Numa tarde chuvosa, fui a uma livraria – lugar que sempre frequento quando quero “viajar” nas ideias ou apenas para me distrair. Gosto de ficar folheando alguns livros de arte, fotografia, culturas diversas. Fujo dos “best-sellers” e tento buscar títulos menos conhecidos, sem me importar se o autor é consagrado ou não. Gosto de comprar livros – e fisicamente na minha mão, para que eu possa rabiscar algo ou escrever algum comentário. Adoro ir até aquelas estantes que têm uma segunda fileira de livros escondidos. E foi neste tipo de busca (aqui, confesso que estava literalmente engatinhando no chão da livraria), ao puxar um livro, um outro ‘qualquer’ saltou em meu colo. A ideia estava ali, mas eu ainda não sabia. O título era instigante: Feijoada no Paraíso. O autor, Marco Carvalho, não o conhecia. Como sempre costumo fazer, olhei na orelha do livro e logo me interessei. Saga de um herói, magia, capoeira… Junto com este, levei mais três outros que havia selecionado. Em casa, como de costume, fui lendo simultaneamente os quatro livros.
Sempre vou deixando para trás os que não me interessam, seja no final do primeiro capítulo, no quinto, no oitavo – e me concentro naquele que esteja me encantando. Geralmente, a partir da escolha, retomo a leitura no começo e devoro o livro em um ou dois dias. Faço assim também quando assisto a uma série na Netflix ou HBO-GO, numa verdadeira maratona pelas madrugadas. Adoro fazer isso. Ao terminar aquele mencionado livro, senti uma forte palpitação no coração e pensei: talvez seja a inspiração para um filme ou uma série. E foi. Assim começava a nascer o meu longa Besouro.
Vou muito ao cinema. Acho uma experiência insuperável. É bem diferente do que assistir a um filme em casa. A plateia, a respiração das pessoas que você não faz a menor ideia de quem sejam, as emoções que contagiam. Assisto dois a três filmes por dia nos fins de semana em que eu não esteja trabalhando. Sempre fiz isso, desde a adolescência. Essa mistura de gêneros e estilos mexe comigo e, mesmo inconscientemente, deve ajudar na hora de criar ou desenvolver um trabalho. Mesmo que seja numa decupagem, num storyboard de um longa ou de um comercial.
Poderia falar também que fico ouvindo músicas. Adoro as clássicas, concertos ou sinfonias. Elas são sempre muito provocadoras. Ou mesmo os passeios por galerias de arte, ficar observando cada detalhe de uma pintura ou escultura, até mesmo um pequeno rastro de uma pincelada na tela. Tudo inspira.
Mas, uma das experiências mais inspiradoras que pratico hoje é a relação com a natureza. Tenho verdadeiro fascínio pela sua magia, sua força, sua energia. Mesmo em São Paulo, onde fico a maior parte do tempo, posso contemplar uma lua por horas, sentir um vento que vai acariciando ou mesmo esbofeteando meu rosto. Raios e chuvas, alvorada ou crepúsculo, nunca se repetindo. Aproveito cada fresta que descubro na cidade para observar algo que a natureza esteja proporcionando. Quando viajo para algum lugar próximo ao mar, ele me proporciona uma recarga de baterias extraordinária. E mais que inspiração, desperta fontes de transpiração de ideias que são imprescindíveis, principalmente na hora de desenvolver ou dar forma a algum conteúdo.
E, talvez por estar reciclado pela energia da natureza, numa próxima visita a uma livraria, fico na esperança de andar novamente engatinhando pelas estantes e algum livro salte na minha mão, como mágica.
João Daniel Tikhomiroff é diretor de cena, sócio-fundador e diretor-geral artístico da Mixer