Voltamos a ouvir a música, lembra? Se você tem menos de 50 não deve se lembrar: “Donde estas ahora cuñatai, Que tu suave canto no llega a mi, Donde estas ahora? Mi ser te añora com frenesi…”.

No início eram as sacoleiras que atravessavam a ponte. Iam e voltavam carregadas de tranqueiras. Muitas assaltadas nas madrugadas dos ônibus carregados de muamba. Agora são os industriais sacoleiros. Que em suas sacolas levam fábricas completas. Produzem lá e vendem aqui, legalmente. Mais e melhor. Não tão ótimo como as indústrias de cigarro, que pertencem ao presidente daquele país e caminham para deter 50% de todo o consumo de cigarro do Brasil, via contrabando. Mas esse é outro assunto.

O fato é que o parque industrial brasileiro, nesse ritmo, brevemente se mudará para o Paraguai. Dentre as infinitas, irresistíveis e irrefutáveis razões, o depoimento do empresário Zenildo Costa, que, depois de ver falir sua fábrica de aventais descartáveis no Brasil, mudou-se e prospera no país vizinho: “Se fosse no Brasil, a energia elétrica custaria 70% mais caro, o funcionário custaria o dobro e a matéria-prima estaria pagando 35% de impostos para importar da China”.

O melhor modelo Parasil ou Brasilguai, segundo Sarah Saldanha, gerente de internacionalização da CNI (Confederação Nacional da Indústria), é a Integração Produtiva. “As empresas brasileiras têm encontrado no Paraguai uma ambiência interessante para desenvolver a Integração Produtiva, ou seja, manter suas operações no Brasil e fortalecer essas operações no que diz respeito ao design, inteligência do processo produtivo, e produzir, finalizar o produto no Paraguai”.

E, claro, vender onde existe mercado: o Brasil! Não é ultramegassuperbrite inteligente? Só nós que não acordamos… Em todas as palestras que faço pelo Brasil sobre branding, logo no início, exibo em um slide 50 das marcas mais respeitadas em todo o país. Dou um tempo e pergunto, “dentre todas essas marcas, qual mexeu mais com vocês?”. E todos os presentes, com raríssimas exceções, urram: Estrela!

Pois é, dia desses, na Folha, Carlos Tilkian, controlador e presidente da Estrela, anunciou que parte da empresa está se mudando para o Paraguai. “O Brasil nunca teve política de desenvolvimento industrial… e tem uma legislação trabalhista feita por Getúlio Vargas, que só agora o governo considera alguma mudança… Por isso fomos à China… Por isso vamos para o Paraguai.”

Como se não fosse suficiente, no mês de outubro de 2016, o governo do Paraguai publicou um anúncio nos principais jornais brasileiros conclamando nossos industriais a se mudarem para lá. Aqui, do lado, a pouco menos de duas horas de avião, com todas as vantagens mais que óbvias em economias modernas e competitivas, e com nenhuma das desvantagens de economias retrógradas, emboloradas e corrompidas como a brasileira. Melhor ainda, com um dos maiores mercados do mundo, vizinho, à inteira disposição, Brasil!

Pergunta que não quer calar: por que ainda as indústrias brasileiras resistem em permanecer por aqui? Por inércia, a única resposta possível e consistente. No passado, pelas características e cultura de fabricação, mudar-se uma indústria levava anos. Hoje se muda uma indústria de automóveis, por exemplo, em meses; e logo depois começa-se a produzir no novo local.

Isso posto, ou reinventamos o Brasil agora, ou é melhor nos acostumarmos definitivamente com guaranias e voltarmos a beber a cachaça paraguaia Aristocrata… “Uma noche tíbia nos conocimos, junto al lado azul de Ypacarai…”.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing