Além de tocar a 9ine e de sua nova função na Globo, Ronaldo possui contrato com oito patrocinadores

 

Em tempos de discussões a respeito de liberdade de expressão, direito à informação e biografias não autorizadas, eis que surge uma polêmica envolvendo um dos jogadores mais bem-sucedidos da história do futebol brasileiro: os vários papéis profissionais exercidos por Ronaldo, conhecido como Fenômeno e um dos nomes mais requisitados da publicidade. Empresário desde que se aposentou dos campos, em 2011, hoje Ronaldo é membro do comitê da Fifa, sócio da 9ine, agência do Grupo WPP, e foi oficializado como comentarista esportivo da Rede Globo.

 

 

Durante a Copa de 2014, o ex-atleta estará firme nas transmissões da emissora comentando a performance dos jogadores – sejam eles contratados da 9ine ou não. Ronaldo possui oito contratos publicitários: Ambev, PokerStars (o maior jogo de pôquer online do mundo), Nike, Extra, Duracell, Claro, Fiat e Hipermarcas. Perde, é verdade, para Neymar, que tem 14. Ronaldo também foi embaixador da ONU.

Uma nota em um jornal paulistano gerou a polêmica: Ronaldo não poderia, como contratado da Rede Globo, ser garoto-propaganda de várias marcas. Ali Kamel, diretor-geral de jornalismo e esporte da Rede Globo, divulgou uma nota alegando que Ronaldo, como comentarista convidado, não quebrará nenhuma regra da empresa nem ferirá direitos dos patrocinadores. Como não é fixo, pode fazer publicidade.

“Ronaldo já esclareceu, em entrevista ao ‘Esporte Espetacular’, que não é empresário de jogador: sua empresa, sem exclusividade, agencia anúncios para alguns atletas. Ele disse que não se furtará a criticá-los, quando merecerem, tendo inclusive criticado um deles na mesma entrevista”, disse Kamel.

Sergio Amado, CEO do Grupo Ogilvy, considera a polêmica descabida e não vê conflitos nas atividades que o jogador desempenha. “Tenho é orgulho da capacidade, inteligência e mobilidade que Ronaldo tem de ser aceito, admirado, amado por milhões de pessoas no Brasil e fora do Brasil, assim como da reputação que ele vem construindo no mundo nos negócios com tanto sucesso, como foi no futebol. Nós precisamos de mais Ronaldos na nossa história”, diz. Vale lembrar ainda que, no final do ano passado, Ronaldo participou do quadro Medida Certa, do ‘Fantástico’. Em três meses, ele perdeu 23 quilos. Na época, houve especulação acerca da possibilidade do Fenômeno ter sido remunerado para emagrecer. A Rede Globo negou a existência de pagamento de cachê.

A negociação com a PokerStars.net foi feita com a 9ine. Por meio da orientação dos profissionais do PokerStars e da prática online, Ronaldo vai incrementar os torneios, convidando os fãs de esporte para se juntarem a ele enquanto disputa partidas de pôquer. A proximidade com o universo do pôquer não é recente. Curioso a respeito do esporte, Ronaldo já jogava de forma descompromissada e, em 2012, chegou a participar de uma mesa especial que reunia atletas e celebridades na terceira edição do Festival MasterMinds, criado e idealizado por, entre outros, o brasileiro campeão mundial de pôquer e Team PokerStars Pro, André Akkari.

“Já há algum tempo venho descobrindo esse jogo de tantas habilidades e o André Akkari, o gênio da modalidade, tem sido meu mentor. Escolhi o PokerStars porque eles reúnem uma comunidade apaixonada pelo esporte e uma grande equipe de jogadores”, declarou o jogador, que é fã do esporte. Em outros países onde PokerStars está presente, medalhistas olímpicos como os tenistas Rafael Nadal e o campeão Boris Becker, além da medalhista olímpica de hóquei Fátima Moreira de Melo, também são integrantes do Team PokerStars SportsStar.

A professora da pós-graduação em comunicação corporativa da ESPM, Izolda Cremonine, acredita que a discussão que envolve os vários papéis do jogador Ronaldo precisa ir além. Em sua opinião, o ex-jogador deveria refletir a respeito de seu papel na sociedade e a importância que sua imagem tem para jovens, por exemplo. A professora acredita que tantas atividades – principalmente representando tantas marcas diferentes – podem desgastá-lo e desgastar a imagem de seus parceiros. “Sem fazer apologia moral ou religiosa, eu diria que Ronaldo é reflexo do contexto atual que vivemos, da visibilidade a qualquer preço, que obriga as pessoas a irem ascendendo e ocupando todos os espaços, correndo o risco de perderem a mão e caírem em descrédito. Ronaldo não precisa mais do dinheiro de tantos projetos em que se envolve. E em um país de tantas discrepâncias sociais como o Brasil, seus atos soam estranhos, incompatíveis com a imagem do garoto de origem humilde que ele sempre teve”, opina Izolda.