O gesto passaria despercebido se na cena não estivessem Cristiano Ronaldo e Coca-Cola. Durante coletiva, antes da partida entre Portugal e Hungria, pela Eurocopa, o CR7 tirou duas garrafas da marca do alcance das câmeras e ainda falou: “Bebam água, não Coca”, enquanto segurava uma garrafa de água mineral.
O problema é que a Coca-Cola é uma das patrocinadoras do campeonato europeu de seleções.
O episódio aconteceu nesta segunda-feira (14) e que ‘respingou’ nesta terça, quando a imprensa estrangeira passou a relacionar a perda de US$ 4 bilhões da Coca-Cola com o dia seguinte da cena envolvendo o craque português — a marca foi de US$ 242 bilhões para US$ 238 bilhões. Isso porque as ações da empresa começaram o dia valendo US 56,10 (em torno de R$ 285), no entanto, pouco tempo depois, tiveram uma desvalorização de 1,6%, custando US$ 55,22 (aproximadamente R$ 280).
Marcelo Boschi, coordenador do MBA de Marketing Estratégico da ESPM, acredita que o gesto do CR7 não foi por acaso. “Ele é uma das figuras esportivas mais relevantes do mundo e foi um gesto premeditado, que terá um grande impacto para a marca”, afirmou. O professor ainda destaca que o gesto veio de um nome muito ligado à saúde. “Na frente de todos, ele fez uma troca por água.”
Além disso, o especialista alertou sobre o modelo atual de patrocínio. Para ele, a lógica desse tipo de entrega pode abrir brechas até mesmo para outras manifestações semelhantes. “A Heineken, por exemplo, também está exposta. É uma bebida alcoólica e também pode passar por isso”, disse.
E essa não foi a primeira vez em que a Coca-Cola se tornou alvo de atletas. Em 2015, o jogador de futebol americano Tom Brady disse que os refrigerantes das marcas são um “veneno para as crianças”. Aliás, o próprio Tom Brady retuitou, ontem, a notícia.
COMPORTAMENTO INADEQUADO
Fábio Wolff, sócio-diretor da agência de marketing esportivo Wolff Sports, classifica a atitude de Cristiano Ronaldo como ‘inconveniente’. “Ele estava num ambiente, que não era o escritório dele, que não eram as suas redes sociais, era um ambiente onde ele deveria responder perguntas sobre futebol”, afirmou. “Eu achei uma postura totalmente inadequada”, completou.
Já em relação à marca, Wolff não vê o impacto como algo tão grande, principalmente tratando-se da Coca-Cola. Agora, para a Uefa – que organiza a competição – a dor de cabeça será ainda maior. “Esse episódio vai trazer certa preocupação para que os atletas sigam o protocolo e respeitem os patrocinadores. Isso, inclusive, deverá ser levado para o departamento jurídico para se proteger de situações como essa”, destacou o executivo.
Professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Josilmar Cordenonssi vê apenas um favorecido no imbróglio: Cristiano Ronaldo. “O gesto vai favorecer a marca Cristiano Ronaldo, que está mostrando certa sinceridade para o público. Agora, para a Coca-Cola e para a Eurocopa, será um desafio enorme”, disse.
Para a Coca-Cola, na opinião do professor, o melhor é deixar o tempo passar e tentar não mostrar mais as tais garrafas nas entrevistas coletivas. “Seria bom manter apenas a logomarca, sem garrafas”, finalizou.
Procurada, a Coca-Cola disse que não vai se manifestar sobre o assunto.