Uma das necessidades mais fundamentais para ser realmente competente no trabalho é ter a consciência clara das expectativas em relação às entregas que esperam de nós.
Um profissional pode estar dando seu máximo e, ainda assim, ser mal avaliado por não corresponder a o que seu superior deseja da função.
É aquela coisa, a gente se achando e, ao mesmo tempo, o chefe insatisfeito. Química perigosa que, via de regra, não termina bem.
O mundo corporativo no Brasil não tem como cultura as avaliações, o chamado feedback, quando se pode alinhar metas, apontar fragilidades, ressaltar as qualidades e repactuar a relação. A ausência dessa prática cria um descasamento entre aquilo que as partes acreditam ser realmente importante no exercício da função.
Essa falta de conexão ficou evidente na recente pesquisa “O Futuro do Marketing 2017”, realizada pela DOM Strategy Partners, em que foi perguntado a CMOs e CEOs quais as principais competências que os profissionais de marketing devem adquirir.
Algumas diferenças de opinião são mesmo gritantes e surpreendentes. Uma dessas diferenças é sobre Consumer Understanding. Para 56% dos CEOs, essa é uma competência muito importante para o marketing, enquanto apenas 33% dos CMOs declararam sua importância. Curioso que justamente o entendimento do consumidor não seja considerado como uma das prioridades.
Na outra mão, 67% dos profissionais de marketing entrevistados acreditam ser fundamental ter competência em digital, versus 47% dos CEOs pesquisados.
Na verdade, o que se constata é uma tendência dos profissionais de marketing atribuírem um grande valor ao digital, ao analytics e à tecnologia, uma clara demonstração de como esses temas estão associados a um perfil mais moderno e atualizado do profissional e da função.
É mesmo estranho que visão estratégica seja prioritária para 51% dos CEOs e, para apenas 27% dos CMOs, seja uma competência relevante a ser adquirida.
Em uma tentativa de entender a diferença entre as respostas, compreende-se que talvez o marketing considere que as competências “clássicas”, como visão estratégica e conhecimento do consumidor, já sejam dominadas e o desafio atual seja aprender novas possibilidades que a tecnologia traz para a função.
Outra diferença: 55% dos presidentes afirmam que o marketing da sua empresa é competitivo, porém, na opinião do marketing, o percentual sobe para 67%.
Obviamente existe um gap de percepção entre o presidente e o marketing a respeito do perfil de competência e aquilo que realmente agrega valor ao negócio.
O Brasil tem grande tradição de formar profissionais de marketing da mais alta qualidade, que administram com sucesso marcas icônicas, lidando com situações de mercado complexas e ambiente altamente competitivo.
Com certeza as empresas não teriam o mesmo sucesso em seus objetivos se não contassem com o trabalho que o marketing realiza. Ninguém deve colocar em dúvida a contribuição do profissional de marketing e sua capacidade de evoluir e fazer a diferença para o negócio, mas faria bem se presidentes e CMOs falassem mais sobre expectativas e competências. Esse mesmo princípio vale para as agências, que precisam entender mais sobre o que o cliente realmente espera do seu trabalho.
Vivemos hoje numa época em que escutar a outra parte é a única maneira de saber como transformar talento e competência em satisfação.