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A Coca-Cola Brasil acredita que o design é muito mais do que a ideia tradicional de forma que se costuma ter dele. Para a empresa, está associado a um conjunto de habilidades que não se mantém restrito a um pequeno grupo de pessoas, mas pode ser utilizado por todas as áreas de uma companhia, do marketing ao RH, passando por operações, finanças, TI, entre outras. O projeto “Extended Designers”, coordenado por Cristiana Grether, responsável pela área de design na Coca-Cola Brasil, quer injetar a disciplina no dia a dia de todos os funcionários da empresa, formando inicialmente um grupo de seis “mentores” para ajudar a liderar o processo.
O desafio de Cristiana é enxergar e utilizar o design nos diferentes processos que envolvem a rede de 16 marcas, o sistema de 13 fabricantes e mais de 100 parceiros: ter um pensamento sistemático e uma visão holística em tudo o que faz para criar soluções modulares, capazes de serem adaptadas a outros mercados. Com o projeto, a empresa quer injetar inovação no cotidiano, examinando as oportunidades sob diferentes perspectivas, quebrando antigos padrões cognitivos e trazendo abordagens que de fato saiam da “caixa”. “Design é uma das disciplinas fundamentais para atingirmos a nossa visão de futuro, tornando a nossa vantagem competitiva em algo sustentável e que gera valor compartilhado para os nossos consumidores, clientes e fabricantes. E tudo isso de forma eficiente”, explica Cristiana.
A área de design da Coca-Cola Brasil foi criada em 2011 com o objetivo de “empoderar todos em design para vender”. Após um ano, Cristiana percebeu que essa área não conseguiria fazer isso sozinha. “Estávamos focando nas soluções. Se você apresenta uma solução bacana, mas pronta, ninguém vai aprender a fazer aquilo. Decidimos então focar na mudança de cultura, de comportamento, para que os próprios funcionários possam criar essas soluções”, comenta.
Segundo ela, o projeto Extended Designers é a espinha dorsal de um plano mais amplo de capacitação em design que está sendo implementado na empresa e cujo objetivo principal é descentralizar o conhecimento sobre a disciplina e mostrar que todos podem usá-la em suas atividades diárias. “Desde o início, uma premissa deste plano era que o aprendizado deveria acontecer de dentro para fora. Assim, selecionamos seis associados de outras áreas para fazerem parte do Extended Design Team. Eles estão cumprindo um currículo de um ano de formação em design para que se tornem líderes na empresa ou, como disse o meu chefe, meus ‘clones’. Uma vez formados, os Extended Designers capacitarão novas turmas e liderarão projetos”, afirma Cristiana.
O treinamento dos Extended Designers está dividido em três grandes momentos: “learning about” (aprendendo sobre), “learning on the job” (aprendendo no dia a dia) e “learning in depth” (aprendendo em profundidade). No primeiro momento, eles receberam um treinamento mais formal, com aulas e exercícios sobre design aplicado ao contexto da empresa. No segundo, passaram a usar o que aprenderam em atividades práticas. Na atividade “designer por uma semana”, por exemplo, eles passaram uma semana “na função” de Cristiana, prestando consultoria para diversas equipes, aprovando artes, lidando com agências. “Assim eles puderam compreender de fato o que está em jogo quando se trata de design na Coca-Cola Brasil”, diz a executiva.
Já o terceiro momento – no qual o grupo entrará – de um aprendizado mais profundo sobre design, com aulas de alfabetização visual e intercâmbio nas agências para que possam entender do assunto de maneira mais ampla, independentemente da realidade da empresa. Em outubro, o grupo fará estágios em diferentes escritórios de design, que estão em processo de seleção. E, em novembro, um curso intensivo de três dias de aula com um professor de design gráfico.
Cristiana conta que entre os ativos mais valiosos da Coca-Cola, hoje, está a garrafa contour, e um de seus papéis é garantir que não seja utilizado indevidamente. Mas o que ela quer mesmo, independentemente de sua função de garantir o nível de excelência do design das peças de comunicação da empresa em geral, é ser uma agente de mudanças. “A maior prova do sucesso desse plano será o meu cargo não precisar mais existir”, conclui.