O britânico Charles Darwin marcou época estudando a transmutação das espécies. É dele a máxima: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o maior: é o que se adapta melhor”. Darwin propôs a teoria de que os ramos evolutivos são resultados de seleção natural, onde a luta pela sobrevivência resulta em consequências similares às da seleção artificial.

Seu livro de 1859, A Origem das Espécies, causou espanto na sociedade, mas passou a ser reconhecido como a forma mais razoável de justificar a evolução das espécies. Pois bem, resgato Darwin no momento em que observamos uma evolução acelerada, num ritmo talvez nunca visto, motivada por um dos momentos mais agudos da sociedade.

A pandemia, cujo impacto segue forte pelo segundo ano, e a crise econômica decorrente dela, têm um efeito catalisador de adaptação da sociedade. No mundo dos negócios, quem não procurou se adaptar foi ficando pelo caminho, dando espaço para aqueles que, em vez de se desesperar, tentaram enxergar novas formas de atuar, acelerando processos que estavam previstos para anos ou décadas à frente.

No comércio, por exemplo, com a impossibilidade de abrir lojas, os empresários foram obrigados a antecipar planos de venda virtual, sob risco de não sobreviver ao efeito prolongado das quarentenas.

Com isso, a busca pelo conceito omnichannel, pelo qual busca-se eficiência em todos os pontos de contato do potencial consumidor, sejam físicos ou virtuais, foi frenética. Restaurantes acomodados com seu formato tradicional foram obrigados a se mexer rapidamente, oferecendo delivery a seus consumidores.

Take away (apenas retire o seu produto no ponto de venda), Drive thru (compre sem sair do carro), Click and pick (compre pela internet, retire em pontos de coleta), O2O (online to offline – compre/contrate online, use offline) e outros neologismos começaram a fazer parte do glossário de empresários pressionados pela necessidade. O fato é que essa adaptação era questão de sobrevivência. Elas estavam no radar, mas não para já. A crise acelerou tudo. Como peixes que criaram guelras para respirar sob a água, esses empresários passaram a respirar por outros aparelhos. Não é simples, nem definitivo. Basta constatar que o e-commerce ainda representa apenas um décimo do comércio total.

Temos de cuidar muito bem dos 90% que representam o comércio onde tudo acontece presencialmente. Recentemente, li uma frase de um expert americano em trade marketing que diz: “Os consumidores não precisarão mais ir às lojas. Eles têm de querer ir às lojas”.

A frase determina uma necessidade de evolução importante: os pontos de venda não deverão continuar sendo meros centros de comércio, mas de experiências.
É preciso criar ambientes onde as pessoas se sentirão bem, como se estivessem fazendo um passeio – e não simplesmente comprando.

Só assim substituirão a facilidade de fazer compras num clique, por intermédio de telas, sem sair da sua cadeira. Isso também faz parte do conjunto evolutivo desses novos tempos. No campo dos eventos, estamos todos ansiosos em poder voltar a aglomerar e ter contatos plenos, sem intermediação de telas.

Mas o período da pandemia nos ensinou que nada será como antes. O hibridismo
será o novo normal. A experiência presencial dos eventos voltará forte, valorizada, mas conviverá com a virtual, que será uma alternativa definitiva para quem se dispuser a participar sem a riqueza dos contatos presenciais.

Passada a fase mais aguda da pandemia – esperemos todos que a imunização proporcione isso o mais rápido possível –, não voltaremos ao normal de sempre: seremos outros seres.

Teremos criado membranas de tecido que acomodaremos sobre nossos narizes e bocas para respirar em transporte coletivos ou em situações de aglomeração.

Lavaremos mais as mãos e talvez incorporemos álcool em gel aos itens presentes em nossos bolsos e bolsas. Não se engane: essa pandemia é impactante demais para nos esquecermos dela.

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)