Depois das barbearias retrô, entram em cena os contêineres. Tudo cabe num contêiner. Tudo fica uma gracinha num contêiner. Quero morar num contêiner…

É sempre assim que começa, nunca se sabe quando termina porque os que mergulharam na esparrela dissimulam, desconversam e, se questionados, respondem “quem, eu? você deve estar enganado ou me confundindo com outra pessoa…”.

Apenas lembrando e recorrendo à nova e mais que prestativa e fundamental “mãe dos burros”, a Wikipédia: “contêiner é um equipamento utilizado para o transporte de carga”. Preciso repetir? “Um recipiente de metal ou madeira, geralmente de grandes dimensões, destinado ao acondicionamento e transporte de carga em navios, trens, caminhões… Tem como característica principal nos dias de hoje funcionar como uma unidade de carga independente, com dimensões padrão em medidas inglesas (pés). A unidade base geralmente é o TEU (Twenty Feet Equivalent)”.

Deu pra entender? Não é para gente, nem para qualquer outro tipo de animal, muito menos plantas.

Abro o Guia Da Folha da segunda semana de novembro de 2016. Chamada de capa: Encaixotando São Paulo. Explicação, “conheça a nova onda de bares, galerias e espaços gastronômicos que funcionam em contêineres”. Não me contain…ho. E, urro: “fujam! É um horror!”.

Marianas, Agunzi e Marinho, saíram por São Paulo, a mando do Guia da Folha, para vasculhar os points de contêineres. “Nos últimos meses, ao menos seis estabelecimentos abriram as portas em contêineres. Praticidade, visual descontraído e custo baixo estão entre outras vantagens apontadas por empresários para montar negócios nessas estruturas”.

Aí foram entrevistar uma arquiteta. Mariana Simas. “O mais interessante é o reuso de um objeto descartado e tão simbólico de nossa economia de trocas. A desvantagem é que a chapa metálica de que é feito é um condutor de calor… além disso, toda a abertura feita nos contêineres vira uma aresta cortante…”. Imaginou, morrer assado e sangrando! Socorro!

Mercadoria é uma coisa, gente é outra. Gente, muito especialmente em galerias, bares, restaurantes e escritórios provisórios, quer conforto, comodidade, segurança, temperatura agradável; os contêineres são umas gracinhas de ser – por fotografia, como conceito e descrição. Para uso, uma bobagem.

Entro no Mercado Livre. Infinitos vendedores de contêineres e derivativos. Atenho-me a um projetista de casas contêineres. Oferece 93 modelos diferentes de projetos, pela bagatela de R$ 50 cada modelo. 100% dos que já compraram recomendam. Cada modelo trazendo entre 20 a 40 imagens. Passo a passo da construção – do início ao fim. Prefiro cela de cadeia.

Paro num outro vendedor, que é especializado em banheiros contêineres. E olha o detalhe: masculino e feminino! Já entrega pronto pela bagatela de R$ 10 mil, ou em 12 x R$ 1.004 pelo cartão. E no Rio Grande do Sul o governo vem usando contêineres como celas provisórias. Depois de alguns dias vivendo encaixotados, os presos vêm apresentando um índice espetacular de recuperação fulminante. Brincadeiras à parte e, de novo, mais uma bobagem.

Engraçadinha de se ver, tétrica de se usar. Só em situações de extrema necessidade e como solução provisória, recorra, excepcionalmente, aos contêineres.

As soluções clássicas, convencionais e consagradas, mesmo que eventualmente não tenham a mesma graça, permanecem sendo a melhor decisão. A menos que você se divirta em tratar seus queridos clientes como mercadoria. Se eles topam, parabéns, todos de contêineres merecem-se!

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)