Meus WhatsApp e Facebook recebem diariamente as mais absurdas mensagens, desde revelando os poderes curativos mágicos da casca da banana a dizendo que o juiz Sérgio Moro é agente da CIA. Sem contar notícias atribuídas a jornais sérios como o New York Times que apoia a internacionalização da Amazônia, que a greve dos bancários foi financiada pelos bancos, para que as pessoas aprendessem na marra a operar via internet e, assim, poderem fechar agências e diminuir a folha.
Normalmente faz sentido, até poderia ser, mas o grande problema é que a gente acredita e divulga dependendo dos nossos interesses e crenças anteriores. Um taxista é o maior divulgador de que o Uber tem um supercomputador que registra toda movimentação de todos os usuários e avisa os órgãos de segurança sobre qualquer movimentação suspeita.
Também poderia ser, mas seria de utilidade apenas para o FBI ou a CIA, já que, provavelmente, aqui no Brasil os analistas estariam com os relatórios atrasados desde 2015 e em greve para receber o décimo terceiro salário. Felizmente a paranoia terrorista ainda não chegou no Brasil como nos Estados Unidos, porque o que se escreve de besteira ininteligível nas redes sociais, o que poderia alertar os supercomputadores sobre alguma ameaça, é uma grandeza. Mesmo entre amigos letrados boa parte do que recebo tem não só erros de português como alguns vícios de linguagem de fazer Houaiss morrer mais um pouco.
A história que eu vou contar é meio velhinha, mas vale a pena. O compositor Tavito um dia mandou uma mensagem para o locutor Eliakin Araújo, que morava em Fort Lauderdale, reproduzindo uma notícia que o Estado Islâmico estava trazendo pelo correio todo material necessário para montar bombas atômicas dentro dos Estados Unidos.
Esses componentes estariam sendo estocados em locais secretos, para se transformar numa rede de bombas atômicas capaz de destruir o país inteiro numa explosão conjunta. Isso envolvia a importação legal de inocentes produtos de vários países, que entravam nos portos e aeroportos americanos misturados a frangos congelados, soja, livros e por aí a fora.
E daí compartilhou a peta com Eliakim, pacífico morador da Flórida, quase americano e por isso completamente paranóico. Numa manhã, na casa de Eliakim, todos dormiam quando o quarteirão é cercado por homens e mulheres armados. A casa é invadida por uma brigada blindada que fez Leila, Eliakim e a diarista encostarem na parede enquanto cães farejavam a casa inteira e os policiais revistavam cada cantinho.
Tudo sob ameaça, nem mosquito voava livremente. Mensagens eram trocadas: “pinguim vermelho para foca malhada: pássaro fora de ação”, “pirilampo para pitbull: ação concluída”. Eliakim para Leila: caralho! Depois de horas de interrogatório, Eliakim conseguiu convencer os agentes de segurança que não era El Iakim, perigosíssimo terrorista árabe, mas um conhecido e respeitado jornalista brasileiro. E que Tavito era um músico mineiro que tudo que queria da vida era uma casa no campo para ver a esperança de óculos.
Mas tremeu como nunca, sob a mira de metralhadoras e rosnar de cachorros farejadores. Foi uma manhã inteira de verificação de documentos, consulta a superiores, telefonemas ao consulado, explicações sobre o conteúdo da geladeira, devassa na despensa. Com a tremenda vocação americana de fazer trapalhadas nessas horas, misturada à paranoia, fez do lar dos Araújo um objetivo de combate.
Daí se explica por que Tavito recebeu pela internet uma mensagem curta e grossa: “Tavito: vá tomar no cu”. Pelo visto, deveria ter ido.