A moda é cíclica. Se ela é capaz de criar tendências inéditas, também carrega consigo uma capacidade admirável de ressuscitar algo que parecia já enterrado há décadas – basta olhar para a explosão vintage dos últimos anos, para as camisas floridas saídas de Woodstock (ou do brechó mais próximo do bairro gentrificado da sua cidade) e para artigos como o dad jeans, as calças de cintura alta e as gargantilhas (alô, anos 90!).

A tecnologia e a comunicação também têm seus próprios comebacks e se a Era de Ouro do Rádio data da década de 1940, os últimos anos mostraram que o protagonismo do som não ficou tão para trás assim: vivemos, hoje, a Era de Ouro do Áudio.

Sim, eu (também) quero falar com você sobre podcasts. E não precisa levantar a sobrancelha nem duvidar: eles são uma realidade tão incontestável no panorama global quanto ao falarmos de Brasil – e não tem nada de fake news nisso.

Há poucos meses, um levantamento feito pelo Ibope descobriu que 40% dos internautas brasileiros já teve algum tipo de contato com o formato – e os números mostram uma realidade bem promissora para quem enxerga o gênero com bons olhos: 16 milhões de internautas (19% do total da pesquisa) consomem esse tipo de conteúdo três vezes ou mais por semana. E diferente da definição já ultrapassada – “É como um programa de rádio, mas na internet” -, diversos tipos de podcasts já desembarcaram no Brasil: para além das clássicas entrevistas e documentários, há espaço para a ficção, humor, política e muito mais.

E assim como grandes grupos de mídia já embarcaram na onda (como o Estadão, a Folha de São Paulo e o Grupo Globo), a publicidade não fica de fora: empresas como Petrobrás, Caixa Econômica Federal, SENAC, Natura e muitas outras já anunciaram em diversos podcasts – uma tendência que parece ter muito espaço para crescer. Não é de se surpreender, por exemplo, que empresas comecem a produzir seus próprios podcasts, fazendo a ideia de branding atingir novos patamares.

Mas não é só através do podcast é que a Era de Ouro do Áudio se mostra tão poderosa: entramos cada dia mais em um momento de automatização, com duas das maiores empresas do planeta (Amazon e Google) trabalhando forte no mercado das assistentes pessoais, com a Alexa e o Google Home, respectivamente. Se na década passada ficávamos estupefatos com o touch screen, hoje, nos Estados Unidos, já é possível fazer as compras do mês – ou até mesmo pedir um Uber para a casa dos seus amigos – com um simples comando de voz. A própria Positivo já sinalizou que também trabalha na criação de uma assistente pessoal com DNA 100% brasileiro, enquanto a Amazon faz os ajustes finais para lançar a Alexa oficialmente no país, ou seja: o mercado não fala em outra coisa – com o perdão do trocadilho.

Se nunca usamos tanto os recursos de áudio disponíveis a um botão (ou nem isso) de distância, o que será dos produtores de conteúdo?

O uso de recursos de voz para realizar buscas – seja através de smartphones ou de assistentes pessoais – tem ganhado cada vez mais destaque entre usuários, e chamado a atenção de estudiosos do universo do conteúdo e do branding. Segundo o comScore, em 2020 o recurso de voz será utilizado para 50% das buscas na internet. Já o Gartner acredita que, no ano que vem, 30% de todas as buscas realizadas na internet não irão utilizar uma tela.

Como isso pode impactar a área do SEO e mercado digital como um todo? Seria a hora de começar a olhar com mais cuidado e delicadeza para a nova (e irrefreável) onda de transformações do mundo digital? Estaríamos diante de uma nova ramificação de SEO, que analisa o comportamento dos usuários pela maneira como eles falam, ao invés da forma com que escrevem?

Não podemos prever, mas podemos (e devemos) estar alertas e atentos. A mudança sempre está logo ali, a um comando de voz de distância.

Ricardo Zanella é CEO da Green Park Content (ricardo.zanella@greenparkcontent.com)