Filme de Walter Salles foi indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres

Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025: uma data histórica para o cinema brasileiro. O país apareceu três vezes na lista de indicados ao Oscar 2025, com 'Ainda estou aqui': Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz com Fernanda Torres, e a inédita categoria de Melhor Filme.

'Ainda estou aqui' concorrerá com 'Anora', 'Emilia Pérez', 'Conclave', 'Duna - Parte 2', 'O Brutalista', 'A Substância', 'Nickel Boys', 'Um Completo Desconhecido' e 'Wicked'.

A primeira indicação brasileira ao Oscar foi em 1963, com 'O Pagador de Promessas', de Anselmo Duarte, numa época em que a categoria se chamava Melhor Filme Estrangeiro.

Uma nova indicação aconteceria 33 anos depois com 'O Quatrilho' representando o país. 'O que é isso, companheiro?', baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, voltou a concorrer em 1998.

No ano seguinte, chegava a vez de 'Central do Brasil', também de Walter Salles. Agora, 26 anos depois, 'Ainda estou aqui' colocou o país de volta no seleto rol de finalistas.

'Ainda estou aqui' é uma produção assinada pela RT Features e VideoFilmes, em colaboração com Globoplay, Mact Productions, Conspiração Filmes e Arte France Cinéma.

Indicação já é vitória
Com a indicação anunciada, as produtoras Conspiração Filmes e VideoFilmes comemoraram em postagem conjunta nas redes sociais: "Cada uma dessas indicações demonstra que seguimos conquistando o mundo com a nossa arte, viva o cinema nacional!"

No mercado brasileiro de audiovisual, as indicações foram consideradas como uma vitória. Presidente da Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), Marianna Souza disse que "só de estarmos entre os indicados já é uma grande conquista".

Souza afirmou que as indicações são  importantes pelo fato de atraírem todo um leque de possibilidades para o Brasil e para o mercado.

"Sempre gosto de fazer uma analogia muito simples: se hoje tomamos Coca-Cola, comemos McDonald's, é pelo softpower que os americanos souberam utilizar muito bem ao longo dos anos. O cinema francês também soube fazer ao longo dos últimos anos e a Coreia está fazendo com maestria".

Exemplo citado pela presidente da Apro, a Coreia do Sul talvez seja o principal exemplo dessa conquista de espaço no cinema mundial. O país asiático viu recentemente sua produção cinematográfica ganhar projeção global após a vitória de 'Parasita' no Oscar de 2020.

"As indicações de 'Ainda Estou aqui' transborda para o grande público todo o potencial do audiovisual brasileiro, a potência que esse mercado é gerador de negócios. É um setor que injeta na economia brasileira mais de R$ 24 bi e gera mais de 126 mil postos de trabalhos", destacou Marianna.

Marianna Souza, presidente da Apro: filme transborda para o grande público o potencial do audiovisual brasileiro (Alê Oliveira)

Para Fernanda Geraldini, sócia da produtora Replica e membro do board da Landscape, acredita que as indicações também validam a qualidade da produção nacional mundo afora.

"Esse reconhecimento coloca o Brasil no radar de produtores, distribuidores, plataformas de streaming e de investidores internacionais, que começam a perceber o Brasil como um mercado promissor. Talentos brasileiros circulando no mercado global e fortalece a indústria audiovisual local como um todo", afirmou.

Sócio da Pródigo Filmes e da Iconoclast, Francesco Civita avalia que a repercussão de 'Ainda estou aqui' também tem a função de inspirar uma nova geração de cineastas.

"Esse reconhecimento internacional inspira toda uma nova geração de cineastas, roteiristas e atores a acreditar no potencial do Brasil de contar histórias que transcendem fronteiras".

As chances de 'Ainda estou aqui'
A disputa pela tão sonhada estatueta promete ser difícil para 'Ainda estou aqui'. Para Marianna Souza, o concorrente mais forte é Emília Pérez, indicado em outras 13 categorias no Oscar.

"Não queria estar no lugar desses jurados, porque a decisão é muito difícil. Já sobre o melhor filme, a concorrência é pesada, 'O Brutalista' está fazendo uma ótima campanha", ressaltou.

Cenas do longa-metragem indicado ao Oscar 2025 (Divulgação)

Ivy Abujamra, sócia, diretora e produtora da Soma espera que a produção nacional vença as categorias de Melhor Atriz e Melhor Filme Internacional. "A concorrência com Emilia Pérez é pesada, por outro lado é um filme que teve grande backlash no México. Já o nosso 'Ainda estou aqui', traz uma história forte que vive assombrando vários países do mundo e, portanto, ainda é atual".

Fernanda Torres: Melhor Atriz
Depois da conquista inédita do Globo de Ouro, Fernanda Torres se tornou a segunda brasileira indicada à Melhor Atriz do Oscar. A primeira, em 1999, foi Fernanda Montenegro, mãe de Torres, por 'Central do Brasil'.

A brasileira disputará com Mikey Madison ('Anora'), Demi Moore ('A Substância'), Karla Sofía Gascón ('Emilia Pérez') e Cynthia Erivo ('Wicked').

Fernanda Torres dá vida à Eunice Paiva, que luta contra as autoridades militares para encontrar seu marido, Rubens Paiva, ex-político sequestrado nos anos 1970 pela ditadura brasileira. Na trama, ela abandona sua rotina e se torna ativista dos direitos humanos com o propósito de provar o assassinato de seu marido.