Diferenciação é a busca constante das agências de comunicação. Mas como fazer a diferença com tanta informação circulando em tempo real?
A inspiração da Purple Cow, fundada há nove anos pelo CEO Marcelo Bernardes e pelo CCO Cassio Filho, agora com a companhia do head de cultura Hércules Pereira, foi conferir a tese do especialista em marketing Seth Godin, autor do best seller Purple Cow: Transform your business by being remarkable.

Na análise da teoria da vaca roxa, o óbvio bateu de frente com o plano de criar uma agência capaz de ser observada como inovadora. E criativa. Não dava, portanto, para ser uma vaquinha ‘commodity’ no pasto. A principal lição se resumiu à frase: “Safe is risk”.

Os sócios Hércules Pereira e Marcelo Bernardes cuidam, respectivamente, da cultura e da gestão, fatores que mantêm o negócio vinculado à ideia original de fazer a diferença

Isso significava que zona de conforto era incompatível. Mesmo porque, na faixa dos 22 anos, os fundadores poderiam correr riscos, mesmo que calculados. O primeiro deles foi abrir o negócio sem nenhum cliente em uma sala no bairro de Moema, em São Paulo, emprestada pelo padrasto de Bernardes, o publicitário Marcelo Zetune.

“Éramos apenas uma dupla naquele escritório. Já tínhamos trabalhado em grandes agências, mas agora tínhamos pela frente o empreendedorismo
e a missão de mostrar que poderíamos competir mesmo sendo uma startup”, explica Bernardes.

A primeira etapa da Purple Cow foi o choque de realidade de abrir negócio próprio. A segunda foi dedicada ao atendimento de marcas de e-commerce, a maioria já fora do ar, como a Olha Dela. O passo seguinte foi atender como produtora digital as agências Lew’Lara\TBWA, DPZ e a MC Saatchi Fabra&Quinteiro. Os três movimentos não estavam adequados à pretensão da Purple Cow, apesar de ser reconhecida por ser 100% digital e data strategy. Mas ainda era uma ‘white label’. Ou seja, ficava na sombra das agências.

Após a recepção, com recursos digitais, a agência tem espaço com vista generosa

Vencer a concorrência da Lojas Marisa representou a saída do underground. E disrupção para o brand orientado pela tese da vaca roxa. A campanha Pães, criada para a rede de varejo feminino, deu liga à meta. Apesar de ter artigos masculinos, o interesse histórico de negócios da Marisa foi a mulher. Mas como fazer uma campanha de Dia dos País para uma marca que não explora esse target?

Uma pesquisa apontou que muitas famílias tinham a liderança da mãe. A campanha Pães, aprovada pela diretora de marketing Roberta Morelli, mostrou filhos que homenageavam as suas mães na data promocional de pais por terem sido criados pela, por assim dizer, ‘pãe’.

O espaço tem uma escada que faz parte do design original da construção

“Foi um momento especial. Que mostrou que correr riscos valia a pena. A partir daí, a nossa história mudou. Passamos a atender marcas como Samsung, Chili Beans, Localiza, Yazigi e Red Bull”, disse Bernardes, lembrando que a chegada do sócio Hércules Pereira, inicialmente na mídia, reforçou a ideia de tornar mais robusta a cultura da agência.

A Purple Cow ocupa um prédio próprio na Vila Madalena que abriga seus 65 funcionários, com diferentes formações e acostumados a um jeito pouco convencional. As lideranças da agência não ocupam salas fechadas. “Sempre estamos de portas abertas, seja para discussão de trabalho ou pessoais. Nossa cultura é assim, explica Pereira. “A criatividade é o grande valor”, ele acrescentou. “Aqui tem suor; barriga no balcão”, resume Bernardes. “Continuamos fazendo publicidade, que é a nossa paixão. Por isso não nos isolamos. Na nossa cultura não tem ego, mas resiliência, força de vontade e distância de rótulos”, enumerou Bernandes, que ressalta a importência da questão cultural, que, em sua opinião, faz a divergência nutrir valores ao planejamento de comunicação.

Não por outro motivo, a Purple Cow investe em um time multidisciplinar. “Cabeças diferentes ajudam a produzir projetos mais robustos, oxigenados e para desconstruir preconceitos. A comunicação propõe diálogos. Pontos de vista diferentes são bem-vindos”, recomenda Bernardes, lembrando que a agência tem buscado aprimorar sua política de RH. Por exemplo, os funcionários do sexo masculino passam a ter direito à licença paternidade de seis meses. O primeiro a se beneficiar da decisão foi o criativo Natan Navas. Durante o semestre que ficará ausente continuará recebendo salário e a agência vai bancar os custos do profissional que vai substituí-lo.

Raio X
Nome da agência: Purple Cow
Ano de Fundação: 2011
Lideranças: Marcelo Bernardes (CEO), Cassio Filho (CCO) e Hércules Pereira (head of culture).
Colaboradores: Francine Rosset (head of business); Claudia Nakahara, Fernanda Santos e Mariana Costa (diretoras de business); Icaro Diniz, José Caporrino e Ricardo Barbosa (direretores de criação); Anderson Martins (data strategy) e Henrique Oliveira (mídia).
Clientes: Chilli Beans, Gol, Red Bull, Lindt, Yazigi, Samsung e Localiza.

Fachada da sede própria da agência Purple Cow localizada no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, que abriga 65 funcionários