Na celebração, Sergio Pompilio revisitou a trajetória da autorregulação no Brasil
Durante o evento que marcou os 45 anos do Conar, realizado nesta sexta-feira (5), em São Paulo, Sergio Pompilio destacou que a publicidade atravessou transformações “constantes e aceleradas”, dos anúncios impressos às plataformas digitais, sem abrir mão de princípios como ética, criatividade e liberdade de expressão comercial.
O presidente, que iniciou sua gestão em 2022, lembrou que o Conar foi criado em 1978, em plena ditadura militar, e que desde então mantém o compromisso de aplicar o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária.

Pompilio afirmou que a entidade precisou “mudar radicalmente” sua atuação para acompanhar um mercado em rápida evolução. Entre os avanços, citou o capítulo dedicado à publicidade de apostas, o Guia de Influenciadores, os grupos de trabalho temáticos, o sistema de monitoramento semiautomatizado — que levou o volume de conteúdos administrados a 30 mil em 2025 — e o novo Conselho de Conteúdo, responsável pelas atualizações sobre sustentabilidade e greenwashing.
Ele destacou ainda a ampliação da rede de colaboração institucional, que agora inclui Google, Meta, TikTok, marketplaces, veículos, agências e entidades públicas.
“A publicidade é ferramenta essencial para transmitir informações entre empresas e consumidores”, afirmou.
Publicidade, Regulação e Autorregulação: cooperação para inovação sustentável
O primeiro painel discutiu os desafios da publicidade em um ambiente digital em transformação. Mediado por Juliana Albuquerque, vice-presidente executiva do Conar, o debate reuniu Ricardo Morishita (IDP), Adriana Machado (Conar e presidente da Tom Comunicação), Carlos Scapini (CEO da Mynd e integrante do GT digital do Conar), Osny Filho (Senacon) e Regis Dudena, secretário de prêmios e apostas do Ministério da Fazenda.

Dudena afirmou que os últimos anos evidenciaram “o risco de uma atividade que precisa ser regulada não ser regulada”. Ele lembrou que a legalização de 2018 avançou sem regulamentação efetiva, permitindo a expansão de operadores sem controle e a formação de problemas sociais.
No campo da publicidade, destacou a “inversão histórica” em que a autorregulamentação antecedeu a norma estatal. “A publicidade é a porta de entrada dessa atividade”, disse, ao defender regras claras para identificar operadores autorizados e impedir a exposição de crianças e adolescentes.
Scapini, da Mynd, ressaltou a complexidade crescente do marketing de influência e disse que o principal desafio do setor é a educação de criadores e marcas. Segundo ele, cerca de 10 milhões de brasileiros já fazem publicidade remunerada nas redes sociais.
“A pessoa que ganha uma pizza para fazer um post já está obrigada a seguir o código do Conar — e muitas vezes ela sequer sabe que o Conar existe”, afirmou.
Scapini lembrou que muitos briefings estimulam a dissimulação da mensagem publicitária e que ampliar capacitação e diálogo é essencial para fortalecer a relação entre marcas, criadores e consumidores.
Publicidade, Ética e Tecnologia
No segundo painel, Edu Simon, CEO da Galeria.Holding, abriu o debate questionando Dora Kaufman, especialista em IA, sobre os desafios éticos do uso da inteligência artificial na publicidade.

A pesquisadora comentou o avanço do PL 2338/23, que propõe um marco regulatório para IA, e disse que temas como direitos autorais, uso de dados protegidos e relação entre criadores e desenvolvedores têm exigido debates longos e complexos.
Dora apontou um paradoxo: criadores que rejeitam o uso de seus dados para treinar modelos utilizam ferramentas baseadas em dados de terceiros. Para ela, o setor precisa “romper o antagonismo e criar pontes”, estabelecendo parâmetros de diálogo e boas práticas.
Demais vozes participaram do debate como Manzar Feres (Globo), Natalia Kuchar (Google) e Marina Giancoli Cardoso Pita (Secom).