Dois diretores de cinema que enalteceram com suas obras a 7ª arte na segunda metade do século passado. E um terceiro, brasileiro, referência obrigatória do que de melhor se fez no cinema de nosso país. Primeiro, os dois. O genial cineasta japonês Akira Kurosawa, lembram, de Os Setes Samurais, Ran e O Sonho; e um dos 3 maiores mestres dos mais de 100 anos de cinema, o sueco Ingmar Bergman, lembram, de Noites de Circo, Sonhos de uma Noite de Verão, Morangos Silvestres, O Silêncio, Gritos e Sussuros e O Ovo da Serpente. Kurosawa, que morreu com 88 anos, não conhecia Bergman pessoalmente. E Bergman estava completando 70 anos. Mesmo assim, Kurosawa decidiu escrever para Bergman. “Estimado senhor Bergman, por favor, permita-se felicitá-lo em seu septuagésimo aniversário. Cada vez que o vejo, seu trabalho toca meu coração profundamente e tenho aprendido muito com suas obras, sempre alentadoras. Desejo que o senhor se mantenha em bom estado de saúde, para que possa criar mais filmes maravilhosos para todos nós.”
“No Japão existiu um grande pintor chamado Tessai Tomioka, que viveu na era Meji. Pintou vários quadros excelentes quando ainda era jovem. Ao chegar à idade de 80 anos, começou, de repente, a pintar quadros que eram muito superiores aos anteriores, como se estivesse vivendo sua grande fase de florescimento. Cada vez que vejo suas pinturas, me dou perfeitamente conta que um ser humano não é capaz de criar obras extraordinárias antes de chegar aos 80…”. E conclui sua carta, dizendo: “Um ser humano nasce como um bebê, converte-se em menino, passa pela juventude, a flor de sua existência. E finalmente volta a ser um bebê, antes da morte. Esta é, em minha opinião, a forma ideal de vida. Creio que estaria de acordo comigo que um ser humano chega a ser capaz de produzir obras puras, sem restrição alguma, nos dias de sua segunda infância. Agora tenho 77 anos de idade e estou convencido que meu verdadeiro e melhor trabalho está apenas começando. Com as mais cordiais saudações, Akira Kurosawa.” Acho que é no que acreditamos, todos, e segundo nos ensinou nosso adorado mestre e mentor Peter Drucker. Vivemos intensamente a sociedade do conhecimento. A evolução do ser humano e a consagração, finalmente, do que o diferencia de todas as demais espécies. Conhecimento esse acumulado no correr de gerações, que, em cada um de nós, vai sendo absorvido, assimilado e processado durante nossa existência. E que se revela em sua plenitude no outono de nossas vidas. O que me motivou, dentre outras razões, para pilotar a plataforma Perennials do MadiaMundoMarketing, onde orientamos e mentoramos empresários, profissionais e empreendedores. E que é o que pretendo seguir fazendo até o penúltimo dia. Esta carta do Kurosawa para o Bergman que acabei de transcrever para vocês foi revelada através de um dos melhores diretores de cinema do Brasil, Cacá Diegues. Que completará 80 anos no dia 19 de maio, daqui um mês.
Nascido em Maceió, um dos fundadores do Cinema Novo, que nos deu obras-primas e definitivas sobre a alma de nosso país, como Bye Bye Brasil, A Grande Cidade, Os Herdeiros, Xica da Silva, Chuvas de Verão e Dias Melhores Virão. E que no ano passado perdeu sua filha Flora Diegues, aos 34 anos de idade, que lutava há 3 anos contra um câncer no cérebro. Assim, e a um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos, além de reiterarmos nossos sentimentos, muito obrigado por compartilhar conosco, mesmo num momento de dor, uma carta de extraordinária e infinita beleza, e maior sabedoria. Armando Ferrentini, e Francisco Madia, 77 anos. A mesma idade que Kurosawa tinha quando escreveu sua carta a Bergman. Dias melhores virão.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)
*Colaborou Armando Ferrentini