros produtos que podem ajudar nas boas práticas. E também sensibilizar o consumidor a adotá-las no dia a dia, como no consumo de alimentos orgânicos, por exemplo. Pois é necessário que ele tenha essa cultura para que também escolha um destino sustentável para viajar”, ressaltou Paula, que faz um alerta: montar uma estrutura sustentável não requer um investimento absurdo.
“Há muitos exemplos que também mostram que é economicamente interessante, pois o retorno do investimento não demora. O que falta para o empresariado brasileiro adotar tais práticas é planejamento e a cultura de sempre pensar no curto prazo”. Também é preciso, segundo Paula, fazer com que o próprio empresariado se una para cobrar políticas públicas em torno das práticas sustentáveis. “E os consumidores, a forçar o empresariado a adotar a sustentabilidade em seu negócio”. Também existiu o cuidado para que o conceito de aventura não fosse confundido com esportes radicais urbanos, como o skate. “No segundo ano da feira a Red Bull queria montar um half pipe no meio da feira. Por mais que gerasse repercussão e retorno de mídia, não era o nosso mote. E declinamos da proposta”, recordou Franco, acrescentando que o objetivo sempre foi usar a natureza como um dos elementos principais. “Muitas empresas que nem imaginavam que tinham tudo a ver com o conceito da feira, aderiram ao projeto ao receber nossa mala direta e notar a pertinência com o espírito de seus produtos”. Abreu disse que essa mala direta foi idealizada pelas próprias pessoas envolvidas na criação da feira, já que não havia como contratar uma empresa especializada, por não existir um mailing específico para atingir as empresas que eles desejavam.
“Nós mesmos criamos uma mala bonita e colocamos no correio, buscando em revistas especializadas e em outros locais o contato das pessoas que queríamos. Lembro que o primeiro grande negócio fechado foi com a Suzuki. A diretora de marketing, quando recebeu, me chamou para uma reunião. E na hora me pediu a planta da feira e escolheu o principal espaço. Logo depois vieram Nissan e água Crystal (Coca–Cola)”. As campanhas também foram se aprimorando com o decorrer dos anos. Segundo Abreu, de 1999 a 2003, os trabalhos foram criados com fotos compradas de banco de imagens. Em 2004 e 2005 já foram utilizadas locações – respectivamente as cidades de Ilhabela, no litoral norte paulista, e Socorro, também em São Paulo, no chamado Circuito das Águas. O grande pulo se deu em 2009, quando a cidade de Salta, na Argentina, foi a primeira locação internacional a sediar uma campanha da Adventure Fair. “Em 2008, durante a feira, conversamos com alguns destinos sulamericanos que tinham estandes no evento para que patrocinassem nossa ida ao seu local. Em troca, nós faríamos a exposição dos principais pontos de aventura da cidade em nosso material. Salta foi a primeira a bancar toda a logística. E logo depois disso, Salta lotou de brasileiros, o que motivou a nossa ida a Mendonza, em 2010, onde mostramos que a cidade argentina tem também diversos locais para a prática de aventuras, desmistificando que o único turismo local gira em torno de suas famosas vinícolas”.
Em 2011 o Peru topou patrocinar a viagem, mas problemas políticos de última hora impediram que acontecesse. Mesmo assim, a verba de patrocínio foi mantida e o país foi o tema da campanha. Agora é a vez da Bariloche, que tem também por objetivo atrair brasileiros para a prática de esportes de aventura no verão, já que os turistas do país só procuram a cidade do vizinho durante a temporada de neve, atrás não necessariamente das montanhas de esqui, mas de muita badalação. “Essa viagem para a realização da campanha acaba tendo uma colaboração mútua. Do ponto de vista da Argentina, ajuda a divulgar o destino. Do nosso, mostrar que a aventura está presente desde a roupa que você usa, até o passeio de final de semana”. Todo esse esforço se traduz no que a feira é hoje. É o único local em que o visitante pode se sentir realmente um aventureiro dentro de uma cidade totalmente urbana e caótica como São Paulo, seja mergulhando, com todos os equipamentos a que tem direito, em um grande tanque d’água, andando de mountain bike em pistas cheias de obstáculos ou até testando suas habilidades em pistas de esqui, já que os expositores da Patagônia chegam à capital paulista, de caminhão, com 40 toneladas de gelo especialmente para isso. O retorno de mídia espontânea também supera o investido na campanha. No ano passado, ultrapassou a casa dos R$ 2 milhões. Para este ano, a Fiat manteve o patrocínio máster, em um evento que também congrega workshops, sempre ministrados por ícones de cada área.