Há quase 20 anos, um garotinho perguntava ao medalhista Olímpico Gustavo Borges como se alimentava um campeão. A questão era a deixa para que o nadador começasse a cantarolar o jingle que divulgava o Danette, da Danone. O filme criado pela Y&R se tornou bastante popular e cumpriu à risca seu papel: é difícil encontrar hoje alguém entre 25 e 35 anos que não se lembre da propaganda.
Agora, a Danone volta à mídia com releitura do jingle. E nada mais justo do que convocar novamente seu protagonista para apresentar seu novo produto: Danette Criações, pasta a base de chocolate para passar em torradas, frutas e outros alimentos. Mas diferentemente da primeira versão feita para TV, a versão atual será 100% na internet, com apoio de influenciadores digitais.
Na entrevista a seguir, Borges fala sobre o convite de regravar a campanha. O ex-atleta e comentarista esportivo da TV Globo analisa também a visibilidade do esporte e a questão do patrocínio, além de sua relação com a publicidade.
Acompanhe também na próxima edição impressa do PROPMARK, entrevista com os executivos da Danone e da Spark, agência responsável pela releitura do jingle e desdobramentos com influenciadores digitais.
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Jingle
Foi muito legal fazer o remake desse jingle. Em 2001, a minha imagem era muito atrelada ao esporte, e tudo mudou com a propaganda. Eu chegava nos eventos e a galera já lembrava. É você o cara do Danette. A criançada adorava o jingle, que tinha uma pegada muito forte com os jovens. Agora fui convidado para fazer essa releitura com um produto diferente, o Danette Criações, para passar no pão, na fruta, onde quiser. Está sendo muito legal esse resgate de memória afetiva.
Relação com a comunicação
Minha relação com a mídia é muito boa. Eu tenho uma relação com as marcas muito forte devido às palestras comerciais que eu faço. Ações com marca também. Tenho parceiros que me acompanham desde a época que era atleta de desempenho e que continuam comigo. Speedo e Correios, por exemplo. Elas estão comigo há quase uma vida inteira. No mercado de propaganda, muitas oportunidades surgem. O mercado mudou bastante, principalmente em a relação as redes sociais, que permitem iniciativas como essa de Danette, que aproximam o público da marca com apoio dos influenciadores.
Esportista e empresário
Dependendo da ação, acabo dialogando com diversos públicos. Tanto no trabalho ligado ao esporte, com minha empresa de licenciamento de gestão aquática, quanto como comunicador da TV Globo ou como garoto propaganda. Na TV você fala com o Brasil inteiro. Já quando estou tratando do meu método de treinamento Gustavo Borges, onde 420 piscinas utilizam a metodologia, a gente atinge cerca de 200 mil pessoas entre alunos e familiares. Há uma relação muito forte da minha imagem com as crianças e jovens. Muito do meu trabalho é focado neles.
Transição do esporte para a mídia
Ser apresentador de programa é um pouco mais complicado para quem é esportista. Há poucas oportunidades no mercado para fazer essa transição, apesar de vários companheiros já terem feito, como o Flavio Canto, Tande e a Glenda Kozlowiski, que veio do surfe. Mas a Glenda já está há mais tempo na TV e se profissionalizou de tal maneira que eu nem a considero mais como alguém que fez essa transição do esporte. Ela parece que já nasceu para a TV, os outros atletas precisaram se esforçar um pouco mais. Ser comentarista acaba tendo uma facilidade maior porque já sou conhecedor da modalidade, então é mais fácil transferir esse conhecimento para quem está assistindo.
Valorização
Não dá para comparar os demais esportes com o futebol no Brasil. Não adianta querer que ele tenha a mesma visibilidade dos demais. O futebol tem exposição, continuará tendo e merece ter esse espaço. E quando a gente fala dos demais esportes, muitas vezes, não há o mesmo apelo comercial. E como você desenvolve isso? É onde entra uma outra questão que pode ser boa ou ruim: a influência do Estado. Correios, por exemplo, é uma empresa estatal. Banco do Brasil, idem. Só que a gente não pode ficar dependente de empresas estatais para o esporte crescer.
O dinheiro que é investido nas confederações precisa ser bem investido para que a modalidade seja desenvolvida. Os grandes formadoresnão são as confederações e entidades como Comitê Olímpico, mas os próprios clubes também. O clube é o formador do atleta, os investimentos devem acontecer a partir daí. As confederações são apenas meios de direcionar as receitas, organizar competições, dar continuidade ao fluxo.
Visibilidade x oportunidade
Apesar da visibilidade da maioria dos esportes ser baixa, a utilização das redes sociais é fundamental para a divulgação do esporte. O Rugby faz um trabalho de confederação muito bom em termos de governança, estrutura, assim como outras têm ótimo trabalho. Mas a questão de Youtube e demais mídia digitais, só vejo esse mercado crescer. Hoje vejo o meu filho nadar nos Estados Unidos por meio do Big Ten Network, um aplicativo que acesso as competições não só de natação, mas de vôlei, futebol americano etc. É uma assinatura anual de 120 dólares. Não sei quanto custa para manter esse negócio, mas é uma nova forma de relação com o torcedor e por que não com marcas?
Redes sociais como marca
Rede social ainda é uma incógnita para a minha geração. O pessoal mais velho tem, não digo uma dificuldade, mas talvez o entendimento mais amplo. Se você ver influenciadores como a Naná Rude com dois milhões de seguidores. Eu não tenho nem 60 mil. Como utilizar isso como forma de negócio? Monetizar não apenas com posts pagos, mas como alavancar a carreira? Quando você coloca coisas pessoais o público adora, já comercial, nem tanto. Mas as redes sociais vieram para as pessoas mostrarem um pouco daquilo que você quer mostrar. No final das contas, o negócio está ali, todos que têm mídia social vão monetizar com esses canais.