Escrevo este artigo quase uma semana antes do primeiro turno das eleições. Portanto, ainda não tenho ideia do resultado. Mas, você já deverá estar vivendo o day after e, provavelmente, já saberá quem passou para o segundo turno. Então peço que interprete este artigo como uma análise dentro de um contexto ainda de expectativa. Vamos lá!
Antes de mais nada, é preciso enaltecer mais uma “festa da democracia”, como tão bem ressaltaram Armando Ferrentini, no editorial da edição anterior do PROPMARK, e Glaucio Binder, presidente da Fenapro, em artigo n’O Globo (coincidentemente, ambos deram o mesmo título aos seus artigos). Não importa o clima de FlaFlu, Corinthians x Palmeiras, GreNal, BaVi que se instalou no país, com “torcedores” nem sempre educados e comedidos em suas manifestações.
Muita gente teve amizades revistas depois de embates pelas redes sociais, com defesas acaloradas, polarizadas entre dois extremos. Podemos até nos incomodar, mas é melhor que seja assim, preservando a liberdade de expressão que nos é tão cara, do que o estabelecimento de qualquer tipo de censura. É um processo de amadurecimento da nossa jovem democracia.
Quanto à comunicação dos candidatos, é mais fácil analisar de fora, principalmente depois que aparecem os resultados. Com base na última pesquisa, o primeiro ponto que levanto é: a aposta com todas as fichas no horário eleitoral – baseado no rádio e na TV –, feita pela equipe de Alckmin, aparentemente não funcionou. Mesmo porque, como sabemos, não basta ter uma megaprogramação de mídia se o conteúdo não for o melhor. Aliás, acho que a questão vem ainda antes do conteúdo veiculado.
Antes de se iniciar a campanha, é preciso ter um posicionamento forte, claro e inequívoco. O que aconteceu com esse candidato é que, para se obter o megaespaço na mídia, ele foi obrigado a colar na sua imagem a de políticos oportunistas, fisiologistas do conhecido Centrão.
Imagino que tenha sido uma decisão difícil, pragmática, mas que acabou contaminando a imagem de político sério que Alckmin sempre carregou. É o que sempre dizemos por aqui: de nada adianta apregoar uma certa imagem para fora, se ela não estiver consolidada por dentro. Nunca as pessoas tiveram acesso a tanta informação, mesmo sendo ela manipulável pelas famigeradas fake news.
Então, por mais competentes que sejam as mensagens publicitárias, elas não atingem seus objetivos se não estiverem consolidadas pela autenticidade. Por outro lado, o fenômeno mais surpreendente foi o do candidato que liderava com folga a corrida presidencial no momento em que eu escrevia este artigo.
Um político inexpressivo, notabilizado unicamente por suas bravatas e posições radicais, consegue conquistar a maioria de eleitores cansados de falsas promessas e de comportamentos desonestos por parte daqueles que estiveram no poder até então.
Numa flagrante vitória do boca a boca e das redes sociais, Bolsonaro se consolidou na ponta e, se não tiver acontecido um fato novo e muito impactante, terá passado em primeiro lugar para o segundo turno.
O que mais surpreende é a figura de Messias que esse candidato consolidou, tornando seus simpatizantes seguidores fiéis e combativos, surdos a qualquer argumento contrário às suas posições. E, no outro extremo, consolidou-se (pelo menos era a situação que se tinha no momento em que escrevo este artigo) uma figura opositora, também surpreendente por ser apenas um “representante” do carisma resistente de Lula.
Fico imaginando a dificuldade dos marqueteiros em interpretar esses dois fenômenos. Analisar depois do fato consumado – repito – é fácil, mas como estarão os estrategistas que recomendaram Alckmin a tapar o nariz e efetivar uma coligação questionável, mas importante para se obter o maior tempo de exposição no horário eleitoral?
Podemos concluir pela queda de importância da mídia tradicional, em comparação àquela multiplicada pelas redes sociais e pelo boca a boca? Isso só o day after poderá responder.
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)