Um set encantou o menino Fabio Seidl. Acompanhado pelo pai, ele soube ali seu destino profissional. Batalhou, estudou e se tornou homem forte da criação publicitária. Nas páginas seguintes, o atual diretor-executivo da VML Nova York fala sobre sua carreira e como é viver (e trabalhar) nos Estados Unidos, onde mora há cinco anos com mulher e filha, duas de suas grandes conquistas

 

O carioca Fabio Seidl entrou para a publicidade como garoto-propaganda, pelas mãos de seu pai, o fotógrafo Sérgio Afonso Barbosa da Silva. Era apenas um menino. “Desde o primeiro dia que entrei em um set, fui contaminado. Por isso, ainda adolescente, trabalhei com produção, e mais tarde estudei publicidade. Cheguei a ser cliente. Um dia, larguei tudo para fazer o que queria: ser estagiário de criação.” Deu no que deu. Fabio é diretor-executivo de criação da VML Nova York, agência full-service do Grupo Y&R, desde setembro do ano passado. “É uma agência que simplesmente adoro.”

 

Já faz cinco anos que ele vive na cidade mais populosa dos Estados Unidos. Antes de aportar seus conhecimentos na VML, ele esteve na 360i, em que trabalhou para clientes como Coca-Cola e YouTube. “Depois desse tempo todo aqui, estou muito feliz. Sim, sinto saudade dos amigos e da família brasileira.” Mas a adaptação, ele conta, não foi simples. “Muitas pessoas sonham em morar nos Estados Unidos, o que é completamente diferente de trabalhar neste país. Como muita gente conhece Nova York ou outras cidades norte-americanas como turista, às vezes tem outra percepção. Nova York é uma cidade incrível para viver quando há tempo para aproveitá-la. Mas a adaptação não é fácil. Outra cultura, outras referências, valores, rituais, outras cobranças e outra competição.”

 

É possível imaginar o que ele descreve, ainda mais nesta fase de tantas mudanças pelas quais passa a indústria da comunicação no mundo todo. “Estamos passando por dois momentos muito disruptivos. Em um deles, temos o público no comando. No outro, temos acesso a dados e ferramentas com uma precisão como nunca se pensou. Para quem gosta de estar sempre aprendendo, é espetacular.” Segundo Fabio, a novidade nos Estados Unidos é “o comportamento, o pensamento e a cultura, que estão saindo dos grandes padrões e se tornando cada vez mais fragmentados e particulares”.

 Nesse universo, Fabio afirma que costuma trabalhar muito. “Nos Estados Unidos, há quem trabalhe das 9h às 17h. E tem quem trabalhe em um ritmo mais forte, parecido com o do Brasil. Por alguma razão, estou sempre na turma dos que trabalham bastante. Mas não vou ficar glorificando a ocupação. Só gosto do que faço”, garante. Adivinha o que mais o encanta na publicidade? “A falta de rotina.”  Talvez por essa razão, o executivo confessa ter parado de fazer planos a longo prazo. “Cinco anos atrás, não planejei, não sabia que estaria onde estou e nem que passaria por tudo que passei. Então, só penso em aprender, me adaptar e evoluir cada vez mais rápido.” Isso inclui dizer que, para Fabio Seidl, “definitivamente é uma palavra que não me pega e nem me pegará, indefinidamente”.

 

Fabio já rodou um tanto por aí, acumulando 20 anos de
experiência no mercado publicitário. Depois dos treinos como estagiário, produtor e redator, trilhou um caminho de sucesso, atuando como diretor de criação de agências como Africa e Ogilvy. Passou também pela McCann de São Paulo e de Lisboa. Quando voltou para o Brasil, para São Paulo, teve “o privilégio” de trabalhar com dois de seus ídolos: Nizan Guanes e Washington Olivetto. “E um que ainda não era, mas passou a ser uma grande referência: Anselmo Ramos.” Mas quis o destino que ele deixasse o Brasil e seguisse primeiro para Chicago, pela Leo Burnett, e depois para Nova York. Nesse trajeto, conquistou mais de 20 Leões em Cannes, vários Lápis no D&AD, One Show e Clio, entre outros prêmios.

 

Das lembranças boas da vida profissional, Fabio menciona os projetos que mais gostou de fazer. “Um deles foi a campanha “Carequinhas”, que fiz na Ogilvy Brasil para o GRAACC. Raspamos a cabeça de personagens de quadrinhos e desenhos animados do Brasil e do mundo só para dizer que criança tinha direito de continuar sendo criança, com ou sem câncer, com ou sem cabelo. Esse trabalho me emocionou, me transformou, me deu a felicidade de trabalhar com ídolos como Mauricio de Sousa (Turma da Mônica), Jim Davis (criador do Garfield), Carlos Saldanha (A Era do Gelo e Rio). Fiz parte de um time com uma energia única e incrível, para fazer levar carinho para quem estava lutando. Em Portugal, país que me acolheu, fizemos na Copa de 2006 a maior bandeira humana da história, só com mulheres, para mostrar que elas também podiam gostar de futebol, o que era um tabu machista no país. E entramos para o Guinness Book of Records com essa ideia.”

 

Apesar da vida agitada que leva, Fabio tem paradas para descansar corpo e mente. Nas horas livres, ele, que adora música, costuma ir a shows. “Toco, tive banda, gravei discos.” Anos atrás, Fabio montou com amigos a banda Ack, tocando baixo e fazendo vocal. “Pode ser punk rock dos Misfits até um jazz no Lincoln Center.” Também se dedica à leitura. No momento, seu livro de cabeceira é “Direto de Washington”, do “maestro Olivetto”, como se refere ao publicitário, que assina algumas das campanhas mais importantes da propaganda nacional. “Para quem o conhece, tem uma camada extra de diversão”, atiça.

 

À distância, Fabio comenta pouco sobre a atual situação política do Brasil. Diz apenas: “As coisas ficam mais complicadas com a polarização. Seria mais sensato, em uma situação difícil, estar aberto a diferentes possibilidades e soluções”. Em seguida, acrescenta: “Repare, a política, em qualquer lugar do mundo, e a publicidade são duas atividades completamente diferentes, mas as duas trabalham com ideias. Na publicidade, não importa de onde elas surgem. Várias são ouvidas e, no final, as mais eficientes ou inovadoras vão para a frente. Talvez, por eu ser publicitário, acredito mais nesse formato”.

 

Mas quando o assunto é vida pessoal, Fabio se derrete ao falar de sua mulher e filha. “Tenho uma família incrível, que me inspira e dá força demais. Tive duas sortes: uma foi encontrar Rita, minha mulher. A outra foi ela me dar de presente uma miniatura sua, que é Valentina, nossa filha.” Para desavisados, Fabio Seidl informa que a grande atriz Bia Seidl é sua tia. “Tem uma coisa legal entre mim e Bia. Ela é a filha mais nova da minha avó e a diferença de idade dela para minha mãe é quase a mesma que existe entre a minha e de Bia. Então, temos uma relação meio de irmão também. Estamos sempre em contato. Recentemente, a ajudei com o projeto do livro que lançou, ‘Seminova’. Fiquei feliz com o sucesso dela na Record com a novela ‘Apocalipse’. Gosto quando ela faz papéis de vilã.”