Uma vez mais somos obrigados a abordar a política nacional e alguns dos seus protagonistas, neste editorial que deveria se ater mais aos fatos recentes da comunicação do marketing.
Poderíamos comemorar a melhora que já se verifica no mercado, embora ainda tímida, com a publicidade voltando a ser parte importante nos espaços e na secundagem das mídias, o que ainda não significa o fim da crise, mas já um bom aceno de que dele estamos nos aproximando.
Temos, porém, de falar da política, combustão sem a qual a ordem econômica desanda. E aqui queremos nos referir obviamente à boa política, a que proporciona a eficiente gestão da coisa pública, espalhando confiança na população e incentivando os investidores a confiar no país.
Todavia, desgraçadamente, mesmo após o impeachment da então presidente da República Dilma Rousseff, seguido pela queda do indesejável Eduardo Cunha, com seu mandato parlamentar cassado por esmagadora maioria dos seus pares, ainda temos de conviver com o inconformismo do folclórico chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos do país.
Fosse ele realmente patriota, sujeitar-se-ia a um silêncio obsequioso, na certeza de que assim contribuiria melhor com o povo que diz tanto ter amado e que, sem dúvida, boa parte desse mesmo povo soube retribuir.
Ocorre que a sua escassez cultural e consequente falta de discernimento sobre o valor das coisas e a necessidade de compreender quando é hora de falar e hora de calar tumultuaram, uma vez mais, o país na última quinta-feira (15), quando discursou para uma plateia fechada em São Paulo, onde, dentre outros, sobressaíam como papagaios de pirata, se esforçando para aparecer nas fotos e telas, os senadores Gleise “cabelos black blocs” Hoffmann e o ex-presidente da UNE, Lindenberg Farias.
A plateia era realmente fechada e até mesmo os jornalistas presentes não puderam fazer perguntas ao principal e único orador, mas os meios que ele tanto acusa de tramarem contra si, por dever de ofício, deram ampla cobertura a mais uma das suas bravatas de palanque.
Então ele se sentiu à vontade, chegando até mesmo a chorar um choro de jararaca ou crocodilo, como queiram os leitores. E isso foi visto e ouvido por todo o país, que possui, entre a sua enorme população, milhões de pessoas crédulas, que podem não acreditar em papai-noel, mas, por ingenuidade ou necessidade, acreditam nesses biotipos de salvadores da pátria que com frequência têm aparecido na história do Brasil.
E o que ele disse foi o mesmo de sempre: pobre e vencedor, desperta a ira dos poderosos, que não querem que outros pobres como ele andem de avião. Bem a propósito, essa figura de retórica é mais uma das suas inverdades, pois, muito antes dele aparecer no cenário político nacional, as empresas aéreas já trabalhavam, através de criativas campanhas publicitárias, as classes menos favorecidas da população brasileira a viajar em seus aviões, concedendo facilidades como o crediário e outras situações vantajosas, como o uso da milhagem para a oportunidade de viajar, algumas vezes até de graça.
O curioso nessa história é que, coincidindo com o início do seu primeiro governo na Presidência da República e até muito recentemente, a classe operária e os demais usuários dos assentos econômicos nos voos da aviação comercial passaram a pagar mais por isso.
A consequência dessa sua fala, que lembrou o talentoso Abelardo “Chacrinha” Barbosa, com o seu bordão “Não vim para explicar, vim para confundir”, foi um certo estremecimento na opinião pública brasileira, com gente importante como alguns formadores de opinião passando a criticar os corajosos integrantes do Ministério Público Federal pelo “circo” que teriam armado para explicar a sua denúncia.
Cada um entende como quer. Nosso entendimento foi o de que estavam prestando contas à nação de um trabalho que envolve a culpabilidade de um ex-presidente da República, que deve ter sofrido todo o tipo de pressão para não ser concluído da forma como acabou sendo.
Bem, se Lula quis confundir mais uma vez, conseguiu. Tomou-se o direito de não explicar o que lhe havia sido imputado na denúncia, não permitindo inclusive, como já acima registramos, que jornalistas lhe fizessem perguntas.
Não chegamos ao ponto de afirmar que o denunciado virou o jogo.
Muito longe disso, o juiz Sergio Moro vai demonstrar nos próximos dias. Mas, uma vez mais, atrapalhou o voo do país que tenta sair do chão, onde se encontra devido aos estragos que o denunciado e sua trupe têm lhe imposto durante muitos destes últimos longos anos.
Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda