Aparentemente, o mercado publicitário – que deve ser entendido a partir do marketing, do qual é consequência – começa a viver um outro momento em nosso país, principalmente nos grandes centros, onde é mais volumoso o uso da comunicação publicitária, da qual todos muito esperam.
Queremos dizer com isso que, o que estava em compasso de espera, começa agora a se movimentar, ainda que vagarosamente. De qualquer forma, já é um bom sinal, respeitando o período sempre mais volumoso da publicidade, que é o último trimestre do ano.
Por vários fatores, a propaganda passou por períodos de semiestagnação desde o início do ano, a partir principalmente das verbas de governo, considerado o anunciante número um do país em termos de verbas.
Governo novo, presidente da República um pouco refratário não exatamente à publicidade, mas – segundo seus assessores mais próximos – ao uso que dela vinha se fazendo, acarretando com isso uma longa paralisação que agora começa a se mover, ainda que lentamente.
O chefe pena branca começa a entender a extrema necessidade do uso do ferramental publicitário pelo governo, sempre tomando o cuidado de conter os abusos e as malversações das verbas.
Outro fator que começa a colocar a atividade publicitária onde ela merece estar é a recuperação dos ganhos pelas grandes corporações, podendo agora destinar um pedaço maior à propaganda. Já se percebe isso claramente em anunciantes de renome, aos poucos voltando ao mercado aumentando o seu potencial, o que inclusive estimula concorrentes a fazerem o mesmo para não perderem valiosas fatias do mercado.
A batalha entre o analógico e o digital ainda prosseguirá por um bom tempo, com este último obtendo maior crescimento. Mas nada que venha, pelo menos no curto prazo, a eliminar de vez seu oponente.
Mas o que verdadeiramente salva a nossa propaganda é a qualidade criativa que nossos profissionais do setor lhe emprestam, aumentando com isso o potencial de resultados de cada campanha que sai das agências e ganha as ruas através dos meios, sejam tradicionais ou recém-criados. Não há consumidor que resista a um apelo publicitário extremamente criativo, na forma e na ideia. Esse tipo de importante fator de venda pode fazer mais pelo produto ou serviços do que eles mesmos por si.
A contradição, do título acima, reside no comportamento ambíguo do mercado, que, possuidor de tantas e tamanhas armas para contribuir nas vendas, recua a cada início de ano como se acreditando que o arsenal publicitário pode ter envelhecido. Não envelhece e jamais envelhecerá, pois novas ideias sempre serão trazidas para todas as formas de publicidade, seduzindo o consumidor com os seus argumentos e beleza.
A força de uma nova ideia publicitária sempre levará o consumidor ao produto ou serviço. Sempre foi assim e assim continuará, enquanto o ser humano prosseguir admirando a beleza de uma mensagem e o apelo inteligente que ela contém.
Em matéria assinada pela jornalista Neusa Spaulucci, há uma observação sobre um pensamento convergente entre profissionais tarimbados a respeito da influência que a mudança de geração no meio, aliada às novas mídias, contribui para uma mudança de comportamento também junto aos profissionais, e aqui queremos nos referir aos mais jovens, que sabem observar com rigor maior do que os da geração passada a importância do faturamento dos seus clientes na composição e oferta dos seus salários, bem como o crescimento da valoração dos resultados.
O que temos a dizer sobre isso é que nem poderia ser diferente. Nesse tipo de questão, cada nova geração torna-se mais ambiciosa que a anterior, diante principalmente da valorização em muitos sentidos, provocadas pela boa propaganda às marcas.
Seria a nosso ver errado e até inesperado o comportamento digamos oposto, com os novos profissionais observando a evolução das marcas e os seus resultados de vendas e não se atribuindo parte nisso.
O domínio da qualidade publicitária é mais forte e eficaz hoje, porque a cada geração de profissionais do setor há um visível avanço na qualidade intrínseca de cada um, em consonância com o avanço tecnológico movido por outros jovens profissionais dedicados a essa profusão de recursos, que muito contribui para um produto final da mais alta qualidade e consequente agrado no universo aberto da comunicação.
Amigos – e são muitos – de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, conforme já registramos em nossa edição de 16/9/19, estão contribuindo com a sua mais recente obra de comunicação, que resulta em uma série de depoimentos sobre a sua figura, em comemoração aos 85 anos de vida desse gênio exemplar que rapidamente transformou a televisão brasileira, tirando-a da era pré-histórica e dando-lhe formas não apenas modernas, como futuristas.
O trabalho está em vias de ser concluído e, como tudo que se passou e ainda passa na vida desse cidadão superior, teremos ao final, sem dúvida nenhuma, um resultado proeminente. Tive a honra e o prazer de ser convidado para um dos depoimentos, que me remeteu aos meus 15 anos, quando trabalhava na infelizmente extinta Multi MP Propaganda, uma agência subsidiária do Grupo McCann, que funcionava em uma casa estilo colonial na Rua Albuquerque Lins, 915.
Um endereço então distante de restaurantes e das casas da maioria dos seus funcionários, porque naquele tempo muitos ainda almoçavam em casa nos dias úteis. Isso levou Davi Monteiro, o presidente da agência, a convidar a mulher do zelador da agência a produzir almoços para a turma que não saía da agência entre 12h e as 14h.
Como para tudo na vida precisa-se de sorte, a minha veio na forma singela de sentar-me àquela mesa diariamente, entre muitos cobrões, dos quais se destacava ele, o Boni, com os seus 27 ou 28 anos, já entendendo de TV mais que todos naquele recinto e naquela agência, onde já ocupava o cargo de diretor de TV. Muitas conversas se travavam nessas duas horas tão esperadas do dia, sendo o mote principal as campanhas que estavam sendo criadas e produzidas por aquela turma para os clientes da Multi.
Essa foi a minha primeira, única e grande escola de propaganda que cursei, considerando-me formado depois de ouvir diariamente tantos excelentes profissionais expondo seus pontos de vista sobre as campanhas em criação e produção. Todos falavam um pouco, Boni um pouco menos, porque sua genialidade dispensava muitas palavras. Na vez dele – e eram muitas, a pedidos – facas, garfos e colheres eram deixados sobre o prato.
Não apenas eu, mas muitos amigos que àquela mesa tinham assento, confessavam que terminavam o almoço a cada dia sabendo mais sobre a profissão e os truques, com o crédito maior de todos a Boni, essa figura de um valor inestimável.
Feliz 85 anos, caro amigo!
Armando Ferrentini é diretor-presidente e publisher do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br).