O Cannes Lions não é exatamente uma caixinha de surpresas: quem vai à Côte D’Azur com frequência sabe que as coisas ocorrem de maneira mais ou menos previsível, e quem destaca alguns detalhes é Cássio Zanatta, redator da Talent Marcel. “Aposto que haverá filas imensas para assistir à palestra daquela celebridade, aquele trabalho feito para ganhar Leão ganhará Leão, uma garrafa de água no Carlton não custará menos do que R$ 30, o monsieur do café no fundo do Palais vai passar o festival de cara amarrada”, brinca, fazendo suas “apostas” particulares. Sabe-se, também, claro, que realidade virtual, robótica e inteligência artificial estarão entre os temas mais comentados.

É possível, também, fazer apostas sobre o que vai conquistar Leões, embora muitos trabalhos só ganhem alguma notoriedade depois de serem inscritos em alguma das 24 categorias do maior festival de criatividade do mundo. O Brasil tem diversos trabalhos na sua lista de favoritos, e um dos principais é Everything in black & white/Liberte-se das cores, mais um belo filme da F/Nazca Saatchi & Saatchi para o modelo M Monochrom, da Leica, que tem boas chances em Film Craft, por exemplo. Da mesma agência, são candidatos Reposter, para Skol, e Every Pixel counts, para o D&AD. Por sinal, o trabalho para a Leica já conquistou três Lápis de Madeira este ano, no D&AD.

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Também tem chances, segundo vários criativos do mercado, o Hello News Project (Eztadão), criado pela F.biz para o Moto Z, smartphone da Motorola, em parceria com o jornal O Estado de S.Paulo. Durante três meses, os fotojornalistas do Estadão produziram fotos, áudios e conteúdo em vídeo usando o Moto Z Play com o Moto Snap Hasselblad True Zoom, módulo com zoom ótico de 10 vezes e flash xenon, desenvolvido em parceria com a marca de câmeras Hasselblad.
“É um jeito de mostrar uma funcionalidade na prática e totalmente inserido ao interesse do consumidor”, diz Fabio Astolpho, diretor de criação da F.biz.

Outra aposta de boa parte dos criativos brasileiros: o aplicativo Woman Interrupted, da BETC.
“É bem relevante, pois oferece uma ferramenta concreta para as mulheres saberem quando estão sendo interrompidas e poderem tomar uma posição. Empodera de verdade. Walking the talk. Trabalho consistente”, analisa Aricio Fortes, vice-presidente de criação da DM9, que também apontou Speed-O-Track, da Dentsu Brasil para a concessionária de rodovias Artris, como uma boa ação de integração de dados, “com uma ideia forte por trás”.

Outro trabalho da BETC citado pelos criativos é Sentidos Cruzados, que se valeu do fenômeno da Sinestesia para lançar o 2008 Crossway, da Peugeot, com uma série de filmes e um documentário exibido no canal Discovery.

A ação #oscarnanba, da Africa para Budweiser/ESPN, é apontado como um case competivivo em diversas categorias, bem como a ação Cliché, da Publicis para Heineken.

A AlmapBBDO tem alguns trabalhos considerados fortes: Nosferatu – The non silent film, para Getty Images, e a campanha global de Havaianas.

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“Vai além de imagens, é uma ideia incrível que exigiu longo e complexo craft, como a do ano passado”, destaca Hugo Veiga, diretor-executivo de criação da AKQA, referindo-se à premiada campanha de 2016 da Getty, Infinitas Possibilidades.

A Voz da Arte, da Ogilvy Brasil para a IBM, que literalmente deu voz às obras de arte da Pinacoteca a partir da tecnologia de inteligência artificial do Watson, também deve trazer Leão para o Brasil. “Usa a tecnologia de um jeito popular, funcional, simples. Colocar toda a tecnologia de um supercomputador a serviço de crianças e adultos que ainda não conhecem bem a arte é realmente uma excelente ideia”, diz Fábio Seidl, diretor de criação da 360i de NY.

Também foi citado Preços na Camisa, da DM9 para Walmart Brasil, que em abril deste ano transformou em preços de produtos vendidos no Hiper Bompreço os números da camisa dos jogadores do time baiano Fluminense de Feira.

Veiga, da AKQA, aposta ainda no oportuno Vigie Aqui (The Colour of Corruption), plug-in para o Google Chrome que pinta de roxo os nomes dos políticos que respondem a processos na Justiça, criação da Grey Brasil para o site de defesa do consumidor Reclame Aqui.

“É uma ideia simples. Num momento em que o Brasil é notícia mundial pelas piores razões, o projeto pode ir muito bem em Cannes”, disse.

Álvaro Rodrigues, CEO/CCO da 3AWorldwide, cita ainda o trabalho em mídia impressa da Ogilvy para a revista Forbes, que traz as versões femininas de líderes bilionários como Mark Zuckerberg para chamar a atenção sobre a falta de mulheres na tradicional lista.

TrayQuest, da DPZ&T para o McDonald’s, também entrou na lista dos favoritos por ter transformado os papéis das bandejas em uma divertida plataforma de entretenimento para smartphone. Houve ainda votos para Teste da Pisada, trabalho de mídia impressa da Neogama para Asics.

Apostas Internacionais 

No plano internacional, não vai errar quem disser que sairá do festival fartamente premiada a ação Fearless Girl, da McCann de Nova York para a State Street Global Advisors (SSGA), que colocou a estátua de uma menina em postura desafiadora em frente ao famoso touro de Wall Street, em Manhattan, no Dia Internacional da Mulher deste ano, chamando a atenção para a contratação de mulheres em empresas da área financeira. “É a ideia certa, na hora e local certos”, analisa Marco Gianneli, o Pernil, diretor de criação da AlmapBBDO.

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André Pedroso, diretor de criação da Fischer, enquadra Fearless Girl como a melhor e mais contundente ação do ano.

Outros dois trabalhos unânimes que devem encher de prestígio os seus criadores no Cannes Lions este ano são as campanhas We’re the Superhumans (da 4creative para Channel4) e o inovador Meet Graham, projeto de um ser humano resistente a acidentes de trânsito, criado pela artista plástica Patricia Piccinini, a pedido da Transport Accident Commission e da Clemenger BBDO Melbourne. Os dois conquistaram Black Pencils no D&AD em Londres, realizado em abril deste ano, sendo que o primeiro levou dois, nas categorias Filme para Publicidade e Crafts para Publicidade.

O diretor João Daniel Tikhomiroff, sócio da Mixer, acredita que Superhumans pode levar o Grande Prêmio de Film ou Film Craft. Marco Versolato, CCO da JWT em Cingapura, define We’re the Superhumans como “pura e clássica propaganda”. “É o que eu vi de mais brilhante até agora. Impecável”.

Já Meet Graham deve se destacar em diversas categorias, inclusive em Innovation. “Como diria Fernando Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se. Os criadores vão subir muito no palco este ano”, aposta Hugo Veiga.

 

Assista aos trabalhos citados acima. Confira os brasileiros:

https://youtube.com/watch?v=Mq5NqGrWx7A

https://youtube.com/watch?v=WLVi5ePu36E

Os internacionais: