Desde que deixou o Brasil há dez anos, Juliana Paracencio tem se dedicado ao que sabe fazer melhor: nunca desistir, afinal, essa característica define e identifica muito bem os brasileiros no exterior. No comando da criação regional da Memac Ogilvy Dubai em 15 escritórios no Oriente Médio e Norte da África, a executiva lidera trabalhos para clientes como Coca-Cola, Burger King e Pfizer.
Para a Ikea, sua equipe acaba de produzir uma campanha que mostra o poder negativo do bullying e a importância de tratar os outros sempre com palavras gentis. O experimento aconteceu com duas plantas idênticas e que foram expostas na seção de jardinagem da Ikea. Elas foram tratadas do mesmo jeito: com a mesma quantidade de água e fertilizante, e expostas a mesma temperatura ambiente e luz solar. A única diferença foram as palavras positivas e negativas que receberam. Ao final de 30 dias, o aspecto delas fala por si só.
O talento da brasileira já foi reconhecido com alguns leões em Cannes, e agora, ela que acaba de ser anunciada como jurada do festival. Juliana vai ter bastante trabalho neste ano, já que que também assumiu o quadro internacional de líderes do One Club For Creativity.
Na conversa a seguir, a criativa fala sobre as diferenças culturais de quem faz propaganda em outros países, preconceito e machismo no Oriente Médio e como a propaganda brasileira é vista lá fora.
Como a propaganda brasileira e os profissionais brasileiros de propaganda são vistos por aí no Oriente Médio?
A propaganda brasileira sempre foi muito bem vista no mundo todo, e não seria diferente aqui. Criativos brasileiros são vistos como jogadores de futebol, seja por causa do trabalho apresentado em Cannes, pela preocupação que temos com o craft, e também pela nossa paixão e persistência, afinal, ‘brasileiro não desiste nunca’. E também graças aos brasileiros que passaram por aqui e deixaram uma ótima impressão. Rafael Rizuto e Leo Rosa Borges (Ogilvy Dubai) e Eduardo Marques (JWT Bahrain). Eles passaram por aqui já há um tempão, mesmo assim sempre ouço falar muito bem deles. Com certeza deixaram um legado.
Em todo o mundo temos visto maior abertura para discussões sobre igualdade de gênero e empoderamento feminino. Como são discutidas essas questões em Dubai?
Eu sinto que há uma vontade grande no mercado de contratar mulheres para as posições de liderança, não só aqui como no mundo todo. Felizmente é comum ver mulheres na criação por aqui. Na Ogilvy de Dubai, por exemplo, metade da criação é composta de mulheres. Porém, infelizmente, as posições de liderança por aqui ainda trazem um ambiente “Boy’s club”. Agora é com a gente reverter essa situação e aproveitar essa tendência para agarrar as posições de liderança e mostrar para o que viemos.
Você ocupa um cargo de chefia na criação. Algo que é raro não só no Brasil. Como vê essa discussão sobre desigualdade de gênero na publicidade? Como seu novo papel no One Club pode contribuir para facilitar o acesso de mais mulheres?
O One Club em si já está abrindo os olhos para a mulherada no mercado com o “Next creative leaders” e o 50/50, iniciativas que reconhecem talentos femininos na indústria. Os indicados são julgados em suas categorias por um júri de criativos e vários dos vencedores participam de um painel de discussão na conferência de 3%. Mas, sim, a minha contribuição será também dar o spotlight merecido para os talentos femininos no Oriente Médio.
Quais outras missões você terá no quadro de líderes do One Club?
O meu trabalho na diretoria do board internacional do One Club será focado nos Emirados Arabes e no Oriente Médio. As minhas responsabilidades serão focadas em elevar o The One Show e o ADC Awards localmente. Apesar do The One Show ter muito prestígio no mundo todo, infelizmente não é muito popular por aqui. Como há uma grande comunidade de britânicos e de europeus no geral na propaganda aqui, a tendência das agências acaba sendo inscrever sempre em shows Europeus como Cannes, Dubai Lynxe o D&AD. Acredito que a minha missão será chacoalhar um pouco esse cenário.
Quais dicas e mensagem você daria para jovens publicitárias, criativas ou não, que queiram seguir carreira internacional? O que foi mais difícil para você e como contornou isso?
Meu recado é simplemente: continuem sendo persistentes, não desistam – afinal vocês são brasileiras, e a gente não desiste nunca. Aprendam inglês, levem isso a sério, seja fluente na língua, isso ajuda muito independentemente do país que você trabalhe. Eu sempre acreditei que qualquer profissional que seja talentoso, que tenha garra e seja apaixonado pelo que faz tem grandes chances no mercado, independentemente do gênero. Felizmente, posso dizer que em raros momentos na minha carreira tive a impressão de que ser mulher foi um dificultador. Mas atualmente, com certeza, ser mulher na propaganda é uma vantagem, afinal, o mundo todo está olhando para nós. Então, vamos mostrar para o mundo para que viemos.