Um principais dos indicadores para classificar um país como inovador, conforme indica o mais recente estudo da Wipo (Organização Mundial de Propriedade Intelectual na sigla em inglês), é o registro de patentes. No levantamento da organização, que destaca a Suíça como país de maior relevância nesse cenário e o avanço dos Brics (leia mais aqui), o Brasil está em segundo lugar entre as economias de renda média que mais registraram patentes. O número coloca o país atrás da China, mas à frente da Índia.
De acordo com a Wipo, os registros no país estão em evolução: eles cresceram 64% de 2005 a 2012. O volume é maior que a média global, que acelerou 37% no período. Uma surpresa é que a preocupação com patentes não é mais somente da indústria de ponta. Ao procurar novas fontes de receita, agências estão entrando no terreno da pesquisa e desenvolvendo tecnologias e produtos. Com isso, cresce também a preocupação com o registro do trabalho.
A Isobar Brasil é um exemplo. Ela patenteou a tecnologia por trás de Fiat Live Store, produto criado para a Fiat que simula um test drive no ambiente virtual. O trabalho ganhou o primeiro Leão de Innovation do Brasil no Cannes Lions deste ano. “Ser relevante é saber que nossas ideias podem e devem ser patenteadas. Não é um processo fácil, especialmente no Brasil, mas totalmente irreversível para nós”, diz Fred Saldanha, CCO da Isobar Brasil.
Outra que se dedicou à criação de um produto inédito foi a Peralta. A agência criou um dispositivo para o solado do tênis que acumula energia do movimento e que pode ser usado para carregar o celular. O protótipo, chamado Power Collector, começou a ser desenhado em 2010 e a empresa decidiu registrá-lo para não perder oportunidades de negócio.
“No mundo de hoje, as ideias surgem muito rápido e não queríamos correr o risco de investir tempo e dinheiro em algo que alguém já estivesse desenvolvendo. Além disso, queríamos poder negociar e transformar essa ideia em receita”, explica Alexandre Peralta, fundador e CEO da empresa.
O processo foi demorado: ao todo, levou quatro anos para ser concluído. De acordo com Mariana Hamar Valverde Godoy, sócia do escritório Valverde Advogados, especializado em propriedade intelectual, patentear produtos é uma forma das agências garantirem receita futura com seu protótipo. “Ela deve se preocupar com o registro para ter exclusividade no uso do produto ou tecnologia e receber royalties por isso [se decidir comercializá-lo]”, explica. Apesar de moroso e caro, o processo é importante como proteção. “É difícil, demorado e tem custo. Mas não é impagável. Um processo judicial posterior com certeza sairá mais caro [que o registro]”, aponta.
Inovação
Um dos destaques do Cannes Lions deste ano foi a FCB Brasil, que apresentou ideias de negócio para seus clientes e correu atrás de tecnologias para viabilizá-las. Com “Anúncio Protetor” e “Speaking Exchange”, a agência conquistou 17 Leões. O primeiro trabalho, para Nivea Sun Kids, era um anúncio de revista que podia ser destacado e virava uma pulseira. Capaz de se comunicar com o smartphones, ele permitia aos pais controlar o quanto os filhos se afastavam na praia. Com o produto, a FCB Brasil levou o GP de Mobile, a primeira agência do país a arrematar esse prêmio.
Para Pedro Gravena, diretor de criação digital da FCB Brasil, Cannes 2014 mostrou que agências precisarão buscar novos processos para inovar. “Algo que usamos aqui para esse produto foi o pensamento de startup. A ideia precisa nascer planejada, para não morrer. Pensamos nas etapas desde o início, depois em como escalar. Estamos agora nesse processo”, explica.
A agência não patenteou o produto. “Não registramos porque não havia novidade na tecnologia usada. O que fizemos foi casar tecnologias já existentes e aplicá-las a uma ideia”, atentou Max Geraldo, diretor-executivo de criação da FCB Brasil. “Nosso negócio não é tecnologia, é ideia. O principal ingrediente para inovar é estar atento à necessidade do cliente e correr atrás do que for necessário para viabilizá-la”.